“O Governo português já está a pensar mais em voltar a aumentar a despesa”

Líder do PPE, o grupo de PSD e CDS no Parlamento Europeu, Manfred Weber, defende a sua família política: critica o executivo de António Costa e a solução parlamentar que lhe dá suporte.

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O alemão Manfred Weber tem 45 anos e milita na CSU, da Baviera Manfred Weber

Líder do Partido Popular Europeu — a maior bancada do Parlamento Europeu (PE) com 216 deputados, entre os quais os de PSD e CDS/PP —, o alemão Manfred Weber é hoje recebido em Belém, pelo Presidente da República. Após o encontro com Marcelo Rebelo de Sousa, desloca-se a Braga, onde decorre a reunião da presidência do grupo parlamentar do PPE. Weber falou ao PÚBLICO ainda em Bruxelas sobre a situação de Portugal e os desafios da União Europeia (UE).

Manfred Weber considera Portugal “uma das histórias de sucesso” da UE. “Tivemos uma grande crise, sabemos que as pessoas sofreram muito com os cortes e outras medidas. Mas vemos agora os resultados positivos.” O líder do PPE credita esse facto ao executivo anterior. “Foi o Governo de Passos Coelho que deu os passos necessários, após a enorme crise financeira. Agora o crescimento é estável e forte e o desemprego diminui. (...) “Para mim é óbvio que, durante o período da crise, os partidos do PPE [PSD e CDS] que governavam Portugal deram os passos, impopulares mas necessários, que tinham por objectivo trazer o crescimento de volta. E funcionou.”

Weber aponta depois baterias ao executivo socialista, liderado por António Costa. “O Governo actual já está a pensar em voltar a aumentar a despesa e em distribuir os benefícios do desenvolvimento [alcançado]”, critica. O dirigente democrata-cristão de 45 anos sublinha que, depois do “período difícil, de cortes e de controlo do défice”, o líder do PSD ainda ganhou as eleições, “o que foi um sucesso político incrível”. Weber diz respeitar os resultados eleitorais, que ditaram a actual relação de forças no Parlamento, mas considera que “o normal teria sido um governo de coligação com os socialistas” liderado pelo presidente do PSD. E critica a solução governativa encontrada pelos socialistas portugueses. “Vimos os socialistas a organizarem uma cooperação pouco saudável, porque são pró-europeus e os partidos de extrema-esquerda são cépticos e mesmo antieuropeus.” “Uma força pró-europeia como o PS estar nas mãos dos antieuropeus que são contra os valores em que acreditamos não é uma situação política estável nem saudável.”

O político alemão dá exemplos do que considera a influência negativa do PCP e do BE na governação. Primeiro, a situação orçamental que, considera, “está a piorar em Portugal”. “A questão de que o Orçamento já não é tão credível e estável é um dos sinais alarmantes que vemos.” Na área das relações externas, Weber menciona a questão das sanções contra o regime de Nicolás Maduro. “Dois países, Grécia e Portugal, opuseram-se a isso no início do debate e perdemos meses para reagir ao que se passava na Venezuela. A única razão foi que, nestes dois países, os comunistas e antieuropeus tiveram influência nas decisões do Governo.” “O resto da Europa estava unida para dar uma resposta apropriada aos ataques à democracia na Venezuela, mas Portugal e Grécia travaram a iniciativa durante alguns meses.” Afirma que o impasse acabou por ser superado, mas lamenta que se tenham criado “muitos problemas”.

Em relação ao nível da dívida portuguesa, Manfred Weber diz que “a situação não é crítica, mas há alguns sinais preocupantes”. E apela a António Costa “para não desperdiçar o que foi conseguido nos últimos anos” do ponto de vista orçamental.

Questionado sobre quem deve ser o próximo presidente do Eurogrupo, recorda que o Parlamento Europeu não desempenha nenhum papel nessa eleição, mas avisa que é necessário “clareza, estabilidade e liderança”. Sobre o nome de Mário Centeno para o posto responde: “Se o ministro português quer ser presidente do Eurogrupo, tem de demonstrar que está a fazer um bom trabalho em casa, respeitando as regras e os critérios.” E reitera que vê “sinais preocupantes em relação ao Orçamento para 2018 e futuros”.

Weber acompanhou as notícias sobre os incêndios deste ano em Portugal e considera-os “uma catástrofe”. “Vimos que o Estado não foi capaz de gerir de forma apropriada [a situação].” Promete que o PPE apoiará as medidas de solidariedade para Portugal e a criação de uma verdadeira força europeia de protecção civil.

A direcção do grupo do PPE vai reunir-se três dias em Braga, para definir a estratégia política para os próximos dois anos, incluindo as eleições europeias, dando prioridade a temas como a economia, a crise migratória e a segurança. O PPE quer evitar a contaminação da campanha das eleições para o Parlamento Europeu por temas nacionais. Aposta em voltar a ser o grupo mais votado, em renovar a aliança com os liberais e quer evitar que os extremistas e populistas bloqueiem o funcionamento da próxima câmara.

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