Mr. Robot: a revolução deu para o torto

A terceira temporada da série de sucesso chegou no sábado, às 23h, ao TVSéries, dez dias após a estreia original nos Estados Unidos.

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Rami Malek é o protagonista de Mr. Robot DR

Há um episódio da primeira temporada de Buffy - Caçadora de Vampiros em que uma das personagens, sem querer, põe um livro onde um demónio foi preso no século XV num scanner e ele acaba por ir parar à internet, onde encontra seguidores e engana pessoas. Vê-lo 20 anos é rir de como tudo é representado, bem como da forma inepta como até argumentistas talentosos acertavam ao lado no que tocava ao futuro da internet e das possibilidade dos computadores em geral. É um de vários exemplos de, como na maioria das séries e filmes, esse universo tecnológico é muito mal representado.

Mr. Robot não é assim. E sabe muito bem que, quase sempre que ficção tentou mostrar hackers, a coisa não correu bem – até há piadas sobre isso –, por isso esforça-se por fazer isso da forma certa. A criação de Sam Esmail é sobre Elliot Alderson (o brilhante Rami Malek, que ganhou um Emmy pelo papel no ano passado), um engenheiro informático nova-iorquino com uma depressão crónica e ansiedade social que consegue orquestrar uma revolução cibernética e luta contra um conglomerado internacional chamado Evil Corp. Envolve, assim, muito hacking, mostrado de uma maneira mais realista do que é normal na televisão.

A terceira temporada, que arrancou a 11 de Outubro nos Estados Unidos e agora chega a Portugal via TVSéries, terá, tal como a primeira, dez episódios – a segunda teve mais dois. O primeiro episódio foi para o ar este sábado, às 23h. Todos os episódios serão, tal como foi o caso na anterior, realizados pelo próprio criador – que antes disto só tinha no currículo um filme, uma comédia dramática e romântica de ficção científica lançada em 2014 chamada Comet –, algo que também não é comum em televisão. A ambição visual, a anos-luz de outras séries da USA, o canal que a passa originalmente e é também a casa de séries como Defesa à Medida, mantém-se a mesma. Mas há elementos que mudam. No ano passado, a série, que sempre foi feita de mistérios, conspirações profundas e reviravoltas inesperadas, teve muito de confuso. Este ano, Esmail parece estar a esforçar-se por tornar tudo um pouco mais claro e explicar melhor o que se está a passar (e se passou antes).

Nesta leva de episódios, Elliot está dividido entre levar adiante a segunda fase do seu plano revolucionário ou abortar, com pessoas a puxarem para os dois lados. Ao mesmo tempo, começa a perceber que a revolução que pôs em marcha quando deitou abaixo o sistema pode ter feito o contrário do que pretendia. Em vez de restaurar o balanço ao mundo e libertar pessoas da opressão, poderá sido sequestrada por pessoas poderosas e tornado tudo pior. E a culpa é dele próprio. Elliot começa, então, a trabalhar para resolver isso. Há, muito obviamente, ecos da eleição de Donald Trump e todo o contexto de insatisfação que levou um elitista multimilionário de Nova Iorque a ser eleito como “um homem do povo”.

Regressam as pessoas que o rodeiam, que incluem Portia Doubleday como Angela, uma amiga de infância, Christian Slater como a personagem que dá nome à série (e, se se quiser entrar em spoilers, o falecido pai de Elliot que é produto da sua perturbada imaginação, numa das maiores influências que Mr. Robot tem de Clube de Combate), Charly Chaikin como Darlene, a sua irmã ou B.D. Wong como Whiterose, uma mulher transgénero que encabeça um grupo chinês de hackers (e, voltando aos spoilers, é, vestida de homem, o Ministro da Segurança do Estado da China). Mas também se junta a eles o sempre sólido Bobby Cannavale como alguém que trabalha para o Dark Army.

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