PSD não aceita fazer acordo com Moreira para a assembleia municipal

Em vésperas da tomada de posse, líder concelhio comunica decisão e PS cavalga a onda, mantendo candidatura de Braga da Cruz para presidente do órgão fiscalizador do executivo.

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Nelson Garrido

Os sociais-democratas recusam fazer um acordo com o independente Rui Moreira para a Assembleia Municipal do Porto (AMP) que permita ao movimento independente que ganhou a câmara eleger Miguel Pereira Leite para líder municipal.

Rui Moreira teve maioria absoluta para a câmara nas eleições autárquicas de Outubro, mas para a assembleia municipal venceu apenas com maioria relativa pelo que precisa de fazer entendimentos com uma das forças políticas com representação naquele que é o órgão fiscalizador do executivo.

O presidente da concelhia do PSD, Miguel Seabra, anunciou ontem, em declarações à Lusa, que “não vai haver nenhum acordo” com o movimento independente de Rui Moreira para a AMP, acrescentando que os eleitos do partido terão "uma atitude responsável e agirão em conformidade com essa atitude".

O independente Álvaro Almeida, que liderou a candidatura do PSD à Câmara do Porto, disse ontem ao PÚBLICO sentir-se “confortável” com o facto de o PSD não ter nenhum acordo com Rui Moreira para a AMP. “Se o PSD tivesse feito um acordo, aí seria desconfortável para mim, porque o partido estaria a condicionar a minha votação”, acrescentou.

Porém, a decisão do dirigente concelhio, descrito como próximo de Rui Rio, apanhou o partido de surpresa. No domingo, ao fim da tarde, os cinco elementos eleitos do PSD para a assembleia municipal estiveram reunidos com Miguel Seabra e Álvaro Almeida e, curiosamente, desse encontro não saiu nenhuma decisão.

De acordo com relatos feitos ao PÚBLICO, a reunião decorreu num registo em que “havia uma disparidade de opiniões”. Mas, aparentemente, tudo fazia prever que sociais-democratas e independentes se iam entender em relação à assembleia, já que as duas partes estão coligadas quer para as juntas de freguesias quer para as assembleias de freguesia. Neste processo, as negociações complicaram-se no caso Paranhos. Alberto Machado, reeleito presidente da Junta de Freguesia de Paranhos - a única que o PSD ganhou –, nunca aceitou que nenhum independente integrasse o executivo da junta. A única cedência que fez foi em relação à assembleia de freguesia onde os independentes têm três lugares. Alberto Machado, refira-se, está na corrida para a concelhia do PSD-Porto e também ele é “muito próximo” de Rui Rio.

Ontem, uma fonte social-democrata justificava a decisão da concelhia, dizendo que “o PSD fez bem em não fazer nenhum acordo com o autarca independente, lembrando as suas declarações na noite eleitoral. “No discurso de vitória Rui Moreira apontou o dedo a três figuras do partido: António Tavares, Paulo Rangel e Rui Rio, elegendo-os como os ‘grandes derrotados’ [da noite] por terem utilizado o Porto para disputas de índole nacional”, lembrou a mesma fonte.

Já o socialista Manuel Pizarro olha com satisfação para a posição assumida pelo líder da concelhia social-democrata, declarando que ela “não inviabiliza a pretensão do Partido Socialista”.“O PS está disponível para apresentar uma candidatura liderada pelo engenheiro Braga da Cruz que garanta os princípios da transparência e do funcionamento democrático da Assembleia Municipal do Porto”, afirmou Manuel Pizarro. No entanto, o vereador do PS observa que “a candidatura de Braga da Cruz só é útil, se tiver condições para sair vencedora”. “Estamos a ponderar e vamos fazer essa ponderação até quarta-feira [dia da tomada de posse dos órgãos autárquicos] ”, revela, assumindo que os dois partidos foram conversando ao longo destes dias sobre a AMP.

“Num cenário em que existe uma maioria absoluta na Câmara do Porto, há reforçadas razões para melhorar o funcionamento democrático da assembleia municipal e, desse ponto de vista, havia toda a vantagem em, digamos numa linguagem popular, não colocar os ovos todos no mesmo cesto, isto é, fazer com que a gestão da assembleia não ficasse entregue a quem tem maioria absoluta na câmara”, declarou Pizarro.

Nas vésperas da tomada de posse da Câmara do Porto e da assembleia municipal não há um entendimento político com o movimento independente Rui Moreira que garanta a eleição de Miguel Pereira Leite, porque o voto é secreto.

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