Munícipes e técnicos concordam: é a falta de civismo que tira as ratazanas das tocas no Porto

Há uma praga de roedores no Jardim do Marquês e para a controlar foi preciso arrancar os arbustos que escondiam as tocas.

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Nelson Garrido
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O assunto que acompanhava a jogatina nestes dias, no Jardim do Marquês, no Porto, era o acontecimento atípico da passada quinta-feira: dezenas de ratazanas percorreram parte do jardim à procura de comida, confundindo-se no meio dos pombos, os frequentadores mais usuais daquele local. Nesse dia, como conta José Conceição, “houve uma romaria ao jardim, com muita gente a tirar fotos e a filmar”. O portuense, que visita aquele espaço diariamente, refere que “havia mais de 50 ratazanas” a sair e a entrar das tocas.

Para acabar com a praga, foram chamados ao local dois técnicos da Luthisa, empresa de desratização que trabalha com a Câmara do Porto. No entanto, e para que o processo se desenvolvesse em segurança, foram chamados jardineiros ao local, que cortaram os arbustos que dantes circundavam um bebedouro, a poucos metros da fonte do jardim. Era no meio da vegetação que se escondiam as tocas daqueles roedores que, segundo a opinião dos técnicos, teriam gerado novas ninhadas, o que justificou a quantidade anormal de ratazanas que invadiu o Jardim do Marquês.

Entre as partidas de sueca, houve concordância relativamente a este número, e toda a gente parece conhecer a causa da invasão. “Há vários factores para que isto aconteça”, conta Fernando Sérgio, que costuma vir ao jardim para se reunir com os amigos durante a semana. Para o idoso, o problema vem de alguns munícipes, “sem nenhum civismo, que atiram comida para os pombos, e depois fica tudo sujo”. Contactada pelo PÚBLICO, fonte do Departamento de Limpeza Urbana da câmara assegura que foram feitas duas queixas em relação à presença dos roedores neste jardim, sendo que a Luthisa, empresa de desratização que trabalha com a câmara, “agiu logo de seguida”, tendo havido duas desratizações entre Setembro e Outubro.

A afirmação não vai ao encontro do que Rui Barandas, outra das presenças habituais no Marquês, contou ao PÚBLICO: “já liguei para lá três vezes, e da primeira disseram-me que devia ser impressão minha”, explica, acrescentando que é “normal verem-se ratazanas no jardim, algumas do tamanho de coelhos, e quase se tropeça nelas”, ao contrário do que refere o Departamento de Limpeza Urbana, que diz não ser costumeira “a presença destes roedores em jardins públicos do Porto”. Acompanhado pela sua cadela — que já foi mordida por ratazanas há cerca de duas semanas —, Rui Barandas queixa-se também dos comportamentos de alguns frequentadores do local. Na mesma linha, os técnicos de desratização acrescentam que “as pessoas que levam os cães ao jardim e não apanham os dejectos” contribuem de igual modo para a praga.

Fonte de uma empresa especialista em controlo de pragas, que não quis ser identificada, esclarece ao PÚBLICO que o à-vontade com que os roedores passeavam pelo jardim público se justifica com o excesso “de curiosos” que queriam ver as ratazanas. “Estes animais fogem das pessoas, mas naquele cas

o sentiram-se à vontade porque também havia comida”, acrescenta. As ratazanas são animais que se adaptam a ambientes diversos, sendo que, no topo da lista de prioridades na procura de local para abrigo está “a existência de alimentos”. Cada fêmea pode, em média, “gerar de três a seis ninhadas em condições normais”, e em cada ninhada “nascem de quatro a oito crias”. Estes roedores, que “não têm grande necessidade de água”, podem introduzir outros parasitas como as pulgas, e a sua urina pode “ser um vector de um vírus, que origina a Leptospirose”, acrescenta. Contudo, o vírus só se transmite para os humanos caso exista contacto com águas infectadas, como piscinas ou fontes com água potável para consumo. O mesmo técnico insiste, no entanto, que “esta praga aconteceu porque há muita gente a dar de comer aos pombos, que são tão ou mais perigosos que os ratos e as ratazanas”.

Em nota escrita enviada ao PÚBLICO, o município assegura que o jardim “é objecto de limpeza, varredura e recolha de papeleiras diariamente, sendo que três vezes por semana é sujeito a operações mais profundas de manutenção”. A câmara acrescenta ainda que é proibida a disponibilização de restos alimentares para animais como pombas ou ratos, sendo esta atitude passível de coima.

Texto editado por Ana Fernandes     

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