Theresa May, a primeira-ministra conservadora dos sapatos leopardo

Para a governante britânica a moda é um interesse e uma arma política. Theresa May é a nova imagem do power dressing.

Fotogaleria
May durante uma conferência do partido conservador, em Outubro de 2005 REUTERS/Darren Staples
Fotogaleria
Durante um discurso numa conferência, em Setembro de 2015 Reuters/DARREN STAPLES
Theresa May leaves Buckingham Palace after an audience with Britain's Queen Elizabeth where she was invited to become Prime Minister in London, July 13, 2016. REUTERS/Dominic Lipinski/Pool
Fotogaleria
Theresa May é convidada a assumir o cargo de primeira-ministra, pela Rainha Isabel II, em Buckingham Palace, em Julho de 2016 Reuters/POOL
Britain's Prime Minister Theresa May walks after being welcomed by German Chancellor Angela Merkel before the G20 leaders summit in Hamburg, Germany July 7, 2017. REUTERS/Wolfgang Rattay     TPX IMAGES OF THE DAY
Fotogaleria
Depois de uma reunião com a chanceler alemã Angela Merkel, antes da reunião do G20, em Hamburgo, em Julho de 2017 Reuters/WOLFGANG RATTAY
Fotogaleria
Theresa May durante um momento de campanha, em Junho de 2017 REUTERS/Scott Heppell
Britain's Prime Minister Theresa May and her husband Philip arrive at the Conservative Party conference in Manchester, October 4, 2017. REUTERS/Hannah McKay
Fotogaleria
Theresa May, ao lado do marido Philip May, à chegada da conferência do partido conservador, em Outubro de 2017 Reuters/HANNAH MCKAY
Fotogaleria
A primeira-ministra teve um ataque de tosse durante a conferência do partido conservador, em Outubro REUTERS/Hannah McKay
German Chancellor Angela Merkel and Britain's Prime Minister Theresa May arrive for a statement prior to a meeting at the chancellery in Berlin, Germany, November 18, 2016.   REUTERS/Michael Sohn/Pool
Fotogaleria
Antes de uma reunião com a chanceler Angela Merkel, em Berlim, em Novembro de 2016 Reuters/POOL
Fotogaleria
Numa visita a Manchester, em Outubro de 2017 REUTERS/Hannah McKay
Britain's Prime Minister Theresa May and her husband Philip, arrive at church in her constituency near Reading, Britain, October 8, 2017. REUTERS/Peter Nicholls
Fotogaleria
Theresa May e o marido Philip Hammondà chegada de uma igreja, em Outubro de 2017 Reuters/PETER NICHOLLS
Fotogaleria
Theresa May (na altura ministra do interior) espera a chegada do do presidente do Mexico Enrique Pena Nieto, ao lado da Rainha de Inglaterra, em Março de 2015 REUTERS/POOL/Leon Neal
U.S. President Donald Trump looks down at a bust of former British Prime Minister Winston Churchill  while meeting with British Prime Minister Theresa May at the White House in Washington, U.S., January 27, 2017.   REUTERS/Kevin Lamarque      TPX IMAGES O
Fotogaleria
Numa reunião com Donald Trump na Casa Branca, em Janeiro de 2017 Reuters/KEVIN LAMARQUE
epa06009410 British Prime Minister Theresa May prepares to deliver a statement on the previous night's terrorist incident in Downing Street, in London, Britain, 04 June 2017. At least seven members of the public were killed and dozens injured after three
Fotogaleria
Theresa May prepara-se para discursar sobre um ataque terrorista, em Junho de 2017 LUSA/WILL OLIVER
Fotogaleria
No último dia da conferência do partido conservador, em Birmingham, em Outubro de 2016,No último dia da conferência do partido conservador, em Birmingham, em Outubro de 2016 REUTERS/Toby Melvill,REUTERS/Toby Melvill
Fotogaleria
No último dia da conferência do partido conservador, em Birmingham, em Outubro de 2016 Reuters/TOBY MELVILLE
Fotogaleria
A primeira-ministra à chegada da conferência do partido, em Outubro de 2016 REUTERS/Toby Melville
Fotogaleria
Durante a conferência do Scottish National Party, em Glasgow, em março de 2017 REUTERS/Russell Cheyne

Enquanto fala para os militantes do seu partido, Theresa May é capaz de usar uma pulseira com imagens da artista mexicana e activista comunista Frida Kahlo. Para fazer um discurso duro sobre imigração, enverga um vestido assimétrico azul-escuro com um fecho metálico nas costas e as unhas pintadas de cor-de-rosa; e não se inibe de usar botas de cano alto num tom preto brilhante para visitar a Rainha Isabel II.

A primeira-ministra britânica é uma conservadora que assume um interesse pela moda, sem pudores, e utiliza-o a seu favor por forma a suavizar a sua imagem. É que nas análises políticas, o guarda-roupa de uma figura feminina é geralmente tido mais como uma debilidade do que um ponto a seu favor – veja-se os casos de Hillary Clinton e Angela Merkel. Mas May marca a diferença. 

É preciso voltar atrás no tempo – ao congresso do Partido Conservador em 2002, quando May tomou o pódio – para compreender a ligação entre a moda e a sua percepção pública. Foi um dos primeiros momentos em que a imagem elegante e algo excêntrica da actual primeira-ministra se fez notar. Alguns lembrar-se-ão das palavras duras que lançou ao partido acabado de sair de uma derrota eleitoral, mas muitos mais terão na memória a imagem do par de sapatos leopardo que levava nos pés.

Desde essa data que os meios de comunicação social e o público têm prestado atenção às escolhas de moda da actual governante que levará o Reino Unido a sair da União Europeia, interpretando, por vezes, aquilo veste como um sinal do tipo de intervenção que vai fazer: "um indicador instantâneo de que May está prestes a dar notícias difíceis? Estará a usar um colar grande de bolas que enquadra a sua cara e as suas medidas", escreve a edição britânica da Vogue, em Maio passado. A primeira-ministra “veste-se de forma marcante quando quer fazer uma intervenção marcante; como ênfase, não como distracção", aponta, por sua vez, Anne Perkins num artigo de opinião no Guardian.

Para a comentadora "os saltos [dos sapatos leopardo] deram a May uma identidade separada das suas políticas". Estávamos no início do novo milénio e "no imaginário popular eram completamente unTory", ou seja, diferente da imagem do Partido ConservadordefendeUsar sapatos com um padrão animal representava uma incongruência para a imagem antiquada que o partido tinha na altura e que May quis modernizar.

Mostrar personalidade sem palavras

Tida por alguns como uma pessoa pouco emocional, a primeira-ministra é apelidada por vezes de Maybot, numa alusão a um robot, e chegou a ser chamada pelo seu colega conservador Ken Clarke de "bloody difficult woman". É uma descrição que a própria May – que se mostra indiferente àquilo que os outros pensam de si – assume com orgulho. O guarda-roupa elegante – com uma mistura de peças em azul-marinho com toques de cor aqui e um acessório inesperado acolá – pode ser tido como um estudo de caso em como mostrar personalidade sem usar palavras.

May aparece ora com um vestido arrojado durante um momento fulcral para o país, ora com um casaco mais descontraído, mostrando que também é como todos os outros. Quando se reuniu com a Rainha, no dia da sua tomada de posse, levou um casaco azul-escuro da criadora britânica Amanda Wakeley, com uma tira neon; foi ao encontro do G20 com um fato saia e casaco feito à medida num tom azul eléctrico – contrastando com o casaco quadrado de Merkel –; e optou por um vestido assimétrico com uma cintura definida para participar na conferência do partido conservador, em 2015.

Será que a primeira-ministra continua a usar sapatos de padrões animais apesar da atenção que roubam ou precisamente por essa razão? Será que a moda pode ser um ponto a favor de uma mulher num cargo político de grande relevância, como o de May?

"Ao longo da minha carreira política, as pessoas têm comentado o que eu visto. É simplesmente algo que acontece e que aceito. Mas não me impede de apreciar moda. E também acho importante poder mostrar que uma mulher pode fazer um trabalho como este e ainda assim ter interesse em roupa", comenta a própria, em entrevista à revista Vogue.

Durante o discurso minado de peripécias que deu na conferência do partido conservador em Manchester, no início de Outubro, May viu-se apoquentada por um persistente ataque de tosse. Como qualquer pessoa civilizada tapou a boca com a mão – exibindo uma imponente pulseira com fotografias de Frida Kahlo. Teria tomado a mesma opção se soubesse das dificuldades respiratórias que a esperavam ou foi precisamente por esse motivo que decidiu usar a mão direita, questiona o Guardian

Certo é que a líder do partido conservador do Reino Unido – que antes da carreira política trabalhou no Banco de Inglaterra – não estará, com certeza, a tentar esconder o interesse na obra de Frida Kahlo, a artista mexicana que, em conjunto com o marido Diego Rivera, deu asilo ao líder soviético Leon Trotsky.

Aliás, não é a primeira vez que May se apresenta numa conferência com um acessório que parece saído da loja de recordações de um museu. Também em Abril dirigiu-se ao Scottish National Party com uma pulseira que exibia diferentes quadros de Picasso.

As escolhas mais extravagantes de May já lhe mereceram vastas críticas e um pequeno escândalo com sufixo gate. A primeira-ministra deixou-se fotografar em Novembro de 2016 pela Sunday Times Magazine sentada num sofá, em sua casa, com umas calças de cabedal castanho claro da criadora Amanda Wakeley, que custavam quase mil libras (cerca de 1114 euros). A imagem foi interpretada por muitos como um sinal de que May estava desligada da realidade – daí surgiu o “trousergate”

Estamos habituados a que o guarda-roupa de uma mulher política seja mais motivo de conversa do que o de um homem. Verdade seja dita, para elas não há um uniforme definido – fato azul-escuro ou preto, camisa branca e gravata – como para eles. “Não temos muitos exemplos da aparência de mulheres com poder”, avalia Lauren A. Rothman, uma consultora de imagem em Washington e autora de Style Bible: What To Wear To Work, citada pela BBC. “Acho que vamos ver muitas variações de como é a roupa de poder, à medida que as mulheres forem quebrando barreiras”, acrescenta.

“É bem sabido que eu gosto de sapatos. Não é algo que me defina como mulher ou como política, mas tem vindo a definir-me aos olhos dos jornais”, escreveu May, num artigo para a mesma BBC, em 2009. As críticas acerca das suas escolhas de vestuário ou da importância que dá à moda, regista-as, amachuca e deita para o caixote do lixo. "Arrependo-me do facto de as pessoas olharem para os meus sapatos?", lançou em tom retórico, no programa Good Morning Britain, em 2016, acrescentando logo de seguida uma resposta negativa: "Dá-me uma desculpa para ir comprar uns novos".

Sugerir correcção
Comentar