Inéditos de Scott Fitzgerald lançados quase cem anos depois

Morrerei por Ti (Alfaguara) reúne 18 contos desconhecidos do autor de O Grande Gatsby numa tradução de Vasco Gato.

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Quase um século após a publicação do romance clássico de F. Scott Fitzgerald, O Grande Gatsby (1925), 18 textos inéditos do autor, esquecidos, perdidos ou incompreendidos pelos editores da época, chegam agora às mãos dos leitores portugueses num espesso volume de 464 páginas editado pela Alfaguara. 

Morrerei por Ti, tradução de I'd Die For You and Other Lost Stories, lançado em Abril nos Estados Unidos, mostra um Fitzgerald "livre, em pleno fulgor criativo, liberto das amarras da censura e da esterilização narrativa imposta pelos seus editores", diz a Alfaguara, editora que integra o grupo Penguin Random House. 

São textos que reflectem bem o espírito dessa geração de autores a que Gertrude Stein chamou "perdida", e que incluiu, entre os seus nomes cimeiros, romancistas como Ernest Hemingway, William Faulkner ou o próprio Fitzgerald. 

Este conjunto de contos, agora traduzido para português pelo poeta Vasco Gato, foi organizado e preparado pela académica e ensaísta Anne Margaret Daniel e explora temas como os sonhos de glória e de êxito, a solidão num mundo em crise, o meio do cinema e os seus costumes, a doença ou a loucura.

Tratados de forma realista e inconformista, estes temas afastavam Fitzgerald daquilo que os editores esperavam dele: que fosse um escritor daquilo que ele próprio designou como "era do jazz", que escrevesse "romances normais, com rapazes pobres a cortejarem raparigas ricas, com festas e glamour e raparigas fúteis", explica Anne Margaret Daniel na introdução do livro.

A ensaísta refere que mesmo os directores contemporâneos das revistas populares e de grande consumo da época "tinham bons motivos para se encolher" perante o que Fitzgerald andava a escrever em meados da década de 1930: "Alguns dos contos são sombrios e desolados."

Nesta época, os Estados Unidos viviam a Grande Depressão, o dinheiro do escritor esgotava-se, a sua mulher, Zelda, vítima de um esgotamento, passou a ser constantemente internada em clínicas privadas dispendiosas, e o próprio escritor sofria de tuberculose e alcoolismo. Não obstante, nunca parou de escrever, procurando reflectir o que sabia e via.

Anne Margaret Daniel escreve que, à medida que a década de 1930 ia avançando, Fitzgerald recusava frequentemente "submeter-se às expectativas daqueles que ficavam surpreendidos ao descobrirem nele uma pincelada de realismo, ou um passo rumo à desolação e aos estilos irregulares do modernismo tardio, ou simplesmente algo que achassem feio".

Quase todos os contos desta colectânea remontam a essa época e são os "últimos sobreviventes nos quais é possível determinar que Fitzgerald trabalhou", destaca ainda a organizadora do livro, que incorporou as alterações feitas à mão pelo escritor em dactiloscritos ou manuscritos, deixando entre parêntesis as expressões e os passos riscados em revisões incompletas.

O livro inclui uma secção de notas explicativas, que fornecem informação de contexto, ajudando o leitor a perceber melhor algumas passagens destas histórias escritas há quase um século. 

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