Marcelo em manobras na Gabulândia e feitiços na Coriscolândia

No segundo dia da visita aos Açores, o Presidente esteve em dois territórios fictícios como se fossem reais. Qualquer semelhança com a realidade não é pura coincidência.

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LUSA/MIGUEL A. LOPES
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Num país fictício, a Gabulândia, antiga colónia portuguesa, já havia crise, económica, social e política, e ameaças a interesses lusos, mas ainda houve dois sismos que colocaram o território em pré-guerra civil. Portugal decide intervir para retirar os cidadãos nacionais e resgatar empresários sequestrados. A essas manobras militares assistiram nesta quinta-feira de manhã Presidente da República e ministro da Defesa, lado a lado, na ilha Terceira, em perfeita sintonia. Nada como um inimigo externo em comum.

Se fosse a sério, o cenário podia ser a Venezuela ou a Guiné-Bissau, mas isso é “especulação” dos jornalistas “que nada tem a ver com o Estado português ou com as Forças Armadas”, acentua Marcelo Rebelo de Sousa. O importante, afirma, é a “obrigação do Estado português [de] estar atento às comunidades onde há portugueses, por todo o mundo”. Marcelo, o diplomata, entra em cena, logo a seguir a Marcelo, o Presidente da República, ter afirmado que o importante são as pessoas, a defesa das suas vidas e dos seus bens: “Tudo o resto, com o devido respeito, parece-me totalmente irrelevante”.

Da Terceira viam-se nuvens sobre o Pico, a anunciar borrasca política, mas o sol brihou até ao fim do dia. Ali como em S. Miguel, onde Marcelo brilhou também. A Coriscolândia – um centro lúdico-pedagógica da associação Kairós, de que ele é sócio há 21 anos -, enfeitara-se a preceito, inspirada pelo Halloween, para receber o chefe de Estado. Ali, entre crianças, Marcelo, o avô, fez de conta que não havia câmaras de televisão e jornalistas e deixou-se levar pela brincadeira. “Piratas e bruxas, vamos embora”, desafiou. “Ponham-se aqui, para tirarmos uma fotografia. Mas todos não. Vem tu para a direita, senão tenho muito mais esquerda que direita, é o costume”, começou  logo.

Vendo uma mesa grande só com uma cadeira, perguntou, pedindo a resposta: “Quem é o pirata-mor?” “É o senhor Presidente”, respondeu o professor-pirata. Dirigindo-se à educadora-feiticeira que preparava a sopa corisca no caldeirão, Marcelo perguntou: “Qual é o feitiço de hoje?” Fez uma pausa e acrescentou: “O feitiço tem de chegar para o Orçamento do ano que vem”.

No atelier de artes, pintou um pirata apenas em preto: “Tenho de ser neutral, não pode ser laranja, nem rosa, nem vermelho, nem azul ou amarelo”.  Numa mesa onde os miúdos cortavam letras de jornais e formavam palavras novas que colavam noutra folha, recortou a palavra Vitória, o nome de uma das meninas da mesa, e colou-a, apesar do risco de colar os dedos. O que é mais fácil, cortar ou colar, pergunta-se-lhe: “É mais fácil cortar, mas por isso passo a vida a colar”, respondeu Marcelo, o maroto. E foi cola demais? “Antes a mais do que a menos”.

Passemos à creche, onde o mais velho não chega aos dois anos. Uma menina chora, um pequenito é apresentado como o presidente da sala. Os humores dos bebés mudam muito rapidamente e Marcelo não se aventura muito. Mas lembra-se de uma amiga estrangeira: “Ela diz que os únicos homens que conhece que amuam são os portugueses. Os outros irritam-se, os portugueses amuam”.

Segue-se a sala de jogos e senta-se a ver dois garotos a jogar xadrez. Começaram há pouco, mas o jogo vai ser rápido. “Isto começa a ficar emocionante”, comenta. Um dos miúdos abre o flanco e deixa caminho livre para a rainha avançar e dar xeque ao rei.  Marcelo, o jogador, percebe logo, mas o rapaz não. “Não percebo por que não avançou”. O rapaz então percebe e dá o xeque-mate.

Nessa altura, já respondera como chefe de Estado a uma jornalista que lhe perguntara sobre o clima social do país desde há cinco meses, quando fizera a primeira parte da visita aos Açores: “O país está menos crispado, mas as zonas mais atingidas pelos incêndios estão mais carentes de afectos e não só”. E a classe politica, está menos crispada? “Espero que acompanhe o país”, responde. Mas sem dizer quem são os políticos “chamuscados”.

Ao final da tarde, Marcelo, o professor, foi dar uma aula aberta na Universidade dos Açores. O tema era "o Atlântico" e foi cumprido com rigor. Mas já na fase de debate, não resistiu a mais umas frases que remetiam para a tensão política com o Governo. Escolhamos apenas uma:  “A dificuldade está em encontrar o equilíbrio, nem assumir o extremo de só aceitar as coisas boas, nem o extremo oposto de só ver as coisas más. Mas demora tempo”. Falava das relações com o Brasil e “países da África Ocidental”. Ou talvez não só.

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