Renováveis: Europa tem de abrir cordões à bolsa para não ficar para trás

Presidente do Parlamento Europeu diz que a Europa tem de criar o enquadramento necessário para as empresas investirem em energias limpas, mas também tem de “deitar mãos à obra para o próximo orçamento”.

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ADRIANO MIRANDA / PUBLICO

Regras claras para que as empresas europeias se sintam estimuladas a investir e um orçamento da União Europeia à altura das circunstâncias. A mensagem transmitida pelo presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, numa conferência sobre financiamento em energias limpas, realizada esta terça-feira no Parlamento Europeu, não poderia ser mais clara: “Precisamos de dinheiro”. São necessários pelo menos 400 mil milhões de euros por ano (mais 177 mil milhões do que estava inicialmente estimado), até 2030, para cumprir os objectivos europeus de descarbonização da economia.

“É preciso criar um quadro legislativo estável para os operadores fazerem investimentos com retorno de longo prazo”, afirmou Tajani, mas também “deitar mãos à obra para o próximo orçamento” da União Europeia, sublinhou o líder do Parlamento Europeu, num evento especificamente organizado para discutir as formas de financiamento das medidas do novo pacote legislativo da Comissão Europeia sobre a transição energética.

Apesar de destacar o papel fundamental dos privados nos investimentos ("nunca haverá dinheiro público suficiente", como destacaram nas suas intervenções o comissário europeu do emprego e crescimento, Jyki Katainen, e o presidente do Banco Europeu de Investimento, Werner Hoyer), Tajani também deixou claro que “um orçamento político, com objectivos políticos, é uma prioridade para o Parlamento Europeu”, e que para criar os 900 mil empregos no sector energético que a Europa ambiciona e manter o continente na liderança das renováveis, “o orçamento não deve vir apenas dos Estados-membros”, porque “esta é uma oportunidade que a Europa não pode desperdiçar”.

Já o governador do Estado da Califórnia – que tem em marcha um plano ambicioso de substituição das energias fósseis pelas energias renováveis e assinou acordos com a China e outros Estados norte-americanos depois de os Estados Unidos terem rasgado o acordo de Paris –  quis lembrar aos deputados europeus que “o principal problema às vezes não é o dinheiro, mas sim a visão”. Sublinhando que as alterações climáticas “são a maior ameaça existencial para o nosso futuro”, Edmond Jerry Brown, que lidera o Estado que mais investe em renováveis nos Estados Unidos, sustentou que os custos com problemas de saúde resultantes da poluição saem mais caros do que os investimentos na transição energética. Criar legislação que obrigue as eléctricas a comprarem energia de fontes limpas e permitir que, com isso, se estabeleçam contratos de longo prazo com os produtores, é uma das alternativas para das às empresas o quadro de estabilidade de que necessitam para investir, exemplificou o norte-americano.

Europa a várias velocidades

Mas, em paralelo com a visão mais agressiva de Edmond Jerry Brown, ficou em evidência que, também neste tema da transição energética, a Europa está longe de caminhar a uma só velocidade. Foi o antigo primeiro-ministro da Polónia, Jerzy Buzek, que preside à comissão parlamentar da indústria e energia onde estão a ser discutidas as propostas legislativas da Comissão, que pôs o dedo na ferida: “A situação é muito diferente na Dinamarca, onde a transição energética começou nos anos 80, e noutros Estados-membros que a começaram há dez, 15 anos”, frisou o responsável polaco. “É preciso encontrar uma fórmula” que permita “que a Europa no global vá avançando, mas isso não será possível em todas as regiões” ao mesmo ritmo, acrescentou Juzek.

 “Os Estados que ainda dependem muito do carvão e da indústria pesada [como a própria Polónia] precisam de um programa especial”, sublinhou Juzek. “A pergunta não é se queremos a transição energética: queremos. Mas temos de ter dinheiro para isso e não é tarefa fácil”, afirmou o antigo presidente do Parlamento Europeu. “Queremos objectivos ambiciosos, mas se forem exequíveis, ainda melhor”, afirmou o responsável polaco, dizendo que os Estados dependentes do carvão precisam de “um programa especial” e que a União Europeia tem de estar preparada para, “no próximo orçamento”, conseguir “assumir os custos sociais” da transição energética nestes países e para garantir “a aceitação social” das mudanças.

A jornalista viajou a convite do Parlamento Europeu

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