Os “stickers” colaram e vão inspirar um leilão solidário no Porto

Os autocolantes saltaram dos postes e das capas de computador para dez tábuas de skate que vão ser leiloadas no BECUH. Podes enviar os teus stickers até 20 de Novembro

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Erik Ringsmuth/ Unsplash

À volta de uma mesa, num beco atrás da estação de comboios de São Bento, estão três artistas a montar uma exposição a três mãos. A ideia é expor e leiloar, naquele BECUH, dez tábuas de skate cobertas de uma ponta à outra com autocolantes de autor. E, por isso, Pablo Hernandéz (Peipegata), Tiago Gomes (Godmess) e João Kendall (719) andam à procura de artistas que enviem “os stickers que têm perdidos na gaveta das meias”, até 20 de Novembro.

Para já, receberam cerca de 40 embalagens do Brasil, Alemanha, Espanha, Estados Unidos da América, Itália, França, Grécia, Portugal e Canadá. “O suficiente para preencher sete tábuas, à vontade”, diz Pablo Hernandéz, um dos responsáveis pela Stickem, um projecto online sobre a cultura dos stickers. “Temos recebido uma variedade imensa: tanto recebemos do pessoal do graffiti que faz tags em papel autocolante, como malta de Belas Artes que faz stickers à mão incrivelmente bem pensados e estruturados, e outros que fizeram autocolantes especificamente para esta exposição.”

“Mas", desafia o arquitecto espanhol, "ainda queremos mais porque há muitas outras coisas que queremos fazer”. Como vender packs com cerca de cinco autocolantes, colar outros pela cidade, preencher no BECUH “a parede mutante que se pinta com cada artista que está na exposição mensal”. As ideias são muitas até porque, antes de Pablo Hernandéz ter apresentado a proposta a Tiago Gomes, um dos fundadores do espaço na Rua da Madeira, e João Kendall, do Porto Walls Forever, “ainda não tinha existido [o plano de realizar] uma exposição de stickers no Porto”, relembra Godmess. Vai tornar-se realidade quando a Sticker International Solidary Combo inaugurar, a 1 de Dezembro, e ocupar o “espaço mutante” dedicado à arte urbana, até ao dia 10.

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Já há uma tábua de skate repleta de autocolantes de Shepard Fairey, o famoso Obey

A licitação base para cada tábua está estabelecida entre os cinco e os dez euros. O valor total das vendas vai reverter a favor de uma ou mais associações de apoio a sem-abrigo ou a crianças em risco. Ainda não decidiram em concreto qual, o que sabem é que vai ser uma organização “daqui, sempre da cidade”. “Porque isso é o que nós queremos, que se reflicta sempre na nossa comunidade”, diz Godmess, relembrando que já a primeira exposição do BECUH, a Pocket Art, teve um cariz solidário.

Brincamos ou colamos autocolantes?

Dentro da arte urbana, Pablo e João só fazem autocolantes; já Tiago assina outras obras de grande dimensão. “Há muita malta no Porto ligada ao graffiti que faz autocolantes. Tal como há malta de design sem qualquer outro trabalho de rua que faz autocolantes, ou malta de ilustração, de Belas Artes ou que faz tatuagens", enumera João Kendall. No Porto, “pessoal que só faz autocolantes" contam-se “pelos dedos das mãos”.

Noutros países da Europa, porém, a história é outra. “Tu andas pelo Porto e reparas que a maior parte dos autocolantes que aparece por aí é de pessoal de fora muitos vêm da Alemanha e muitos de Espanha até porque estas pessoas criam ligações entre si e têm já estruturada uma ideia de troca para ter autocolantes nos continentes todos”, observa João. “Ainda a semana esteve cá malta da Alemanha, de Berlim e de Hamburgo, que cobriu a cidade de uma ponta à outra.”

Por isso é que os organizadores estão à espera de “interesse” na exposição, mas também de “estranheza”. “Eu acho que vão estranhar”, confessa Tiago Gomes. “Acho que a nível do movimento da street art aqui do Porto, e até nacional, vai ser uma coisa incrível porque não existe nada”.

Pablo não receia nenhuma destas reacções: “A ideia é chamar a atenção e mostrar que a street art não é só pintar grandes murais, também pode ser coisas pequenas”. Que também nos fazem olhar duas vezes para uma parede. Ou, neste caso, para tábuas de skate.

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