Emprego supera economia e produtividade sai penalizada

O crescimento de 3% no emprego registado no terceiro trimestre do ano deverá, de acordo com a generalidade das estimativas, voltar a superar o crescimento da economia, prolongando a tendência dos últimos meses.

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A restauração tem sido um dos sectores a registar um maior aumento do emprego Nelson Garrido

O ritmo muito forte a que o emprego tem vindo a crescer durante este ano está a superar o próprio desempenho da economia, um regresso a uma tendência que, embora constituindo um sinal positivo de dinamismo no mercado de trabalho, significa também que se pode estar a assistir a uma redução da produtividade na economia portuguesa.

No terceiro trimestre deste ano, o número de pessoas empregadas registou um aumento de 3% face ao mesmo período do ano anterior. É um ritmo semelhante aos 3,2% do primeiro trimestre e aos 3,4% do segundo trimestre, confirmando que 2017 é, desde que o mercado de trabalho começou a recuperar em Portugal, o ano em que se regista um crescimento mais forte do emprego.

Este resultado não surpreende se se tiver em conta que a economia está a registar este ano as taxas de crescimento mais elevadas desde o ano 2000. Isto é, confirma-se o padrão histórico que mostra que, com mais crescimento da economia, vem também uma maior criação de emprego.

Contudo, aquilo que também é relevante neste caso é que o emprego está a crescer mais do que própria economia. No primeiro trimestre do ano, o PIB apresentou uma variação de 2,8% e no segundo de 2,9%, valores abaixo dos 3,2% e 3,4% do emprego, respectivamente. No terceiro trimestre, o aumento de 3% no número de emprego também deverá, de acordo com a generalidade das estimativas, superar o resultado da economia (que apenas será anunciado pelo INE na próxima semana). O próprio Governo, com a sua previsão de crescimento de 2,6% para o total de 2017, assume que se registará na segunda metade do ano um abrandamento nas taxas de variação homólogas do PIB, que deverão ficar abaixo do aumento de 3% conseguido no emprego.

O que isto significa é que, no decorrer de 2017, a aceleração da economia está a ser acompanhada por uma quebra dos níveis de produtividade por trabalhador. Em geral, as variações de produtividade estão relacionadas com as características do sectores onde o nível de emprego está a crescer mais. Se os empregos criados estiverem na sua maioria em sectores onde o factor trabalho é mais intensivo e a produtividade por trabalhador é mais baixa, o valor do rácio para o total da economia ressente-se.

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Neste caso, de acordo com os dados publicados esta quarta-feira pelo INE, o aumento de emprego registado nos últimos doze meses, encontra-se sobretudo nos serviços, com destaque particular para o sector do alojamento e restauração.

No total da economia, foram criados entre o terceiro trimestre de 2016 e o terceiro trimestre deste ano, mais 141 mil empregos. Este número é o resultado de uma perda de 37 mil empregos na agricultura e um acréscimo de 42 mil empregos na indústria e 130 mil empregos nos serviços.

Dentro dos serviços, o sector com um maior contributo foi, de longe, o do alojamento e restauração, onde foram criados 53 mil novos empregos nos últimos doze meses. Neste sector, que está claramente a beneficiar do aumento muito forte das entradas de turistas em Portugal, a variação homóloga do emprego ascendeu aos 18,1%, um valor muito mais alto do que a média de todos os sectores.

A descida a que agora se assiste na produtividade por trabalhador é algo que já tinha acontecido de forma bastante clara durante o ano de 2014. Nessa altura, ao mesmo tempo que a economia registava taxas de variação homóloga próximas de 1%, o crescimento do emprego andava na casa dos 2%. Em 2015 e 2016, os dois indicadores registaram uma maior convergência, com variações entre trimestres. No total, desde que o emprego começou a recuperar em Portugal, o balanço é o de uma perda de produtividade por trabalhador.

Este é o resultado inverso do registado quando a economia portuguesa se encontrava em profunda recessão, no período de 2010 a 2013. Nessa altura, o número de empregos caiu de uma forma ainda mais acentuada do que a economia, um fenómeno pelo qual as instituições da troika (em particular) confessaram ter sido surpreendidas. Nessa altura, os indicadores da produtividade registaram pelos piores motivos (uma crise no mercado de trabalho ainda maior do que na actividade económica) uma subida.

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