Portugal sentiu efeito do fim dos estímulos antecipadamente

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Nuno Ferreira Santos

Com um nível de endividamento público e privado muito elevado, Portugal é um dos países da zona euro que mais podem ter a perder com o princípio do fim dos estímulos oferecidos pelo BCE. Mesmo assim, o facto de, desde o início do ano, as compras de dívida portuguesa já terem sido limitadas, faz com que, ao nível das contas públicas, o efeito negativo possa ser agora sentido de forma mais mitigada.

Se se cumprirem as expectativas, o BCE deverá esta quinta-feira anunciar que, a partir de Janeiro, irá reduzir o ritmo a que realiza compras de activos (maioritariamente títulos de dívida pública dos países da zona euro), deixando igualmente no ar um calendário mais definido para um futuro início da subida de taxas de juro.

Para Portugal, que está nos primeiros lugares do ranking europeu tanto ao nível da dívida do Estado, como das empresas e das famílias, isto só pode ser visto como uma má notícia. Aliás a simples expectativa de uma alteração do rumo da política do BCE já está a ter os seus impactos, nomeadamente com a inversão de tendência que já se está a registar nas taxas Euribor, que deixaram de descer, e com a apreciação do euro, que afecta a competitividade das exportações portugueses.

Há no entanto, um motivo para não temer um impacto negativo muito maior agora, nomeadamente para as contas públicas. Como o BCE tem no seu balanço uma quantidade muito significativa de dívida pública portuguesa e não pode, pelas regras que definiu para si próprio, deter mais de um terço da dívida emitida por um país, já se tem vindo a verificar desde o início do ano uma redução muito significativa das compras de dívida portuguesa.

O BCE tem vindo a adquirir dívida portuguesa a um ritmo bem mais baixo do que aquilo que seria expectável tendo em conta o peso de Portugal no capital do BCE. Sendo assim, é possível que, mesmo registando-se uma descida do volume global de compras do BCE para o total da zona euro, as compras de dívida portuguesa a partir de Janeiro de 2018 se mantenham a um nível semelhante ao de 2017.

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