Trump carrega no prato externo da balança comercial com a China

Casa Branca aqueceu o ambiente comercial com os chineses antes da visita do Presidente. Resultado pode ser uma redução do défice comercial, mais pela abertura da China do que por bloqueios nos EUA.

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O mandato de Trump tem sido marcado por vários sinais de conflito na batalha comercial entre os dois países CARLOS BARRIA

Donald Trump vai festejar o aniversário da sua eleição como Presidente dos Estados Unidos em Pequim, cidade onde aterra na próxima quarta-feira, dia 8 de Novembro. Mesmo antes de partir, Trump foi deixando avisos sobre o “embaraçoso” e “horrível” défice da balança comercial entre os dois países, em benefício da China. Mas, mais que impor tarifas às importações chinesas, o Presidente dos EUA deverá procurar estimular as exportações de empresas norte-americanas para o colosso asiático.

Na comitiva presidencial irão 29 empresas norte-americanas, com um peso importante dos sectores de matérias-primas, e que contará ainda com notáveis como o presidente-executivo da Goldman Sachs, Lloyd Blankfein, ou o presidente da Boeing, Kevin McAllister, entre outros. O secretário de Estado do Comércio, Wilbur Ross, confidenciou à Reuters que a visita, em que também participa, procurará alcançar “resultados imediatos” e “acordos tangíveis”, embora reconhecendo as dificuldades de convencer a China a libertar a sua economia em benefícios de companhias estrangeiras, no geral, e de norte-americanas, em particular.

Do lado chinês também já surgiram alguns sinais de pacificação em vésperas da viagem, com o embaixador nos Estados Unidos, Cui Tiankai, a sublinhar esta semana, perante jornalistas, estar “muito confiante que irão produzir-se resultados significativos nas frentes económica e comercial”. Isto porque, segundo o responsável, citado pelo jornal South China Morning Post, um excedente comercial “no longo prazo não irá ajudar a economia chinesa, poderá até prejudicar".

Os sinais de tensão

Apesar do eventual trabalho construtivo que possa ser feito no terreno, o mandato de Donald Trump tem sido marcado por vários sinais de conflito na batalha comercial entre os dois países, que já fez algum caminho desde a campanha eleitoral do ano passado, quando o ainda candidato republicano acusava a China de “violar a América” e de “roubar os empregos americanos”.

Um dos sinais mais consequentes da tensão com os chineses foi dado em Agosto, quando a agência governamental norte-americana responsável por gerir as relações comerciais com os parceiros internacionais anunciou, instruída pela Casa Branca, o arranque de uma investigação sobre as alegadas tentativas dos chineses para roubar propriedade intelectual de empresas americanas. Um processo que avançou (ainda sem desfecho) fora da Organização Mundial do Comércio, como seria natural, e que dá aos norte-americanos uma arma para usar à mesa das negociações comerciais, segundo sublinham vários observadores nos EUA.

O tema ganhou maior destaque quando Steve Bannon, o polémico aliado de Trump, alertou recentemente, em Hong Kong, que só é possível evitar uma guerra comercial entre os dois países quando a “China parar de se apropriar da nossa tecnologia”. Bannon é, aliás, um dos conselheiros mais agressivos de Trump na defesa da imposição de taxas à entrada de produtos chineses, tal como o consultor em assuntos de Comércio, Peter Navarro. Uma frente proteccionista que já conseguiu mesmo que o Departamento do Comércio impusesse, no último fim-de-semana, uma tarifa anti-dumping ao alumínio chinês, provocando uma reacção forte da China, que classificou a medida como “fortemente insatisfatória”. Um episódio enquadrado, dias antes, por uma troca azeda de palavras entre responsáveis dos dois países acerca do estatuto da economia chinesa, com os americanos a manterem-na fora da categoria de mercado e Pequim a acusá-los de “distorcerem os factos”.

Apesar de todos estes sinais de tensão, Bannon e Navarro estão fora do avião presidencial nesta visita, que tem então como pano de fundo o “embaraçoso” e “horrível” défice comercial de 347 mil milhões de dólares (300 mil milhões de euros) dos Estados Unidos, resultante de importações chinesas de 463 mil milhões de dólares e exportações para a China de 116 mil milhões (números de 2016). E é este segundo valor que deverá estar na mira da comitiva que viaja com Trump, seja através da abertura de capitais em empresas chinesas, seja através da flexibilização das barreiras à entrada de produtos americanos. O economista-chefe do Barclays, Jian Chang, resume, citado pela CNBC, a questão: “Em termos práticos, o objectivo dos EUA passa mais por melhorar as exportações para a China do que necessariamente por reduzir as importações da China.”

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