Xi, o novo líder supremo da China, sem pressa para escolher sucessor

Foram substituídos cinco dos sete membros do comité permanente do Politburo do Partido Comunista, mas nenhum é encarado como um provável secretário-geral.

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Xi Jinping enquanto apresenta a nova composição do comité permanente EPA/HOW HWEE YOUNG

A nova composição do principal órgão dirigente do Partido Comunista Chinês (PCC) não deixa antever um sucessor do actual secretário-geral, Xi Jinping, quebrando com uma regra informal que nas últimas duas décadas tinha gerido as transições de poder. Vários analistas suspeitam que a ausência de um nome na linha de sucessão possa abrir caminho a uma manutenção de Xi no poder para além de 2022.

A equipa que constitui o comité permanente do Politburo foi revelada esta quarta-feira, depois de ter sido escolhida durante o 19.º Congresso do PCC que consagrou o “pensamento de Xi” na constituição do partido, reforçando o poder do secretário-geral. Entre os sete membros, apenas dois se mantiveram em relação ao anterior elenco – Xi e o primeiro-ministro, Li Keqiang.

Os novos membros do comité permanente são Li Zanshou, 67 anos, que será o presidente do Congresso do Povo; Wang Yang, 62 anos, vice-primeiro-ministro; Wang Huning, 62 anos, será responsável pela propaganda e ideologia; Zhao Leji, 60 anos, será o novo chefe da comissão de disciplina, responsável pela campanha anti-corrupção; e Han Zheng, 63 anos, secretário do partido de Xangai e novo vice-primeiro-ministro.

Após a saída de cena de Deng Xiaoping, no final dos anos 1980, o PCC tentou institucionalizar alguns procedimentos internos para tornar a governação mais estável. Entre estas regras informais destaca-se a fixação de um limite máximo de idade de 68 anos para candidatos a órgãos dirigentes. Foi por terem superado este tecto que os cinco membros do comité permanente foram agora substituídos.

Outra prática que passou a ser observada foi a indicação de prováveis sucessores para os cargos de secretário-geral e primeiro-ministro durante o Congresso intermédio. Foi isso que aconteceu com os três últimos líderes chineses, Jiang Zemin, Hu Jintao e o próprio Xi.

Não é isto que acontece com o comité permanente apresentado esta quarta-feira, cujos novos membros têm todos mais de 60 anos, ficando assim com muito poucas possibilidades de ascenderem a secretário-geral daqui a cinco anos. Nas vésperas do Congresso, a generalidade dos analistas apontava dois nomes como prováveis sucessores de Xi e Li, caso as regras se mantivessem: Chen Min’er, 57 anos, secretário do partido de Chongqing, e Hu Chunhua, 54 anos, secretário da província de Cantão.

A falta de um hipotético sucessor para ascender à liderança no Congresso de 2022 é sinal, de acordo com alguns analistas, de que Xi pretende manter-se no poder para além do actual mandato. O cargo de Presidente tem um limite de dois mandatos, mas há outras formas de Xi manter um poder real, através da manutenção do título de secretário-geral ou a chefia da comissão militar do PCC – replicando o que Deng Xiaoping fez, por exemplo.

Outra possibilidade é a de que Xi esteja a tentar alterar a forma como o processo de sucessão vem sendo feito e acabe por nomear um sucessor numa data mais próxima do 20.º Congresso. “Xi não está com pressa de resolver este assunto neste momento. A prioridade é utilizar da melhor forma o segundo mandato para alcançar os seus objectivos”, disse ao South China Morning Post uma fonte próxima da liderança. “Muita coisa pode acontecer em cinco anos.”

A composição do comité permanente mostra que existiu um cuidado para manter representantes das várias facções e sensibilidades presentes no PCC. Li Zanshou, que é director do Gabinete Geral do Comité Central, é considerado o membro mais próximo do secretário-geral, tendo exercido nos últimos anos um papel de chefe de gabinete de Xi, acompanhando-o em várias visitas oficiais ao estrangeiro. A escolha dos restantes membros é produto de negociações entre Xi e outras personalidades influentes do partido, incluindo os seus antecessores, Jiang Zemin e Hu Jintao.

Cheng Li, especialista em política interna chinesa no Instituto Brookings, disse à Reuters que o novo comité permanente é uma “equipa de rivais” e que Xi terá preferido abdicar de colocar mais dirigentes próximos do seu círculo no comité permanente para ter mais margem para negociar mudanças na constituição do partido. 

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