Eleições antecipadas abrem caminho a uma "geringonça"

O partido conservador do primeiro-ministro demissionário, Bjarni Benediktsson, foi o mais votado, mas perdeu a margem de manobra para formar uma coligação. A popular líder do Movimento Esquerda-Verde, Katrín Jakobsdóttir, poderá chefiar um novo executivo com o apoio da esquerda no Parlamento.

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A líder do Movimento Esquerda-Verde é a política mais popular da Islândia Reuters/GEIRIX

Os islandeses decidiram-se por uma mudança de rumo na política do país nas eleições legislativas antecipadas deste fim-de-semana, que resultaram numa ligeira maioria das forças de esquerda no Parlamento e que pode levar ao estabelecimento de uma "geringonça" nórdica com a nomeação da líder do Movimento Esquerda-Verde, Katrín Jakobsdóttir, para o cargo de primeira-ministra.

Esta foi a terceira eleição em quatro anos na Islândia e a segunda votação consecutiva provocada pela queda de um Governo no rescaldo de escândalos éticos e financeiros. Há um mês, a coligação liderada por Bjarni Benediktsson não resistiu à saída do partido aliado Futuro Brilhante, em protesto pelo envolvimento do primeiro-ministro num plano do seu pai para ilibar um amigo condenado por abusos sexuais de menores. Um ano antes, o Governo desmoronou-se na sequência da publicação dos Panama Papers, que revelaram a existência de contas em paraísos fiscais em nome do primeiro-ministro, Sigmundur Davió Gunnlaugsson.

Gunnlaugsson, que formou um novo Partido do Centro, conseguiu reabilitar a sua carreira política e terminar em terceiro lugar, com 11% dos votos. De acordo com os resultados preliminares, o conservador Partido da Independência do primeiro-ministro demissionário, Bjarni Benediktsson, foi o mais votado, com 25%. Mas o resultado fica aquém das suas expectativas: a perda de cinco membros da sua bancada de 21 deputados, a redução para metade dos deputados do parceiro Regeneração e o desaparecimento do Futuro Brilhante do Parlamento deixa-o sem margem de manobra para negociar um novo Governo de coligação.

Com 17% dos votos, o partido de Katrín Jakobsdóttir é aquele que dispõe de mais alternativas para fechar alianças e garantir a governabilidade com uma maioria parlamentar: segundo a Reuters, se unir forças com a Aliança Social Democrata (12%), o Partido Progressista (11%) e o Partido Pirata (9%), terá assegurados 32 dos 63 lugares do Althing, um dos parlamentos mais antigos do mundo.

E Jakobsdóttir já fez saber que não exclui a possibilidade de integrar o Partido do Centro numa futura coligação. “Não vou dizer que esse cenário não existe ou que essa hipótese não é possível. Mas a nossa preferência é trabalhar com os partidos da esquerda”, afirmou a líder da Esquerda-Verde, que aos 41 anos é a política mais popular da Islândia.

O Presidente ainda não convidou nenhum líder partidário a formar Governo, e as negociações para o estabelecimento de uma nova coligação que restabeleça a confiança da população islandesa – agastada pelos sucessivos escândalos e preocupada com o aumento da desigualdade no país – podem prolongar-se por várias semanas. Em 2016, o Governo foi empossado ao fim de dois meses de conversações.

Depois de a Islândia conquistar a independência da Dinamarca, em 1944, só teve apenas um Governo de esquerda, entre 2009 e 2013, após a profunda crise financeira provocada pela falência dos três maiores bancos nacionais que acabou por conduzir o país à bancarrota.

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