Abe vence eleições e ganha forças para rever a Constituição

Primeiro-ministro japonês garante maioria de dois terços no Parlamento, arrasando as duas novas forças políticas que ameaçavam o seu domínio.

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Abe antecipou as eleições em mais de um ano aproveitando a crise desencadeada pelos disparos de mísseis KIM KYUNG-HOON/Reuters

O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, ganhou a aposta que fez ao antecipar em mais de um ano as legislativas. A coligação encabeçada pelo Partido Democrático Liberal (PDL) manteve a maioria de dois terços no Parlamento, o que lhe dá novo fôlego para avançar, ainda que sem pressas, com a ambição de rever a Constituição pacifista do país.

Com a contagem quase terminada, o PDL e os seus parceiros de coligação do partido Komeito, tinham conseguido eleger 310 deputados dos 465 deputados que compõem a câmara baixa da Dieta Nacional (Parlamento) e estavam ainda em disputa por uma dezena de lugares que continuavam por atribuir na madrugada de domingo.

Um resultado acima do previsto pelas últimas sondagens e que confirma a mestria da jogada do primeiro-ministro japonês quando, em Setembro, avançou para eleições, aproveitando a divisão da oposição e a o alarme causado pelo teste de dois mísseis norte-coreanos que sobrevoaram o Norte do país antes de caírem no Pacífico.

Acontecimentos que reforçaram a liderança do líder nacionalista, fragilizada nos últimos meses por escândalos de corrupção que envolveram membros do Governo, e lhe abriram a porta para se tornar o primeiro-ministro japonês há mais tempo em funções desde o final da II Guerra Mundial se, como tudo indica, for reeleito no próximo ano para a liderança do PDL. Os analistas sublinham também que, sem alternativas credíveis, os eleitores voltaram a premiar a política económica de Abe – que de tão famosa ganhou nome próprio, Abenomics – que pôs o país de novo a crescer e baixou a taxa de desemprego.

A maioria de dois terços no Parlamento é condição essencial para Abe alterar o artigo 9 da Constituição, adoptada pelo país após a derrota na II Guerra, e que se levado à letra proíbe o país de ter Forças Armadas – embora os sucessivos governos tenham feito uma interpretação diferente, reservando aos militares um papel de autodefesa. Mas as alterações constitucionais têm depois de ser aprovadas em referendo e as divisões na sociedade japonesa sobre o tema recomendam prudência.

Os que receiam a alteração, entre eles o Komeito (centro-direita), temem que a mexida leve o país a expandir o seu envolvimento militar externo. Abe responde que o seu objectivo é apenas clarificar a lei, num momento em que toda a região se debate com a ameaça norte-coreana e a China está envolvida em disputas territoriais com vários países vizinhos. Mas ainda que possa vir a contar com os apoios da oposição de direita, o primeiro-ministro japonês deu a entender que não pretende concluir o processo antes de 2020, prazo que ele próprio tinha avançado antes. “Primeiro temos de aprofundar o debate e conseguir que o máximo de pessoas cheguem a acordo”, afirmou, citado pela Reuters.

No início da campanha, antecipou-se que Abe poderia ver o seu domínio posto em causa pelo recém-criado Partido da Esperança, formação conservadora liderada pela actual governadora de Tóquio, Yuriko Koike, ou pelo também estreante Partido Constitucional Democrático do Japão, nascido há apenas algumas semanas da ala mais liberal do histórico e agora definhante Partido Democrático. Os liberais acabaram por ficar o segundo lugar, mas não devem eleger mais do que 67 deputados, ainda assim bem melhor do que o partido de Koike, relegado para a terceira posição. 

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