Algarve quer atrair os turistas do pedal mas a ecovia é uma armadilha

A Comunidade Intermunicipal do Algarve tem uma candidatura de dois milhões para as câmaras acabarem uma obra que está pendurada há mais de dez anos.

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Mario Lopes Pereira

A Região de Turismo do Algarve (RTA) anunciou que vai dispor de 350 mil euros para promover a ecovia litoral — uma obra a decorrer há mais de uma dezena de anos mas que ainda não está concluída. A iniciativa da RTA insere-se nos projectos europeus do turismo ambiental, destinados a dar a conhecer a região a quem gosta de pedalar. O pior é que, nas actuais circunstâncias, há sérios riscos de atropelamento. Os ciclistas são empurrados para a Estrada Nacional (EN) 125, que está a ser requalificada para vir a ser uma via urbana, mas sem que haja espaço para circular de bicicleta.

O presidente da Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta (FPCUV), José Manuel Caetano, lamenta as “lacunas e indefinições” quanto às políticas de mobilidade na região, em particular na questão da ecovia. Cada câmara, diz, gere à sua maneira o troço correspondente aos limites de cada um dos 16 concelhos, sem que haja uma entidade responsável por todo o percurso. O presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (Amal), Jorge Botelho (também autarca de Tavira), reconhece que “tem havido alguns atrasos na conclusão das obras”, mas promete mudança de atitude: “Temos [Amal] uma candidatura de dois milhões de euros aprovada para concluir o projecto e vamos arrancar”. E Caetano exclama: “Façam qualquer coisa, já não há paciência para tanta espera”.

Há cerca de seis meses, a Região de Turismo do Algarve e a Amal apresentaram aos parceiros privados uma proposta para que fosse criada uma entidade externa para gerir a ecovia — os 200 quilómetros que vão da fronteira espanhola a Sagres. O projecto passaria por criar um “pacote” de turismo da natureza, inserindo nessa oferta a Via Algarviana, a rota pedestre que atravessa o interior da região, pela serra. A coordenadora do projecto desta via, Anabela Santos, da associação Almargem, comentou: “Espero ao menos que haja financiamento para garantir a manutenção desta via, que já é conhecida lá fora”. Juntar numa mesma entidade a gestão dos dois projectos, disse, “não teve receptividade junto da maioria dos parceiros privados”.

A Amal e a RTA anunciaram que, no curto prazo, vão assumir “sobretudo as acções de comunicação e promoção” da ecovia, que ficará ligada ao projecto Atlantic on Bike, liderado pelo departamento francês dos Pirenéus Atlânticos, envolvendo 18 parceiros de sete países. O orçamento dos 350 mil euros vai ser investido ao longo de 36 meses, beneficiando de uma taxa de co-financiamento comunitário de 75%.

Nesta altura, o mais importante, diz Paulo Carvalheiro, um professor que tem promovido as bicicletas nas escolas, “seria repor a sinalética que foi destruída e concluir o projecto ou vão promover uma obra que não está concluída?”. O troço mais difícil de percorrer, adianta, situa-se entre Faro e Olhão: “Os ciclistas são obrigados a circular na EN 125, uma autêntica armadilha”. Mas há outras zonas perigosas: Portimão

Lagos, Odeceixe/Mexilhoeira Grande e Altura (praia de Monte Gordo), exemplifica. Sobre as obras em curso na EN 125, critica que, “mais uma vez, se esqueceram dos ciclistas: basta ir a Boliqueime ver o que lá fizeram”.     

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