Críticas ao autarca põem em risco continuação do director do Teatro Sá da Bandeira

Pedro Barreiro teceu duras críticas a Ricardo Gonçalves durante a campanha eleitoral. Os comentários não agradaram ao autarca que revelou a intenção de não renovar o contrato que o director artístico do teatro tem com a câmara.

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Câmara faz depender a avença da nova política cultural do município PEDRO CUNHA

A notícia chegou-lhe pela comunicação social. Pedro Barreiro, director artístico e programador do Teatro Sá da Bandeira, que pertence à autarquia de Santarém, soube pelo jornal O Mirante que a câmara tinha a intenção de não lhe renovar a avença que tem desde Janeiro de 2015 e que termina no final do mês

Em causa estarão as duras críticas que o actor e encenador fez na sua página de Facebook, durante o período de campanha eleitoral das autárquicas, à gestão do autarca social-democrata Ricardo Gonçalves que, como este último fez saber àquele jornal, não foram do seu agrado. 

A 31 de Outubro, em declarações a O Mirante, o presidente da câmara de Santarém dava conta da intenção de não renovar a avença (recibos verdes) a Pedro Barreiro, já que pretendia “dar um novo rumo ao Teatro Sá da Bandeira”.

Questionada pelo PÚBLICO, a autarquia, após várias insistências, apenas referiu que a “renovação desta prestação de serviço ficará dependente da estratégia cultural do novo executivo municipal”. Recorde-se que Ricardo Gonçalves foi reeleito com maioria absoluta, mantendo Inês Barroso como vereadora da Cultura.

“As razões evocadas para a não renovação da avença nada têm que ver com uma análise sobre o meu trabalho, mas sim com a opinião que dei em período eleitoral e não lhe [ao autarca] ter pedido desculpas pela opinião que manifestei”, referiu ao PÚBLICO Pedro Barreiro, que é filho do então candidato socialista e actual vereador Rui Barreiro (que já foi autarca daquele município e secretário de Estado das Florestas no último Governo de José Sócrates). E notou não ter ainda recebido “qualquer informação oficial, nem sequer um desmentido” dessa decisão, por parte da autarquia. 

O actor e encenador de 30 anos contou ainda que marcou uma reunião com o autarca “dois dias depois das eleições” para “tratar de assuntos” do teatro, em particular de três espectáculos que estavam em risco de ser cancelados.

“Quando comecei a reunião a tentar encontrar soluções para o não cancelamento dos espectáculos, aquilo que o presidente da câmara me disse é que não queria saber daquilo para nada e que estava à espera que apresentasse a demissão ou lhe pedisse desculpas”, referiu o actor.  

“[Pedro Barreiro] Não fez uma coisa nem outra”, admitia Ricardo Gonçalves a O Mirante, referindo-se a essa ocasião e justificando, assim, a intenção de afastar o programador do teatro. Após várias tentativas, o PÚBLICO não conseguiu chegar à fala com o autarca.

Durante a campanha, Pedro Barreiro utilizou o Facebook para criticar duramente a gestão social-democrata e as suas “políticas de empobrecimento, desprezo e abandono que têm sido praticadas nos últimos anos”. E, ainda, para apelar ao voto na candidatura socialista que era encabeçada pelo pai: “Santarém pode e deve ser muito melhor! Não nos podemos compadecer com a mediocridade de Ricardo Gonçalves e do PSD na Câmara Municipal”, escreveu a 21 de Setembro. 

“A minha posição pública tinha a ver com uma análise que eu fazia à gestão municipal como munícipe de Santarém e manifestei-a em período eleitoral. Uma pessoa é livre de emitir as suas opiniões sem temer por represálias”, vincou, admitindo que sempre criticou as políticas culturais seguidas pela autarquia nos últimos anos. 

Pedro Barreiro, que é licenciado em teatro pela Escola de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa e mestre em Artes Cénicas pela Universidade de São Paulo, no Brasil, admitiu ainda ter conhecimento de que o processo para a renovação da avença estaria “já a decorrer” e que agora “está parado”. 

“Tendo em conta que os procedimentos para renovação de avença demoram algum tempo e não me pediram dados, creio que se verificará, sem aviso prévio, a não renovação e o término da minha prestação de serviços como director artístico do teatro no final deste mês pela única razão até agora invocada: delito de opinião”, rematou.      

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