Viajar pelas memórias que o país deixou ao abandono

A viagem faz-se de Norte a Sul do país, entre casas onde já ninguém habita, palácios amaldiçoados ou conventos que contam histórias. Lugares Abandonados de Portugal, de Vanessa Fidalgo, é uma colecção de memórias e lendas de espaços que, hoje, têm menos vida.

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Aviso prévio: a autora deste livro vive entre lendas, mistérios e lugares nos quais, à partida, não entrávamos facilmente. Lugares Abandonados de Portugal reúne em livro muitos dos lugares pelos quais passamos e nem ligamos. Parece ser contra esse desconhecimento face às histórias que ficaram por contar que Vanessa Fidalgo batalha ao longo do livro. São 46 viagens entre casas, palácios, estações de comboios e até conventos que se perderam no tempo ou escondem memórias menos recordadas.

Vanessa Fidalgo, jornalista do Correio da Manhã desde 1997, publica o seu quinto livro, mas há uma mudança em relação aos anteriores. Dispensou-se o oculto, as assombrações e a magia, para se dar lugar a um maior destaque a estas pequenas histórias que vivem no passado, entre locais míticos, como o forte de Santo António da Barra, onde Salazar caiu da cadeira, e maldições, como a que Dona Chica lançou sobre o seu próprio palácio.

O Palácio de Dona Chica, na freguesia bracarense de Palmeira, desenha a capa dos Lugares Abandonados de Portugal, um livro que pega em quase cinquenta espaços esquecidos de Norte a Sul do país, com a proposta de desvendar as histórias que só se contam entre quem conhece estes sítios.

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A abertura do livro é bem indicadora do que nos espera. Guiando-nos até Trás-os-Montes, a chegada à aldeia de Banzeres indica “um lugar triste e só”, mas que tem a sua própria história. E a primeira forma de explicar porque se fala desta aldeia transmontana é relembrar como se tirou a vida a este lugar: “Uma epidemia desconhecida dizimou, há cerca de cem anos, grande parte da população”. Às memórias (muitas delas tristes) falta juntar um ingrediente marcante da obra já publicada da autora: a lenda e o mistério. E não, Banzeres não se escapa às ‘histórias do arco da velha’, com portas que se abrem e fecham para proteger os seus. Mas, como escreve Vanessa Fidalgo: “Enfim, lendas de um povo com alma de poeta!”.

O livro constrói-se em torno de memórias, mas também da ausência, quer de movimento, quer dos sons que marcavam as paisagens que a escritora visitou. “A culpa foi do progresso. Parece uma frase típica dos ‘velhos do Restelo’, mas neste caso é a realidade das dezenas de estações de caminhos-de-ferro abandonadas que hoje se encontram dispersas pelo país. Por ali, a espera tornou-se eterna”, lê-se entre as mais de duzentas páginas que se enchem também da solidão a que se confinaram espaços que já foram locais vividos e cheios de vida.

A autora portuguesa não deixou de lado o mistério e as lendas neste novo livro, oferecendo-lhe, no entanto, uma espécie de guia para descobridores insaciáveis, que procuram contos de solidão, amor e desamor, ou simplesmente memórias destes lugares abandonados. Esta é uma boa oportunidade para entrar numa casa abandonada, afinal nestas páginas não há o risco de ser amaldiçoado.

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As sombras misteriosas de Lisboa

Múmias conservadas em criptas, cidades sepultadas, freiras que viveram como princesas, museus esquecidos no tempo, estátuas que não ficam quietas, um enigmático castelo, serpentes que guardam o futuro rei. É verdade, estamos a falar de Lisboa, a mesma cidade banhada por uma luz mágica e invulgar. Todos conhecem a cidade luminosa. Poucos conhecerão as sombras misteriosas que essa luz projecta. Lisboa Desconhecida e Insólita - Histórias que (provavelmente) nunca ouviu são acontecimentos históricos, insólitos e também as memórias de Anísio Franco, licenciado em História da Arte e conservador no Museu Nacional de Arte Antiga. Pedreiras que esconderam tesouros, fontes cobiçadas, capelas que são tesouros, museus esquecidos, casas que parecem colmeias...

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