Teatro

O ponto está em vias de extinção no teatro, mas agora conseguimos vê-lo

Sopro, o novo espectáculo criado por Tiago Rodrigues, põe em palco Cristina Vidal, ponto profissional no Teatro D. Maria II.

São uma espécie em vias de extinção. Na Europa praticamente não existem. Em Portugal, já só existem dois pontos profissionais, ambos a trabalhar no Teatro D. Maria II. Cristina Vidal é um deles, uma testemunha privilegiada da história e da memória do teatro nacional que acumula nos seus quase 40 anos de profissão. Conheceu o lugar do ponto ainda miúda, no tempo em que um familiar a levava ao teatro e aí tinha de permanecer durante os espectáculos para evitar o controlo etário. Durante décadas, os bastidores foram o seu espaço de conforto. Até que, em 2017, Tiago Rodrigues lhe fez uma proposta que não conseguiu recusar.

Em Sopro, o espectáculo criado pelo director do Teatro Nacional e que estará em cena até 19 de Novembro, Cristina Vidal está permanentemente em palco, soprando o texto aos restantes cinco actores e materializando uma sensação que Tiago Rodrigues descreve como "uma espécie de sustento do outro". A ideia de que trabalhar com um ponto "é saber que, mesmo que nesse dia não tenha soprado uma palavra, uma parte daquilo que conseguimos fazer deve-se à sua presença silenciosa", acrescenta o encenador. "Um pouco como um salva-vidas na praia: o bom dia é aquele em que não tem de ir à água mas nós queremos nadar numa praia em que ele está a vigiar."

O património imaterial que Cristina Vidal representa acabou por ser fundamental em Sopro, e por isso mesmo Tiago Rodrigues revela que ela é a "fonte de tudo" neste espectáculo — ainda que não seja de forma alguma um texto biográfico sobre esta ponto. Na verdade, Cristina acredita que esta "é uma homenagem aos trabalhadores de teatro que trabalham na sombra", aqueles que a maior parte das pessoas nem sequer sabe que existem e que "trabalham arduamente e com grandes sacrifícios porque amam o teatro — porque trabalhar no teatro sem amor não é possível."