Amadora BD: reportar em banda desenhada e não só

Sem se cingir ao norte-americano Joe Sacco, o nome mais sonante do género, a exposição central da 28.ª edição do Festival de Banda Desenhada da Amadora é dedicada à reportagem. O certame decorre até 12 de Novembro.

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Festival Amadora BD decorre até 12 de Novembro Miguel Manso
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No Fórum Luís de Camões, na Brandoa, Amadora, há dois pisos, o térreo e o de baixo, que se encheram de painéis, livros, desenhos e textos para a 28.ª edição do Amadora BD, o festival de banda desenhada da cidade, que abriu no dia 27 de Outubro e decorre até 12 de Novembro.

No piso por onde se entra, podem encontrar-se, por exemplo, uma retrospectiva de Nuno Saraiva, vencedor, na edição do ano passado, na categoria de Melhor Álbum Português nos Prémios Nacionais de Banda Desenhada (este ano, a honra coube a Deserto/Nuvem, de Francisco Sousa Lobo, que também ganhou o prémio de Melhor Álbum de Autor Português em Língua Estrangeira); uma exposição chamada Revisão - Bandas Desenhadas dos Anos 70, que comemora os 40 anos da revista Visão, com peças dessa década; e a exposição central deste ano: Contar o Mundo - A reportagem em banda desenhada.

A banda desenhada não é o formato que vem primeiro à cabeça quando se pensa em reportagens, mas essa abordagem tem vindo a ganhar espaço ao longo dos anos. Quem o diz é Sara Figueiredo Costa, jornalista e comissária da exposição que junta nomes que vão de Joe Sacco – o americano nascido em Malta cujos retratos do conflito israelo-palestiniano ou da guerra da Bósnia em livros de banda desenhada se tornaram famosos internacionalmente – a toda “uma série de outros autores a fazer trabalhos com esse rigor jornalístico”, do século XIX até aos dias de hoje.

“A presença da ilustração e da banda desenhada nos jornais foi-se mantendo de formas muito diferentes ao longo dos anos”, acrescenta a comissária. “Nos últimos anos, muito devido à publicação dos trabalhos de Joe Sacco e ao prestígio que ele granjeou junto dos seus leitores, houve uma espécie de novo fôlego para que jornais e revistas percebessem que, se calhar, a banda desenhada é uma boa forma de contar histórias”. “Em França, há uma revista que é totalmente dedicada à reportagem e a outros géneros jornalísticos na banda desenhada, La Revue Dessinée”, diz ainda Sara Figueiredo Costa.

São nomes como os norte-americanos Brooke Gladstone, jornalista e especialista no mundo dos media, e Josh Neufeld, com o livro The Influencing Machine (2011), que nos explicam as nuances e os problemas com a questão da objectividade no jornalismo. Um tema, aliás, bastante pertinente para a exposição no Amadora BD, em que vários autores assumidamente usam “um olhar mais subjectivo e individual”. Seja “porque participaram nos acontecimentos” ou têm uma posição sobre os assuntos de que falam, seja porque “quando um autor de banda desenhada ou um jornalista representa uma personagem através do desenho, já estamos a adicionar um grau de subjectividade”, nota Sara Figueiredo Costa.

O mesmo acontece com Jessica Abel e o seu Out On The Wire: The Storytelling Secrets of the New Masters of Radio, um livro de 2015 em que a também norte-americana procura, em entrevistas com quem faz disso profissão, descobrir como é que se contam histórias em rádio e donde vêm as narrativas.

Também o francês Constantine Guys desenhou e reportou, no século XIX, a Guerra na Crimeia para jornais britânicos e franceses, directamente do campo de batalha, o mesmo tendo acontecido com o seu compatriota Emmanuel Guibert, autor de Le Photographe, que foi um dos primeiros nomes pensados pela comissária, cuja pesquisa passou por revistas académicas, conversas com autores, além da consulta e cruzamento de obras.

Em Contar o Mundo - A reportagem em banda desenhada há também espaço para contributos portugueses neste género, com, por exemplo, Crime no Bolshoi, feito para a extinta revista 2 do PÚBLICO por Tiago Bartolomeu Costa e João Catarino, e um trabalho do ilustrador Eduardo Salavisa feito para o jornal i.

Até 12 de Novembro, poderá ver-se também, no piso -1 do Fórum, exposições de nomes como Jack Kirby (1917-1994), criador ou co-criador de um rol de personagens míticas da Marvel, do Capitão América a Hulk, passando pelos X-Men e pelo Quarteto Fantástico, que teve uma carreira que não se cingiu à colaboração com essa editora, e nem sempre correu bem. Também a pretexto do centenário do nascimento recorda-se Will Eisner (1917-2005), o criador de The Spirit e pioneiro da indústria de banda desenhada, numa exposição que só está montada desde sábado. Há ainda mostras da alemã Birgit Weyhe, dos portugueses Joana Estrela e Mário Freitas, da espanhola Ana Pez, dos brasileiros Marcello Quintanilha e Henrique Magalhães e do alemão Jan Bauer, entre outros.

Já a exposição Traços e Inspiração: A presença portuguesa no mercado norte-americano de BD evoca os nomes de autores portugueses que conseguiram desempenhar as mais variadas tarefas na indústria de banda desenhada além-Atlântico, com testemunhos em vídeo e pranchas. 

No programa do Amadora BD 2017 – e em espaços como a Galeria Municipal Artur Bual, os Recreios da Amadora ou a Bedeteca da Amadora –, maioritariamente ao fim-de-semana, continuará a haver lançamentos de publicações, conversas, visitas guiadas e outras actividades. 

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