“Jack Dorsey aceitou o dinheiro da Rússia, eu não”

Um ano depois de ser surpreendida pela eleição de Donald Trump a presidente dos EUA, a Web Summit voltou à mesma sala, para falar com o director da campanha digital do republicano. Mas se era um pedido de desculpa que queria, não foi isso que ouviu

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Brad Parscale na Web Summit desta quarta-feira, um ano após a eleição de Trump LUSA/MIGUEL A. LOPES

O tema era sobre “o efeito Trump, um ano depois”, o orador era o norte-americano Brad Parscale, director para os meios digitais da campanha presidencial de Donald Trump, que levou o Republicano à Casa Branca a 8 de Novembro de 2016, e o entrevistador o norte-americano Michael Isikoff, jornalista há várias décadas e agora na Yahoo News. O palco – o central do Altice Arena – estava montado, a plateia da Web Summit não falhou à chamada.

Há precisamente um ano, foi uma Web Summit que acordou em estado de choque no Parque das Nações à vitória de Donald Trump. E que bateu palmas para as vozes mais críticas à eleição do candidato republicano mas, sobretudo, aos discursos mais nacionalista de alguns de que a América saberia enfrentar o desafio toda junta.

Um ano depois, o painel com Parscale começou como uma conversa, mas rapidamente se tornou num ajuste de contas, com Isikoff a aproveitar a ocasião para fazer uma entrevista insistente. O antigo director de campanha de Trump não se demoveu.

Parscale começou por explicar que, vindo da área de consumo, encarou o candidato Trump como um “belo produto” para venda. E, sem dinheiro de início, recorrer ao Facebook foi a opção. Acabaram por conseguir 380 milhões de dólares.

Além de recorrer à rede criada por Mark Zuckerberg, a equipa liderada por Parscale usou o Twitter e o Snapchat. E, garantiu, pediu a todos “por favor, ensinem-me a fazer isto”. Eles ensinaram, ele aprendeu.

Silicon Valley ainda tem republicanos

Quando questionado sobre as promessas que Trump ainda tem para cumprir um ano depois de entrar na Casa Branca, Parscale disse não só que o antigo empresário “ainda tem três anos para cumprir”. E houve palmas na plateia, testando a ideia que Silicon Valley é todo democrata e anti-trump.

Além disso, Parscale acredita que Trump terá um segundo mandato à frente da Presidência norte-americana. E aqui obteve risos.

O tom começou a subir, mas a conversa Parscale-Isikoff só passou a ter contornos de duelo (ou de jogo de ténis versão McEnroe-Borg, para quem a imagem ainda diz alguma coisa) quando o tema Rússia entrou no Altice Arena. O jornalista agora à frente da Yahoo News insistiu várias vezes com a recolha de informação da equipa de Parscale, confrontando várias vezes com uma fornecedora de tratamento de dados de origem russa que terá utilizado durante a corrida a Washington.

“Oiça, como qualquer outro, não quero que influenciem as eleições norte-americanas”, defendeu-se Parscale, mas dizer que essa suposta influência russa ditou o resultado das eleições nos EUA “não é possível”.

 Isikoff insistiu: e no caso em que a sua equipa, oficialmente, durante a campanha presidencial, retweetou um tweet cuja origem acabou por se provar ser de um “bot” russo?

A pergunta é “se acho que estou a definir o resultado (das eleições) por causa de um tweet? Não, isso e ridículo, é só um tweet. Não o apoio" ou subscrevo. "Jack Dorsey aceitou dinheiro da Rússia, eu não", referindo-se ao facto do Twitter, criado e liderado por Dorsey, ter aceite a publicidade russa como outra qualquer, como receita da rede de micro-mensagens.

“E lamenta tê-lo feito?”, questionou Isikoff a procura de um acto de contrição. “Não tenho pena, não”, foi a resposta que ouviu.

Ao final de 15 dos minutos mais tensos que a Web Summit ouviu até agora, Isikoff pediu dois conselhos de Parscale a Trump. O director de campanha não defraudou as expectativas. “Continue a tweetar”, aconselhou a Trump, e “empregue-me de novo em 2020” – para a campanha do segundo mandato do republicano na Casa Branca.

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