Da desertificação nacional e das Sopa de Pedra

Em Portugal, as bandas que reinterpretam a música da tradição rural americana circulam nos meios urbanos do pop-rock alternativo. No entanto, no mesmo país, uma banda a reinterpretar a música da tradição rural portuguesa é raro ter a atenção dos meios de comunicação nacionais e a disponibilidade de um ouvinte urbano. Um ingrediente apenas dos que fazem o nosso caldinho cultural, que contribuiu para a negra realidade que nos foi atirada à cara nos últimos dias. Porém, por incrível que pareça, existem jovens a contrariar esta nossa desertificação mental e sem vergonha de recriar a tradição. E, imagine-se, sem pejo de usarem a fantasia visual em vídeo, sem os convencionalismos televisivos ou a sisudez documental do MPAGDP. Quantos leitores do P3 já viram Chão da Feira, Pássaro, Ermo, ou Lavoisier em VIDEOCLIPE.PT? Bem, esta semana, pela mão do realizador Pedro Santasmarinas, chegou lá este Bate, bate (tema original de Amélia Muge) do grupo vocal feminino Sopa de Pedra. São dez vozes bastante jovens que exploram o canto polifónico mais tradicional e com este simples vídeo avisam da edição recente do disco Ao Longe Já Se Ouvia, que vem dentro de uma caixa de madeira. Caberá agora ao leitor saber se o videoclipe pretende dizer alguma coisa deste país ou se é apenas uma mera ilustração da música, enfim, se deixou a mensagem ao abandono, sem querer motivar um qualquer comentário em baixo ou sem merecer pelo menos uma partilha.