Luís Faro Ramos: um diplomata para gerir um Instituto Camões com funções alargadas

A escolha de um embaixador é “um sinal forte de que a promoção da língua e da cultura são eixos centrais da política externa portuguesa”, diz o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.

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A nomeação do actual embaixador em Havana, Luís Faro Ramos, para a presidência do Instituto Camões (IC), anunciada esta segunda-feira, vem de algum modo encerrar o processo de reconversão do organismo iniciado em 2012, quando o IC se fundiu com o Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD) e passou a integrar a política de cooperação, defende o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.

“É a primeira vez que um presidente é designado tendo já em consideração que será responsável pelas três áreas da cooperação, da língua e da cultura”, notou o governante ao PÚBLICO, lembrando que antecessora de Luís Faro Ramos, Ana Paula Laborinho, “dirigiu o Instituto no processo de fusão com o IPAD, mas assumiu o cargo ainda antes desta integração, quando os presidentes eram escolhidos entre pessoas com currículo nos domínios da cultura e da língua portuguesa”.   

O que não a impediu, precisa o ministro, de ter feito “um excelente trabalho antes e depois da fusão”, tendo sido uma líder importante do Instituto Camões, quer na área da cultura, que é a da sua formação, quer na da cooperação”.

Doutorada em Estudos Literários e especialista em Literatura Comparada, Laborinho presidia ao IC desde 2010 e há muito circulavam rumores de que queria sair. Vai agora lançar e chefiar o primeiro escritório da Organização dos Estados Ibero-Americanos em Lisboa, onde “prosseguirá o seu trabalho nas  áreas da educação, da cultura e da ciência, uma vez que são esses os fins da organização, mas passa da geografia lusófona para o campo mais alargado das línguas portuguesa e espanhola”, diz Santos Silva.

Para o ministro, a escolha de um embaixador para liderar este Camões com funções alargadas à cooperação justifica-se, desde logo, pelo facto de os diplomatas, por força das suas obrigações, estarem “muito treinados para articular transversalmente diferentes áreas”, mas constitui também “um sinal forte de que a promoção da língua e da cultura são eixos centrais da política externa portuguesa”.

E Luís Faro Ramos “tem uma grande experiência na gestão da administração pública” e “destacou-se, no seu trabalho diplomático, pela importância que deu às áreas da cultura e da língua portuguesas”, diz ainda Santos Silva. “Esteve ligado ao lançamento da cátedra Eça de Queirós na Universidade de Havana, e na Tunísia [onde esteve colocado anteriormente] ajudou a lançar um programa-piloto de introdução do português como língua estrangeira no ensino secundário”.

Afirmando-se “muito honrado” com o convite, Luís Faro Ramos diz estar “bastante entusiasmado” com as novas funções que o esperam. “Tendo feito dois anos de embaixada em Cuba, achei que era um desafio que teria muito gosto em aceitar”, disse ao PÚBLICO o ainda embaixador em Havana.

Funções nas quais rapidamente percebeu que “as questões culturais e da língua tinham uma importância fulcral”, diz. Além da já referida cátedra dedicada ao seu antecessor – o autor de Os Maias foi cônsul de Portugal em Havana entre 1872 e 1874 –, Faro Ramos esteve ainda envolvido no lançamento de um leitorado de português na mesma universidade e criou, na própria embaixada, uma Biblioteca Eça de Queirós, inaugurada por ocasião da visita de Marcelo Rebelo de Sousa a Cuba, em 2016.

“Como diplomata, preocupo-me essencialmente com três frentes: a político-institucional, a cultural e de promoção da língua, e a económica”, explica o futuro presidente do Camões. “Sendo verdade que tenho um gosto pessoal pela área da cultura, também acho que ela corresponde a uma função central na missão de um embaixador”.

Olhando para a cooperação, a cultura e a língua como “vertentes igualmente importantes” do organismo que agora irá dirigir, garante que não dará prioridade a nenhuma delas em detrimento das restantes e que procurará “desenvolvê-las numa abordagem inclusiva e integradora, potenciando sinergias”.

Nascido em Lisboa em 1962, Luís Faro Ramos licenciou-se em Direito e entrou na carreira diplomática em 1986, tendo ocupado o seu primeiro cargo no estrangeiro em 1993, quando foi colocado em Atenas como substituto legal do chefe de missão.

Em 1995 foi nomeado chefe de divisão na Direcção das Instituições Comunitárias da Direcção-Geral dos Assuntos Comunitários, dois anos depois desempenhou idênticas funções na Direcção de Serviços das Organizações Políticas Internacionais, da Direcção-Geral dos Assuntos Multilaterais, e em 1998 foi designado como vice-chefe, em Macau, da Delegação Portuguesa ao Grupo de Ligação Conjunto Luso-Chinês.

Passou depois pela missão permanente junto dos Organismos e Organizações Internacionais em Genebra e pela representação permanente junto da União Europeia, em Bruxelas, e em 2008 integrou o Governo como chefe de gabinete do então secretário de Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar, João Mira Gomes, hoje embaixador em Berlim.

Antes de ocupar o seu primeiro posto como embaixador na Tunísia, em 2012, esteve ainda na embaixada portuguesa em Maputo e foi director-geral de Política de Defesa Nacional no Ministério da Defesa.

No Instituto Camões irá ter como vice-presidente o diplomata Gonçalo Teles Gomes, que manterá a responsabilidade directa pela área da cooperação. Dos dois vogais do conselho directivo do IC, a economista Maria Irene Paredes continuará em funções, mas a embaixadora Gabriela Soares de Albergaria, que tutelava a área da promoção da língua e da cultura, irá ser colocada no final do ano em Bogotá, na Colômbia, e terá de ser substituída, tendo o Ministério dos Negócios Estrangeiros requerido já à CRESAP (Comissão de Recrutamento e Selecção para a Administração Pública) a abertura de um concurso público.

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