Grande, grande Marcelo

Após a tragédia de Pedrógão Grande e a devastação do último fim-de-semana, Marcelo superou em muito a figura do grande consolador — ele foi o atilho que uniu o país, o grito que acordou o primeiro-ministro.

As grandes tragédias têm o efeito de fazer sobressair o pior de certas pessoas e o melhor de outras. António Costa foi um desastre na mesma proporção que Marcelo Rebelo de Sousa tem sido um êxito. Em Agosto de 2016, Marcelo já tinha impressionado após o gigantesco incêndio que atingiu o Funchal. Escrevi nessa altura: “Ele é de tal modo extraordinário no contacto pessoal que eu fiquei orgulhoso como português de o ter ali, e de o ver consolar daquela maneira quem tinha perdido tudo, menos a vida. Marcelo estava a ser realmente genuíno na empatia que demonstrava ter para com aquelas pessoas, na forma como as abraça e beijava, no modo como encontrava as palavras certas para falar com elas.” Não tiro uma vírgula ao que disse então, mas acrescento isto: após a tragédia de Pedrógão Grande e a devastação do último fim-de-semana, Marcelo superou em muito a figura do grande consolador – ele foi o atilho que uniu o país, o grito que acordou o primeiro-ministro, o justo que apontou o único caminho decente, mostrando que a política, quando exercida com nobreza e sentido de Estado, é a mais bela das profissões.

Quem costuma ler esta página sabe que o número de artigos críticos suplanta em muito o número de artigos elogiosos, não por qualquer espécie de cinismo ou pessimismo existencial, mas porque acredito que o dever de quem escreve nos jornais é, em primeiro lugar, denunciar o que está mal. Mas pode – e deve – haver excepções. Quando alguém é tão excepcionalmente competente a fazer uma coisa, como Marcelo tem sido no apoio a milhares de vítimas, é importante que as críticas se suspendam para dar lugar ao elogio sem reservas de um Presidente que tem feito tudo para nos orgulharmos dele. Quando, no futuro, quisermos explicar aos nossos filhos, ou aos nossos netos, para que é que serve um Presidente da República, porque é que ele deve ser eleito directamente pelo povo e ter legitimidade própria, poderemos sempre apontar o dedo ao Marcelo de 2017 e dizer: “Um Presidente serve para isto.”

Muito se tem falado na impressionante quantidade de fotos extraordinárias de Marcelo agarrado a viúvas e reformados, gente pobre, coberta de luto, destroçada, que é abraçada e beijada por um queque lisboeta de fato e gravata com uma intimidade que não dispensariam ao vizinho do lado. O que mais espanta nessas fotos é menos a forma como Marcelo consola as pessoas do que a forma como as pessoas se deixam consolar. Numa das suas muitas visitas a horas impróprias, apareceu já noite cerrada a uma velha mulher que largou os dois baldes de água que levava nas mãos para se agarrar ao seu pescoço e lhe falar da perda de um filho: “Ai, senhor presidente! Ai, senhor presidente! Fiquei sem a luz dos meus olhos!” Marcelo é tratado como parte da família. É o que faz a diferença. Abraços e beijinhos unidireccionais é coisa que não falta por aí, em campanhas eleitorais ou vernissages. Mas esta osmose entre o “professor” e o “povo” é coisa muito rara, que não se obtém através de ensaios ao espelho ou estratégias de comunicação.

Por favor, não confundam isto com populismo ou com erupções de caridade ocasional. Isto é simplesmente colocar ao serviço do país uma enorme popularidade, que não tem parado de crescer. Se Marcelo continuar assim, será reeleito em 2021 com 70 ou 80% dos votos – e merece. Não por o seu percurso estar isento de erros. Mas porque nas alturas fundamentais tem sido o melhor Presidente que Portugal poderia ter.

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