Nova Deli sufoca debaixo de nuvem de poluição

Concentração de poluentes atingiu níveis acima dos máximos previstos nas tabelas oficiais. Emergência de saúde pública levou ao encerramento de escolas.

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Muitas pessoas só arriscaram sair à rua de máscara SAUMYA KHANDELWAL/Reuters

Nova Deli, a capital mais poluída do mundo, acordou sufocada por uma densa bruma, mistura de nevoeiro, fumo e gases tóxicos, encurralando milhões de pessoas naquilo a que o chefe do governo local comparou a uma “câmara de gás”. Uma emergência de saúde pública que levou as autoridades a encerrar escolas e encheu os hospitais de pacientes com doenças respiratórias.

Os números são ainda mais assustadores do que as imagens tiradas na capital indiana, onde o denso nevoeiro acastanhado tapou edifícios e estradas e muitas pessoas só arriscaram sair à rua de máscara.

A meio da manhã, o Índice de Qualidade no Ar, que mede a concentração de partículas poluentes, superava o nível 450 (“grave”) em grande parte das estações da capital, muito acima dos 100 considerados perigosos para a saúde pela agência de controlo ambiental indiana. Nalgumas zonas, a poluição no ar superava mesmo os máximos previstos nas escalas oficiais – um medidor em tempo real da embaixada norte-americana atingiu os 999, o limite da leitura. O equivalente a fumar 50 cigarros num único dia, explicou à Reuters Arvind Kumar, director do serviço de cirurgia cardiotorácica de um hospital de Nova Deli.

A situação é ainda mais alarmante porque a bruma esconde concentrações muito elevadas das partículas inaláveis PM 2.5, poluentes muito finos que conseguem atravessar as barreiras naturais do corpo humano e que podem incluir cancerígenos como o chumbo ou o mercúrio. Em algumas zonas foram detectados 710 microgramas de PM 2.5 por metro cúbico, 11 vezes o limiar considerado seguro pela Organização Mundial de Saúde.

“Esta é uma situação de emergência pública, as escolas devem ser encerradas. Precisamos de baixar estes valores que estão a encurtar a nossa vida”, disse o doutor Kumar. Ao final do dia, depois de vários alertas, o governo da capital indiana aceitou fechar as escolas para as crianças mais novas e proibir as actividades ao ar livre nas restantes e anunciou que, se a situação piorar vai proibir a entrada na capital de camiões, suspender actividades de construção e limitar o número de carros autorizados a circular. Medidas testadas há um ano, quando a poluição na capital indiana atingiu valores máximos em 20 anos, sem que muito tenha mudado desde então.

Nova Deli foi classificada pela OMS como a capital mais poluída do mundo, à frente de Pequim, e um estudo publicado em Outubro na revista Lancet concluía que a poluição foi responsável por 2,5 milhões de mortes no país só em 2015.

E a situação piora com a chegada do Inverno, quando a descida das temperaturas, aliada a ventos menos intensos e à elevada humidade mantém mais próximo do solo os poluentes libertados pela circulação automóvel, as industrias pesadas, as poeiras da construção. A isto juntam-se as tradicionais queimadas que os agricultores dos estados vizinhos fazem para preparar o solo para as culturas do Inverno e o fogo-de-artifício que toma conta da capital durante os festejos do Diwali, uma das principais festividades hindus.

“Parece que estamos na Europa numa manhã de nevoeiro em pleno Inverno”, disse ao Guardian Elizabeth Pennel, uma advogada australiana residente em Deli. “Até seria romântico se não fosse ser um nevoeiro de PM 2,5.”

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