O Chico e o tipo moreno de ascendência indiana

Isto não quer dizer que o Chico seja racista. Mas o comentário é, e assim sendo porque é que o mesmo não foi apagado? É preciso coragem, Chico, a vida não é fácil

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Mas, ao invés de apagar o comentário, um daqueles comentários ditos por puro e simples narcisismo, porque as pessoas vão achar piada, porque eu sou "muitá bom", não, porque eu sou o maior, e se não sou vou ser (porque é isto que o fuças faz à gente), o Chico acrescenta uma adenda onde sublinha o seu afirmativo não ao racismo. Mais, afinal parece que o Chico não estava a falar do Magnusson, o jovem agredido a murro e pontapé por seis seguranças a semana passada na Urban, mas sim do Costa, ele próprio, o Primeiro, assim ironizando o desfecho de um caso no qual estamos todos, unanimemente, de acordo.

Pior a emenda que o soneto? Ou dois coelhos de uma cajadada só? Uma coisa é certa: o mal já estava feito porque o polegar do Chico, líder da Juventude Popular (o polegar, não o Chico), ditou um comentário sobre um caso onde a ironia não deve, nem pode, encontrar uma morada, não quando o Magnusson (o tal “tipo de ascendência indiana”) leva com um pontapé na cara enquanto deitado no chão, enquanto derrotado no chão, seguido de um salto a pés juntos sobre a própria cabeça numa clara tentativa de homicídio, a mesma tentativa de homicídio que só não passou despercebida graças às redes sociais, graças a nós, e antes desta tentativa de homicídio tantas outras, na Urban e em discotecas por esse Portugal fora, todas as sextas e sábados (sem esquecer as férias e feriados), quando por acaso até gostamos de música, de uns copos, de dançar, contigo e comigo, e de repente acabar tudo numa cama de hospital, ou nem isso, no rio mesmo ali ao lado, porque para estas bestas a vida nada vale, a deles e a nossa, e uma pessoa sem tempo de se despedir.

Isto não quer dizer que o Chico seja racista, e lá porque uma pessoa não gosta de ciganos isso não faz dela racista. Mas o comentário é, e assim sendo porque é que o mesmo não foi apagado? Todos cometemos erros Chico, eu cometo erros todos os dias, e todos os dias corrijo erros, reconheço, aprendo, peço desculpa, ando para a frente. E, aos poucos e poucos, faço de mim um homem. E, aos poucos e poucos, procuro morrer de pé. É preciso coragem, Chico, a vida não é fácil. E tu consegues. Aqui vai este abraço.

Mas há mais, porque afinal parece que o Magnusson foi à Urban para “gamar” os clientes prontamente alcoolizados depois de mais uma daquelas noites. E agora, Chico? Serão as agressões justificadas? Não me parece, e aqui estamos de acordo. Por isso a tua ironia, a do destino, ou não estivéssemos diante de um caso onde “um tipo de ascendência indiana” com o intuito de assaltar os clientes de uma discoteca leva ao encerramento da própria discoteca. Ah ah? Continuo a não achar piada. Desculpa, devo ser um pouco estúpido.

Se investigarmos um pouco, sem querer levantar demasiado o tapete, caso contrário nunca mais saímos daqui, ficamos a saber de uma entrevista dada pelo Chico ao Jornal i a 25 de Agosto de 2016, onde o Chico começa logo por nos brindar com um “o casamento, por génese, é entre um homem e uma mulher". "Causa-me algum pudor dizer um dia aos meus filhos que a ligação que me une à minha mulher é a mesma que une dois homens, porque os propósitos são diferentes”, diz, para logo de seguida acrescentar: “Sou francamente contra a adopção por casais homossexuais. O objectivo é reproduzir a filiação natural e nenhuma filiação é natural com duas pessoas do mesmo sexo”. E, claro, o Chico defende a criminalização do aborto. I rest my case, senão daqui a nada ainda ficamos a saber que o Chico também acredita como só recomeçou a chover porque Sua Eminência o Cardeal Patriarca de Lisboa nos pediu para rezar...

E, Chico, mesmo que te estivesses a referir ao Costa, não se chama “tipo” ao teu Primeiro-Ministro! Ainda para mais quando se tem pretensões.

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