Dinheiro de offshore ajudou a financiar ataques de Bannon a Hillary Clinton

Robert Mercer, o magnata que ajudou Trump a ganhar as eleições presidenciais nos EUA, usou um paraíso fiscal das Bermudas para evitar impostos nos EUA e financiar o livro Clinton Cash, que deu um rude golpe à candidatura de Clinton.

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JOSHUA ROBERTS

Cerca de meio ano antes de antes de ajudar Donald Trump a ganhar as presidenciais norte-americanas, Steve Bannon deu o tiro de partida para uma campanha implacável para retratar Hillary Clinton, a candidata do Partido Democrático, como corrupta. O homem que acabria por se tornar estratega-chefe de Trump na Casa Branca publicou um livro – Clinton Cash – em Maio de 2015, onde acusava Clinton de vender favores em troca de doações para a sua fundação. No centro da acusação, a venda à Rússia de uma empresa de urânio, operação que ainda recentemente deu origem a mais um inquérito.

Agora, é outra fundação a ter os seus esquemas financeiros alvo de atenção – a que financiou o livro de Bannon. Segundo noticia esta terça-feira do jornal britânico The Guardian, documentos revelados no âmbito da investigação aos chamados Paradise Papers e registos públicos obtidos pelo diário mostram como o bilionário Robert Mercer construiu uma espécie de saco azul de 60 milhões de dólares para financiar causas conservadoras na política norte-americana, recorrendo a um veículo de investimento offshore sediado nas Bermudas para evitar pagar impostos nos EUA.

Segundo o The Guardian, que integra o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, na sigla inglesa) que investiga os Paradise Papers, Mercer, de 71 anos, surge como director de oito empresas sedeadas nas Bermudas entre os milhões de documentos investigados, entre os quais se encontra uma cópia do passaporte americano do executivo e outros dados privados.

Algumas das empresas das Bermudas referidas parecem ter sido usadas para evitar legalmente um imposto americano pouco conhecido, cuja taxa pode atingir os 39%, em dezenas de milhões de dólares em lucros acumulados pela fundação da família Mercer, que financiou o livro de Bannon.

Mercer, que recusou responder às perguntas do jornal britânico, é uma das figuras mais influentes do conservadorismo norte-americano, tendo doado pelo menos 41 milhões de dólares a campanhas eleitorais republicanas. Foi um dos principais financiadores das campanhas presidenciais de Trump e do senador Ted Cruz, do site de propaganda Breitbart News e do polemista Milo Yiannopoulos, com quem cortou laços há poucos dias perante o somatório de acusações de racismo e extremismo de que é alvo.

Congresso lançou inquérito com base nas suspeitas de Bannon

A investigação do The Guardian mostra também que a família Mercer, através da sua sua fundação, doou entre 2013 e 2015 um total de 4,7 milhões de dólares ao Government Accountability Institute, uma instituição fundada em 2012 por Bannon e Peter Schweizer, o autor de Clinton Cash.

O livro de Bannon dissecava alegadas doações à fundação que Hillary Clinton liderou com o marido Bill, ex-Presidente dos EUA, em particular as que teriam sido feitas por executivos de empresas mineiras com vista a auxiliar a venda lucrativa de uma empresa de urânio a uma companhia estatal russa de energia. Estas acusações acabariam por atrair a atenção da imprensa norte-americana, o que representou um rude golpe na candidatura da antiga chefe da diplomacia norte-americana.

Investigadores do FBI que analisaram as actividades da fundação Clinton assumiram mais tarde que basearam suas suspeitas em detalhes divulgados em no livro de Bannon, apesar da própria editora da obra ter corrigido vários erros relevantes relativos às finanças dos Clinton, incluindo uma informação que constaria de um comunicado de imprensa forjado. O livro continua a produzir efeitos até hoje. Em Outubro, as duas câmaras do Congresso norte-americano a lançarem um novo inquérito ao negócio do urânio com base na história lançada pelo antigo estratega-chefe de Trump apoiado finaceiramente por Mercer.

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