Liderar através do exemplo: as escolas de negócios e o desenvolvimento sustentável

Os líderes empresariais do futuro têm de ser capazes de potenciar as tendências sociais e ambientais em tomadas de decisão estratégicas.

Os conselhos de administração têm reconhecido, de forma crescente, a importância da sustentabilidade para os negócios. Contudo, as escolas de negócios e os seus alunos nem sempre acompanharam esta tendência.

No passado, temas como as alterações climáticas, as condições de trabalho, o acesso a recursos, a ética e responsabilidade social não eram reconhecidos como factores capazes de fazer a diferença nos resultados finais. O ensino nas escolas de negócio focava maioritariamente temas como a maximização do valor dos shareholders, o lucro a curto prazo e os interesses restritos dos negócios individuais, em detrimento da sociedade e da economia como um todo. As poucas escolas pioneiras na abordagem da sustentabilidade enfrentaram frequentemente resistência e descontentamento por parte dos alunos, que consideravam que a sustentabilidade era uma temática irrelevante.

No entanto, o panorama mudou radicalmente há uns anos. A crise financeira despertou uma mudança de comportamentos generalizada. Num estudo conduzido recentemente pela AMBA (Associação de MBAs), alunos, antigos alunos e empregadores destacaram a importância da sustentabilidade e a sua crescente relevância ao longo do tempo. Atualmente, a maioria das escolas de negócio concordam que a sustentabilidade é uma parte vital de um currículo de MBA, acreditando na mudança de uma abordagem stakeholder na gestão e nos negócios.

Esta mudança para uma abordagem de stakeholders representa um novo paradigma que, em detrimento do foco no negócio, pela criação de valor para os shareholders, procura criar valor para as partes interessadas, os stakeholders. E este novo paradigma exige um novo conjunto de competências de liderança. Os líderes do futuro precisam de estar aptos a compreender os riscos e as oportunidades para os negócios, as tendências sociais, culturais, políticas e ambientais. Têm de conseguir identificar os principais stakeholders, relevantes para a organização e precisam de compreender como é que a sua organização tem impacto junto destes stakeholders, de forma positiva ou negativa. Devem ainda ter a capacidade de participar em diálogos eficazes e estabelecer parcerias com estes stakeholders.

Os desafios e oportunidades criados por estes temas e tendências são complexos, mas os líderes empresariais do futuro têm de ser capazes de potenciar estas tendências sociais e ambientais em tomadas de decisão estratégicas.

O desafio de levar as escolas de negócio a desenvolver uma nova geração de líderes de negócio, capazes de gerir os desafios complexos colocados às empresas e à sociedade, foi reconhecido pelas Nações Unidas. Em 2007, o UN Global Compact Summit, em Genebra, lançou a iniciativa PRME, com o intuito de transformar a educação em gestão a nível global. Assim, os PRME (Principles for Responsible Management Education) representariam a framework para o desenvolvimento de learning communities e para a promoção da sensibilização referente aos United Nations' Sustainable Development Goals (SDGs).

Desde que foi lançada pelo então secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, esta iniciativa foi adotada por mais de 650 instituições académicas líderes, de mais de 85 países pelo mundo, e inclui mais de um terço das escolas de negócios presentes no top-100 do Financial Times, incluindo a Porto Business School.

A iniciativa PRME representou a primeira relação formal entre as Nações Unidas e as escolas de negócios. Uma tarefa de grupo que incluiu 60 deans, diretores universitários e representantes oficiais de escolas de negócios, e desenvolveu o conjunto Six Principles, que permitem uma estrutura de envolvimento para as instituições académicas incorporarem responsabilidade social na sua oferta educativa e investigação.

À medida que estes temas são tidos em maior conta pelas empresas, as escolas de negócios precisam também de os abordar, ou correm o risco de serem deixadas para trás. As escolas de negócios devem estar alinhadas com as principais prioridades dos SDGs, não podem dar- se ao luxo de ficar de braços cruzados.

Na Porto Business School, o tema do desenvolvimento sustentável tem assumido cada vez mais relevância, sendo um dos vetores da estratégia da escola a que estão associados vários objetivos concretos, incluindo métricas ligadas à responsabilidade social e ao desempenho ambiental. São vários os exemplos da estratégia de desenvolvimento sustentável, que tomam lugar em diferentes palcos:

– No desenvolvimento dos nossos programas, onde se têm reforçado os temas da Sustentabilidade e dos SGDs nos conteúdos, se introduziu a realização do SULITEST [nos programas de MBA]; e a criação de um programa específico nesta área – Gestão Sustentável: a Leadership Expedition to the Future;

– Nas infraestruturas — a Porto Business School foi a primeira escola portuguesa a obter certificação LEED – Leadership in Energy & Environmental Design — na categoria Gold, juntando-se a um número restrito de escolas internacionais como Harvard, MIT, Columbia e Stanford que possuem edifícios que têm em conta a utilização eficiente dos recursos não renováveis e também a minimização dos impactos ambientais no local onde se insere;

– Nas parcerias e colaborações com outras instituições e iniciativas (BCSD Portugal, CIDADE+, Associação Vida Norte, etc.), que têm contribuído para alargar o âmbito e o impacto da atividade da Porto Business School junto das comunidades circundantes;

– Nas iniciativas de voluntariado que têm tido uma resposta excecional da comunidade e resultados muito satisfatórios.

Tal como as empresas, as instituições de ensino superior e, em particular, as escolas de negócios, devem aproximar as suas missões, visões, valores e culturas organizacionais dos princípios do Desenvolvimento Sustentável, para assim contagiarem as suas comunidades alargadas e facilitarem a necessária mudança de paradigmas.

Será sobretudo “dando o exemplo” e criando oportunidades de participação em projetos concretos, dentro e fora do campus, que estaremos a preparar melhor os líderes e empreendedores do futuro para os desafios reais do Desenvolvimento Sustentável.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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