Um hotel moderno no Porto tradicional

O novo hotel do grupo Vila Galé está virado para o Douro entre a Alfândega e a Ponte da Arrábida. É uma homenagem à pintura e desenvolve um conceito paper free.

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Nelson Garrido

Meia-noite e meia. Da janela do quarto, virada para o Douro, a vista parecia saída de um filme futurista. Com Vila Nova de Gaia quase toda caiada de preto — o novo Vila Galé Porto Ribeira está situado numa zona distante dos famosos letreiros das caves de vinho do Porto —, as luzes do viaduto do Cais das Pedras formavam duas linhas à nossa frente. De quando em vez, ia passando um carro, com os faróis a assemelharem-se a luzes rápidas a voar.

Confrontando-se com as fugazes linhas de luz, estava um barco abandonado junto ao cais e um homem, sentado numa cadeira, a pescar. Uma paisagem futurista, com um protagonista tradicional, ao lado da água. Já dentro do quarto, também havia uma paisagem rodeada por água para contemplar. Do chão ao tecto, na parede atrás da cama, um grupo de mulheres repousavam na borda do rio. Não a pescar, simplesmente a estar. Eram As Banhistas de Paul Cézanne.

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Cézanne, Frida Kahlo, Picasso e Miguel Ângelo são apenas alguns dos pintores que dão vida aos 67 quartos do Vila Galé Porto Ribeira. Com os quadros a ocuparem uma parede da divisão, e com apontamentos sobre movimentos artísticos pelos corredores, o hotel tem como tema a pintura. Pontilhismo, barroco, cubismo, arte nova, impressionismo, surrealismo… Pelos três pisos, há pequenas descrições e alguns exemplos de cada movimento. “O Porto está sempre ligado ao vinho e nós quisemos inovar”, diz Natália Oliveira, directora do hotel, lembrando que o Vila Galé Porto, no Campo 24 de Agosto, tem o cinema como tema.

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Mas voltando para o quarto, que é uma das zonas que mais interessam, até porque este Vila Galé não tem salas de conferências ou spa, Natália Oliveira explica o que torna o hotel da Ribeira num “tubo de ensaio”: tem um conceito de paper free. Mal entramos no lounge Almada Negreiros, local onde está também localizada a recepção, fizemos o check-in e pediram-nos para assinar num tablet ao invés de numa folha de papel. Percebemos o que o “livre de papel” — tradução literal — queria dizer. Natália Oliveira só veio confirmar. Apontando para a televisão em frente à cama, começou por explicar que qualquer pedido de serviço de quartos ou reservas de lavandaria e restaurante era feito através do televisor. Até as ementas do lounge são consultadas em tablets, que pelo menos para já não permitem fazer os pedidos sem ser preciso recorrer a um funcionário do hotel.

Almada Negreiros é o artista português que dá nome ao cartão-de-visita do hotel. Em tons acastanhados e uma decoração simples e elegante, o bar lounge abrange a zona de recepção e de restaurante. Com retratos de pintores portugueses, por Hélder Carvalho, como Paula Rego, Amadeo Souza-Cardoso, Júlio Resende ou Bordallo Pinheiro e um piano de cauda, este é um espaço aberto a todos. “Queremos que funcione como ponto de encontro, que crie proximidade e convívio”, afirma Bernardo Mesquita, director de operações do grupo. Aproveitando a proximidade à Ribeira, quiseram criar “um conceito moderno de hotel na cidade”, com uma esplanada virada para o Douro e um pátio interior protegido das intempéries. Na carta do bar estão snacks como tostas, wraps, saladas ou tábuas de queijos e enchidos, com a assinatura de Francisco Ferreira, chef executivo do Vila Galé. Segundo Natália Oliveira, vai haver animação no bar todas as quintas, sextas e sábado, com jazz, clássicos ou, “quem sabe, um DJ”. Nós, ao jantar, fomos ouvindo Miguel Araújo e António Zambujo com sotaque brasileiro por uma voz feminina, ao vivo.

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Pensado para um público-alvo mais individual, quer empresarial ou turístico, português ou estrangeiro, o Vila Galé Porto Ribeira tem sido mais procurado por um mercado nacional, em primeira lugar, e depois por ingleses ou franceses. Inaugurado a 1 de Outubro, o hotel tem wi-fi livre de palavra-passe e é para “pessoas dos cinco aos 90 anos”, garante Bernardo Mesquita. No entanto, devido à estrutura do edifício, não tem quartos muito espaçosos que permitam a fácil colocação de uma cama extra. Garagem, lavandaria, acesso para pessoas com mobilidade reduzida e recepção 24 horas são os outros serviços disponíveis.

No meio de tudo

A localização é um dos pontos fortes do hotel. A cerca de um quilómetro e meio da Ribeira e da Ponte Luiz I, é fácil caminhar até lá. Não há subidas ou descidas íngremes, e pelo caminho passa-se no Museu do Vinho do Porto, na Alfândega do Porto — onde há sempre exposições para visitar — e no World of Discoveries, museu interactivo sobre os Descobrimentos. É também possível apanhar o eléctrico em direcção ao Palácio da Bolsa, que nos deixa abaixo da Igreja Museu de São Francisco, mesmo ao lado da tão turística Ribeira.

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Se, ao sair do hotel, quisermos rumar para o lado oposto, espera-nos o Museu do Carro Eléctrico e um heliporto, onde é possível adquirir uma viagem que permite ver o Porto num Robinson R44. O eléctrico, nessa direcção, vai até à Foz e ao Campo Alegre.

Para além disso, o Vila Galé Porto Ribeira quer “dar vida à rota romântica que passa numa rua ao lado”. Bernardo Mesquita afirma essa intenção, reiterando que a Câmara do Porto também está a tentar dar uma nova vida a essa rota: Museu Romântico da Quinta da Macieirinha, Casa Tait e Jardins do Palácio de Cristal. Tudo a menos de um quilómetro de distância, mas desta vez a subir.

Texto editado por Sandra Silva Costa

A Fugas esteve alojada a convite do Vila Galé Porto Ribeira

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