Leitores das universidades portuguesas exigem integração nos quadros

Alguns destes profissionais estão há 30 anos a contrato, denuncia Fenprof

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Os docentes manifestaram-se junto ao ministério do Ensino Superior LUSA/Rodrigo Antunes

Um grupo de leitores das universidades portuguesas exigiu nesta quinta-feira a integração nos quadros, numa iniciativa promovida pela Federação Nacional dos Professores (Fenprof), que defende que a solução para acabar com a precariedade que afecta 50 docentes não teria impacto orçamental.

De acordo com a Fenprof, há cerca de 150 leitores a nível nacional e deveriam já ter sido integrados 50 profissionais que se mantêm a contrato, alguns com 30 anos de serviço.

Junto ao ministério do Ensino Superior, em Lisboa, os docentes aprovaram uma resolução em que criticam o atraso na resolução do problema e explicam que para evitar perder o emprego tiveram de aceitar contratos a tempo parcial ou passar ao estatuto de professor convidado.

Alguns tiveram de mudar de instituição, outros mantêm-se no mesmo local, com sucessivos contratos anuais.

Junto aos professores, que leccionam em cursos de línguas, o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, defendeu ser este o momento para insistir numa questão que quer ver resolvida no âmbito do Orçamento do Estado para 2018.

"Se deixarmos ficar para 2019, acaba a legislatura e fica tudo na mesma", disse junto ao grupo de leitores que exibia uma faixa com a inscrição Contratados a Termo do Ensino Superior. Contra a Precariedade.

Eulalie Pereira, uma das leitoras que participou no protesto, tem 55 anos, está desde 1993 na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra a leccionar língua francesa na licenciatura de Línguas Modernas e tradução no mestrado de Tradução.

São 12 horas por semana no âmbito de um contrato integral com dedicação exclusiva. Tem dupla nacionalidade, dois filhos e uma vida de "grande incerteza", devido às renovações anuais do contrato a que está sujeita.

À Lusa contou que se conseguir a integração no quadro faz "uma festa".

"É uma garantia, para mim e para os meus filhos, de que vou ter trabalho até ir para a reforma", afirmou, explicando que a integração não acarreta mais dinheiro, nem mudança de categoria profissional.

Estes professores não estão abrangidos pelo Estatuto da Carreira Docente (ECD), pelo que a federação sindical tem procurado uma solução que permita a sua integração junto da tutela.

Ao lado, estava um colega que deixou a Grã-Bretanha em 1985 para se instalar em Portugal, onde casou com uma portuguesa, teve dois filhos e comprou casa. "Mais precário não podia ser. Há 32 anos!", disse John H., 58 anos, quando questionado sobre a sua situação.

Dá aulas de tradução, escrita criativa, estudos canadianos e língua inglesa na Universidade de Coimbra, também em regime de exclusividade, com contratos sucessivamente renovados.

Não tenciona sair de Portugal: "Toda a minha vida está aqui".

O ministro Manuel Heitor disponibilizou-se para receber uma delegação dos manifestantes que se concentraram em silêncio junto ao Palácio das Laranjeiras. Segundo Mário Nogueira, existe vontade para resolver a questão no âmbito da tutela, mas tem havido oposição do Ministério das Finanças.

 

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