Puigdemont será o candidato do seu partido, em liberdade ou detido

"Amnistia para os presos e a recuperação total das instituições” é o programa do PDeCAT para as eleições de 21 de Dezembro na Catalunha. O partido reuniu-se no dia em que o seu líder se entregou às autoridades belgas.

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Ao rosto dos dois Jordis juntou-se a agora a imagem dos oito membros do governo detidos em Espanha Andreu Dalmau/EPA

A dois dias do prazo legal para a inscrição de coligações candidatas às eleições autonómicas 21 de Dezembro na Catalunha, o partido de Carles Puigdemont decidiu em conselho nacional que quer que seja o líder destituído por Madrid e acusado de “rebelião” a “liderar uma grande lista nacional para o próximo 21-D, uma lista com todos os ‘presos políticos’”.

Ainda não havia confirmação, mas Puigdemont já estava sob detenção em Bruxelas, onde se entregou com os quatro ex-conselheiros da Generalitat que permanecem na cidade, às 9h17, quando a reunião do seu PDeCAT abria com aplausos e gritos de “presidente, presidente” e “liberdade”, em Barcelona.

“Com o programa do 21-D devemos procurar a liberdade com maiúsculas, a amnistia para os presos e a recuperação total das instituições”, defendeu Marta Pascal, coordenadora do Partido Democrata Europeu Catalão, arrancando aplausos entre os dirigentes reunidos. Ao lado de Pascal, o ex-presidente catalão, Artur Mas, justificava a necessidade de uma lista unitária pelo contexto “excepcional” que se vive na Catalunha.

Entretanto, por toda a Catalunha milhares de pessoas passavam a manhã a colar cartazes amarelos ilustrados com o rosto dos ex-conselheiros actualmente sob detenção e onde se pode ler “Liberdade presos políticos” e “Somos República”. O protesto central aconteceu na praça da Universidade, em Barcelona, mas a resposta à chamada para “encher de cartazes a Catalunha” chegou um pouco por todo o lado.

Era o protesto do dia, convocado pelas principais organizações independentistas, a Associação Nacional Catalã e a Òmnium Cultural, e que assinala o princípio da “semana da liberdade”. “Não vale desânimo nem derrotismo, temos de perseverar”, defendeu o vice-presidente da ANC, Agustí Alcoberro, o rosto da organização desde a detenção dos dois Jordis (Jordi Sànchez, presidente da ANC, e Jordi Cuixart, da Òmnium), a 16 de Outubro.

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Esta semana há duas datas chave, a greve geral marcada para quarta-feira,e a manifestação convocada para sábado, que os organizadores esperam ver transformada numa “autêntica Diada nacional para a liberdade”. Alcoberro sabe que é difícil antecipar uma mobilização idêntica à da Diada, a 11 de Setembro, quando se assinala a integração definitiva da Catalunha em Espanha. A cada ano, desde 2012, quando 1,5 milhões marcharam em Barcelona para pedir “um novo Estado da Europa”, estes protestos são organizados com meses de antecedência.

Sobra a Alcoberro e ao porta-voz da Òmnium, Marcel Mauri, a esperança que a indignação generalizada entre os independentistas face à prisão preventiva declarada para dois terços do governo (os restantes cinco estão em Bruxelas e ainda não sabiam se aguardariam em detenção ou liberdade a avaliação que a Justiça fará da ordem europeia de detenção e entrega emitida pela Audiência Nacional de Madrid) que elegeram compense a falta de antecedência.

"Governo forasteiro"

Tanto Alcoberro como Mauri voltaram a descrever as eleições de 21 de Dezembro como “ilegítimas”, por terem sido convocados por Mariano Rajoy no âmbito da aplicação do 155, o artigo da Constituição que permitiu a Madrid dissolver as instituições catalãs e assumir o poder na autonomia. Mas tal como os partidos independentistas, também estes responsáveis falam da ida às urnas como “um plebiscito à república e ao 155”. O que é preciso, defendem, é que os catalães se mobilizem para dar uma “resposta democrática, rápida e contundente” ao “governo forasteiro” que agora administra a Generalitat.

ANC e Òmnium têm pressionado todos os partidos soberanistas para que se comprometam a uma candidatura comum, como a que propõe o PDeCAT. A ERC, com o seu líder (e ex-vice-presidente catalão) detido e à frente em todas as sondagens, hesita em coligar-se ao PDeCAT e só admite integrar uma lista unitária se esta incluir a CUP (Candidatura de Unidade Popular) e parte do Podem, o sector representado por Albano Dante Fachim, que cortou com o líder nacional do partido, Pablo Iglesias.

Marta Pascal criticou a ERC por afastar uma reedição do Juntos pelo Sim, a coligação que venceu as eleições de 2015, e colocar como condição para aceitar uma lista única a participação de todas as formações soberanistas. “Nunca seremos nós a pôr obstáculos à lista única”, afirmou Pascal.

"Exercício de generosidade"

A autarca de Sant Cugat del Vallès e vice-presidente da Província de Barcelona e do Conselho Nacional do PDeCAT, Mercè Conesa, acredita que a ERC terá de fazer “um exercício de extrema generosidade” e optar por uma candidatura unitária contra a ofensiva de Madrid.

Já a CUP, que marcou para dia 12 uma Assembleia Nacional extraordinária onde a militância decidirá se o partido sequer se apresenta a votos, decidiu que vai inscrever antes de terça-feira uma “marca branca”, como forma de evitar ficar excluída de uma eventual lista única. O prazo para a inscrição de coligações acaba já no dia 7 de Novembro, mas qualquer partido pode decidir candidatar-se até dia 17.

Entretanto, na Catalunha, ninguém sabia se esperar acordado para saber o destino imediato de Puigdemont, Antoni Comín, Clara Ponsatí, Lluís Puig e Meritxell Serret, os conselheiros que se entregaram à polícia e foram ouvidos ao final do dia por um juiz. O magistrado tem até às 9h17 de segunda-feira para decidir se lhes permite aguardar em liberdade o desenrolar das diligências belgas para determinar se os enviam para Espanha.

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