Democratas obtêm vitórias importantes um ano depois da eleição de Trump

A vitória na Virgínia é o paradigma de como os resultados das eleições estaduais podem ser um forte aviso ao Presidente e podem ameaçar o domínio republicano no Congresso.

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A vitória dos democratas na Virginia é o grande paradigma das eleições estaduais Reuters/AARON P. BERNSTEIN

Depois de um ano de dúvidas, recriminações e falhas nas eleições especiais para o Congresso, os democratas finalmente obtiveram grandes vitórias nas eleições estaduais que desejavam tão ansiosamente, numa altura em que se completa um ano desde que Donald Trump ganhou a presidência.

A Virginia é o exemplo claro da recuperação azul (a cor do Partido Democrata): o candidato republicano Ed Gillespie perdeu contra o democrata Ralph Northam e não foi por uma unha negra: 53,9% contra 44,9%. No estado de Nova Jérsia, o democrata Phil Murphy venceu o republicano Kim Guadagno. O mayor democrata da cidade de Nova Iorque também foi reeleito confortavelmente. 

Os republicanos acordam nesta quarta-feira num pesadelo: de repente, o controlo total do Congresso, que será disputado dentro de um ano, pode estar sob ameaça. As baixas taxas de aprovação da Trump parecem tóxicas. E poderia ser muito mais difícil convencer os candidatos históricos a correr - e recrutar pessoas para corridas de lugares abertos - num ambiente tão difícil.

A Virginia é o paradigma das vitórias democratas, também pelo facto de ali ter sido eleito, pela primeira vez, um deputado transgénero (para o Congresso estadual). Mas sobretudo pelo facto de o candidato republicano ter encarnado todas as bandeiras e tácticas de Donald Trump e mesmo assim ter falhado. Numa campanha marcada pelo debate sobre imigração, crime organizado ou até pela polémica da remoção das estátuas de heróis militares da confederação (que perdeu a guerra civil), Ed Gillespie acabou por ter uma derrota pesada.

“A Virgínia enviou uma forte mensagem de que a divisão ao estilo Trump - colocando pessoas contra as pessoas - não é o caminho da Virgínia. Essa não é o estilo americano”, disse o senador democrata da Virgínia e candidato a vice-presidente, Tim Kaine, na festa da vitória de Northam, citado pela BBC.

Trump tentou, através do Twitter, descolar-se do candidato: “Ed Gillespie trabalhou duro, mas não me compreendeu nem ao que eu defendi. Não esquecer: os republicanos ganharam quatro dos quatro lugares da Câmara dos Representantes e com a economia a atingir números recorde, continuaremos a ganhar, ainda maiores do que antes!”.

Mas os analistas apontam precisamente Donald Trump como o grande responsável pelos resultados de terça-feira. As sondagens sustentam essa análise: a taxa de aprovação do Presidente entre os eleitores da Virgínia foi de apenas 42%, em comparação com uma taxa de desaprovação de 58%. Ainda mais importante, dos 50% de cidadãos deste estado que disseram que Trump foi um factor importante no seu voto em 2017, os que o quiseram fazer como sinal de oposição foram o dobro dos que quiseram dar um sinal de apoio.

“O problema que os republicanos têm de enfrentar é este: Trump e o trumpismo são claramente um problema no eleitorado em geral, mas o Presidente continua a ser uma figura extremamente popular dentro dos elementos mais conservadores do partido, que tendem a decidir as nomeações primárias”, escreve o analista político e editor da CNN, Chris Cillizza.

“Esse enigma vai ser extremamente problemático para os republicanos enquanto tentam navegar entre as primárias nos próximos dez meses e as eleições intercalares de 2018. Para ganhar a indicação do Partido Republicano, um candidato deve aproximar-se o mais possível de Trump. Mas, uma vez ganhas as primárias, essa conexão próxima - ou mesmo não tão próxima - pode abater o candidato entre os eleitores gerais”, conclui.

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