Léman, o grande

Com formato de croissant para os gulosos ou de vírgula para os literários, o Léman é o maior lago natural da Europa Ocidental e o fio condutor deste passeio em anel que começa na Suíça e atravessa a fronteira para França.

Foto
Denis Balibouse

Os celtas chamavam-lhe “Água Grande”, ou seja “Lem an”, e ainda hoje assim é conhecido. O Léman é um espelho de água com 73 quilómetros de comprimento e 14 de largura máxima plantado no meio das paisagens montanhosas do Jura a norte (lado suíço), e dos Alpes, a sul, já no lado francês. Apesar de também ser apelidado de lago Genebra, principalmente pelos habitantes dessa cidade, recusa ganhar o nome de uma das suas povoações ribeirinhas.

No entanto, e para efeitos de roteiro, Genebra apresenta-se naturalmente como a cidade de partida. De partida para quem está prestes a iniciar uma viagem de carro de 180 quilómetros e de partida ainda para o Ródano, que alimenta este lago de origem glaciar, e que, desde esta cidade suíça, volta ao seu formato elegante de rio rumo a França, onde acabará por desaguar no Mediterrâneo.

Cidade da paz e da liberdade

A chique Genebra é a urbe mais cosmopolita à beira do Léman. Os seus bancos têm os cofres cheios de dinheiro oriundo de todo o mundo e as suas lojas ostentam as marcas de luxo mais exclusivas, com especial incidência para as joalharias. Para uns, um autêntico paraíso, para outros um sítio onde se aprende sobretudo a apreciar montras porque isso, por enquanto, ainda é de graça.  

Para os que chegam de avião, a cidade — tida muitas vezes pela capital da Suíça — dá as boas-vindas com um valente jacto de água sem outra função que não decorativa. O repuxo eleva-se a 140 metros de altura e debita 500 litros de água por segundo.

Já com os pés bem assentes na terra, se quiser aproximar-se deste ícone que fica dentro do lago e que se acede por um pontão, tome primeiro este conselho e estude o vento. Uma ligeira alteração de sentido e lá ficam os curiosos todos encharcados, o que de Verão, sem dúvida, sabe bem. 

Foto
Denis Balibouse/Reuters

Na vizinhança está o Jardin Anglais, com o seu Relógio Florido, onde os turistas se detêm à procura do melhor ângulo para a fotografia. Sempre diferente consoante as estações do ano, assinala o facto de a cidade ser a capital mundial da relojoaria.

Embrenhando-se depois pelo centro histórico, encontra a catedral de São Pedro, que se destaca pela torre de onde se obtém uma vista de 360º sobre a cidade. Esta é a principal igreja protestante de Genebra, embora na sua origem tenha sido construída para o ritual católico.

A Alemanha teve Lutero e a Suíça Calvino, que residiu em Genebra e foi seu líder espiritual. A “Roma protestante”, como ficou conhecida a cidade, foi inclusivamente um dos principais cenários da revolução religiosa, de tal forma que chegou a proclamar-se uma república independente e assim permaneceu durante 262 anos. 

No interior da catedral procure pela cadeira de Calvino e a capela de Portugal. Emília de Nassau, filha de Guilherme de Orange e princesa de Portugal, está sepultada aqui com uma das suas filhas. Nas catacumbas fica o Sítio Arqueológico com passagem directa para o Museu Internacional da Reforma. Se o tema religião lhe interessa, não deve perder este espaço carregado de forte simbolismo. É que era aqui que se situava o claustro de São Pedro, onde a 21 de Maio de 1536 foi votada e adoptada a Reforma.

Da religião à paz (ou à guerra) é um pulo. Devido à famosa neutralidade suíça, Genebra foi escolhida para alojar um grande número de organizações internacionais (cerca de 200), entre as quais figuram a sede europeia das Nações Unidas, a Organização Mundial da Saúde, o Comité Internacional da Cruz Vermelha e a Organização Europeia para a Investigação Nuclear. Assim sendo, não fica difícil perceber por que razão 41% da população deste cantão de pouco mais de 480.000 habitantes é estrangeira.

Como o tempo não dá para tudo, sugerimos que visite o Palácio das Nações e, neste caso, se socorra novamente do automóvel. Não é à toa que Genebra, grande centro da diplomacia internacional e da mediação, é chamada de Cidade da Paz. Aqui foram assinadas as Convenções de Genebra, que definiram as normas que estão na base das leis do Direito Humanitário Internacional.

Sabe que chegou ao sítio certo quando der de caras com a Broken Chair, uma cadeira gigante com apenas três pernas, da autoria do suíço Daniel Berset e do carpinteiro Louis Genève. Instalada no meio de uma rotunda, é uma construção de 12 metros de altura feita com 5,5 toneladas de madeira e funciona como uma chamada de atenção para o horror das minas antipessoais.

Passado o portão do Palácio das Nações, já se está em território internacional. As visitas, várias ao dia, duram cerca de uma hora e podem ser guiadas em 15 línguas. Uma oportunidade única para ver ao vivo salas emblemáticas onde foram firmados acordos lendários e atingidos marcos importantes para os direitos humanos. 

Referimo-nos, por exemplo, ao Salão da Assembleia e à Sala dos Direitos Humanos e da Aliança das Civilizações. Esta última está para o Palácio das Nações como a capela Sistina para o Vaticano.

Renovada em 2008, a sua maior particularidade reside no tecto, da responsabilidade do artista espanhol Mikel Barceló. Esta obra de arte é uma espécie de alegoria onde as 30 cores utilizadas não só representam o fundo do mar, como também um planeta multicolor ou ainda os diferentes pontos de vista dos vários assuntos ali tratados, explica a guia-intérprete.

Mas a visita guiada não mostra apenas paredes. Dá também a conhecer o funcionamento desta organização internacional composta por 193 estados-membros, onde se inclui Portugal. Foi numa dessas alturas que ficámos a saber que o Vaticano e a Palestina são apenas observadores das conferências, não podendo participar, e que, até à data, a Líbia foi o único país suspenso por práticas contrárias às que defende a organização.

A guia-intérprete espanhola vai também testando os conhecimentos do grupo, quase todo originário da América do Sul. Se sabemos quem foi o anterior secretário-geral e o actual. Ouve-se automaticamente um “Guterres” na sala, vindo da boca de um alentejano de Sousel, que não deixou grande margem para dúvidas.

Foto
Denis Balibouse/Reuters

A despedida de Genebra fica por conta do Ariana Park, a zona verde que circunda o Palácio das Nações, onde descendentes de pavões protegidos por testamento se deixam fotografar junto aos visitantes.

A vinha do Pequeno Lago  

Seguindo na auto-estrada 1 pelo lado ocidental do lago, ou seja, pelo lado suíço, deixa-se o cantão de Genebra e entra-se no de Vaud. Quando começarem a surgir os primeiros sinais de uma natureza domada pelo homem já se está em La Côte (em português, encosta), a maior região vitivinícola à volta do lago. São cerca de 2000 hectares que beneficiam da proximidade deste reservatório de água e da protecção das montanhas do Jura. (É daqui que vem a palavra jurássico).

A Suíça tem mais de 200 variedades de uva, das quais 40 são nativas. Os helvéticos dão muito valor ao que é produzido no seu território e por isso apenas 2% dos néctares aqui elaborados são para exportação. Se for um enófilo, o melhor é aproveitar a ocasião para provar e levar para casa.

O próximo motivo de paragem poderá ser Nyon, ainda no Pequeno Lago, assim chamado por ser muito estreito. A cidade é palco do Paléo Festival, o maior espectáculo musical ao ar livre da Suíça, nascido nos anos 1970 e que a cada Julho chama a si cerca de 200 mil visitantes. Mas talvez conheça antes Nyon dos livros de Hergé, quando Tintim e o Capitão Haddock andaram pelas suas ruas no rasto do professor Calculus.

Fundada por Júlio César, a povoação está mergulhada em diversas camadas de História. Nyon tem um castelo construído no século XII por cima de vestígios romanos e um museu dedicado ao Léman que conta a história da sua formação, há 15 mil anos. Com cerca de 300 peixes e crustáceos, os aquários pretendem ser uma mostra das espécies que habitam o lago, entre pequenos e grandes, presas e predadores.

A este curso de água é atribuída uma grande influência no clima da região, tornando-o mais húmido, e às vezes até falaciosamente marinho. Que o digam as gaivotas que ajudam a cimentar essa ilusão.

Entre Nyon e Morges poderá desfrutar de belas vistas para a Alta Sabóia (lado francês) e para o tecto da Europa: o Monte Branco. Situado a 4808 metros de altitude, é de fácil reconhecimento porque se encontra nevado durante grande parte do ano. Se for admirador de paisagens grandiosas como esta, sente-se numa esplanada e deixe-se ficar por uns minutos.

Quando o Léman se agiganta

A seguir a Nyon, o Léman ganha corpo e passa a ser apelidado de Grande Lago. Se não aconteceu nas paragens anteriores, em Morges uma ideia vem logo à cabeça: dar descanso ao carro e embarcar num dos navios belle époque da Compagnie Générale de Navigation sur le Lac Léman. A escolha é sua.

Foto
Denis Balibouse/Reuters

A frota a vapor, composta por oito navios, oferece mais do que o atravessar de margem e, consequentemente, de país. Propicia um passeio único a bordo de um monumento vivo que por momentos nos faz pensar que estamos nas margens do Mississípi. Construídos entre 1904 e 1927, estima-se que haja apenas 50 barcos destes em todo o mundo e 20 estão na Suíça. 

Assim como nas cidades antecessoras, também Morges se apresenta com uma marina, ruas planas, ideais para um passeio a pé, e um forte mesmo à beira de água. Este abriga quatro museus: o Museu Cantonal Militar, o Museu Suíço de Figurinos Históricos, o Museu de Artilharia e o Museu da Polícia Regional do Lago de Genebra. O facto de estarem todos concentrados no poder e na força não é coincidência. É que este castelo do século XIII tem um passado militar bem vincado.

Capital olímpica

Lausana, a segunda maior cidade na margem do Léman e quinta do país, desenvolveu-se à volta da sua catedral, segundo o turismo local, “o mais impressionante exemplo de arquitectura gótica antiga em toda a Suíça”. Tal como em Genebra, também este templo foi consagrado ao culto católico, (em 1275 pelo papa Gregório X), tornando-se protestante por altura da Reforma. Se tiver pernas para isso, suba ao topo para perceber como a cidade está assente numa colina.

Uma vez nesta cidade, esteja atento à coincidência. Onde existe uma arcada é bem provável que ali encontre um bar. A zona nocturna por excelência é o Flon, onde estão alguns dos pubs e discotecas mais badalados. Esta é uma cidade “jovem”, muito por causa da universidade (o MBA e o curso de Turismo estão entre os mais reputados do mundo).

Junto ao lago é Ouchy, uma zona de hotéis estrelados estrategicamente bem situados e do Museu Olímpico, quiçá o melhor trunfo de Lausana e, sem dúvida, o maior centro de informação sobre as olimpíadas. Não admira ser nesta cidade que o encontramos, uma vez que é aqui que se situa a sede do Comité Olímpico Internacional.

Esta é uma excelente oportunidade para saber um pouco mais sobre estes jogos que atravessaram a História da Humanidade e que, de quatro em quatro anos, unem as sete partidas do mundo.

A história dos antigos e dos modernos jogos, que recuperaram a tradição em 1896 e que chegaram aos nossos dias, é contada de uma forma interactiva em 3000 m2 de exposições e através de mais de centena e meia de ecrãs e 1500 objectos. Impossível não estar de olho às referências aos laureados portugueses e elas lá vão aparecendo.

As tochas olímpicas e o tipo de piso para tentar adivinhar a que desporto se refere são apresentados em forma de jogo onde crianças e adultos se empenham da mesma maneira. Por isso, duas horas não vão chegar. E se escolher almoçar no restaurante do museu muito menos. Aos fins-de-semana há brunch, um dos melhores da cidade, com pratos sempre diferentes e receitas oriundas de todo o mundo.

Sendo o museu pago, o jardim é de entrada gratuita. Procure pela instalação do salto em altura que assinala o recorde olímpico. Tente tocar na barra a mais de dois metros de altura. Agora imagine-se a superá-la de costas…

A nível museológico, Lausana abriga outro colosso, a Fondation de l’ Hermitage, que apresenta exposições temporárias de arte num ambiente datado do século XIX. Permanente é mesmo a villa — um edifício do século XIX — e as vistas para a catedral, para o lago e para os Alpes franceses.

Menos afamado e mais alternativo é o Museu de Arte Bruta, com criações de pessoas que não pertencem a nenhuma cultura artística e que vivem em hospitais psiquiátricos ou prisões. À margem de todas as normas, os “artistas” inventam universos muito pessoais reflectidos em pinturas, esculturas e colagens. A par das suas obras, os seus percursos ali contados são autênticas lições de vida.

Vinhas d’ouro

Após esta cidade, o campo ganha novamente terreno. Aqui não sugerimos que apanhe a auto-estrada, mas sim a estrada nacional 9, que já foi considerada um dos dez itinerários que mais despertam o prazer da condução na Suíça.

Socalco a socalco, fiadas de videiras sobem a encosta sem perder de vista o lago. É assim em Lavaux, onde a comparação com o Douro se torna inevitável. Um selo distintivo da paisagem que assumiu a dimensão de Património Mundial da UNESCO em 2007.

O cultivo da vinha não é coisa de hoje, remonta ao tempo dos romanos. Só que estes não se aventuraram até ao cume, ficando-se apenas pelos terrenos junto à margem. Na Idade Média os monges levaram o assunto muito a sério e hoje em dia são famílias particulares que seguram as rédeas do negócio.

Tome nota: são cerca de 1000 hectares de vinha divididos em oito denominações de origem. O best seller é a casta Chasselas, que origina vinhos brancos frutados e frescos. O par perfeito, segundo os suíços, para acompanhar a fondue de queijo e um filete de fera ou perca do lago, incontornáveis nos menus dos restaurantes ribeirinhos.

Foto
Denis Balibouse/Reuters

Esta cepa aguenta-se bem à geada, chuva e granizo no Inverno mas também ao sol inclemente do Verão, que não é nada brando. Por isso é costume dizer-se que Lavaux desfruta de três sóis: o que brilha no céu, o dos raios indirectos reflectidos pelo lago e ainda o da pedra dos muros que retêm o calor. Caves com venda ao público? Há muitas, vá andando e visitando.

A Riviera suíça e o gigante de pedra

Vevey é a casa da multinacional Nestlé e isso explica o facto de um garfo de aço inoxidável de oito metros de altura estar literalmente espetado no lago. O marco assinala a vizinhança do Alimentarium, um museu dedicado à história da alimentação criado pela fundação Nestlé. Do cultivo ao consumo, passando pela história do fundador — um farmacêutico de origem germânica que revolucionou a indústria agro-alimentar —, muitas outras curiosidades podem ser encontradas aqui. Apesar de, como seria de esperar, o elogio à marca estar muito presente, sai sempre de lá com alguma informação relevante.

Entre o garfo-escultura e o museu da Nestlé está Chaplin, a estátua. Os suíços gostam de lembrar os notáveis que escolheram o país para ali habitar ou passar temporadas. Morges teve Audrey Hepburn, em Lausana morou Coco Chanel e Vevey acolheu Charlie Chaplin (1889-1977).

A grande novidade está no Chaplin’s World, uma espécie de museu consagrado ao cómico do cinema mudo que aqui viveu os últimos 25 anos da sua vida. “O mundo pertence a quem se atreve”, terá dito o génio do cinema mudo. O resultado do seu atrevimento está também aqui...

Se Vevey apostou no Festival Internacional de Cinema de Comédia, Montreux deitou todas as fichas no Festival de Jazz. Anualmente, dezenas de milhares de pessoas assistem, em Julho, aos concertos no Auditorium Stravinsky, no Montreux Jazz Club e no Montreux Jazz Lab. Em Montreux, o casino e os hotéis à beira lago nunca deixaram de fascinar poetas, pintores, músicos e escritores de renome como Nabokov, que viveu no Montreux Palace. Tolstói, Hemingway e Graham Greene foram outros ilustres visitantes, mas o único que teve direito a estátua foi Freddie Mercury, que tinha nesta cidade o seu lugar favorito no mundo.

Tanto Vevey como Montreux têm marginais floridas que devem ser percorridas a pé. As esplanadas voltadas para o lago são convidativas, mas os preços nem por isso. Nada que não se contorne com um piquenique. Estender uma toalha na relva com a merenda não é mal visto pelos suíços, desde que deixe tudo como encontrou.

Quatro quilómetros separam Montreux do castelo de Chillon, o monumento histórico mais visitado da Suíça francófona que fica assente numa pequena ilha rochosa. A primeira menção escrita é de 1150 e indica que a família Sabóia já controlava a fortaleza e com isso a passagem no lago. Muito mais tarde, em 1536, os de Berna conquistaram Chillon e durante mais de 260 anos o forte serviu de fortaleza, arsenal e prisão.

Jean-Jacques Rousseau, Alexandre Dumas, Mary Shelley e Victor Hugo consagraram-lhe escritos. Contudo, a maior projecção foi feita por Lord Byron, que não só deixou o seu nome gravado num pilar das masmorras, como nele se terá inspirado para escrever o poema Prisioneiro de Chillon (1816), que relata o cativeiro de François Bonivard no século XVI.

Interessante neste castelo é que se apresenta com um aspecto diferente consoante nos acerquemos de barco ou de carro. Visto da água, dá ares a residência aristocrática, mas quando encarado pelo lado da montanha revela uma faceta muito vincada de defesa.

Neste forte as passagens secretas permitiam fugas arriscadas e os salões eram sumptuosos. O mobiliário, as tapeçarias e as pinturas murais são ricos testemunhos de um passado abastado. O que não pode mesmo perder é a subida ao topo da torre principal, que lhe oferece de bandeja vistas únicas para o lago.

França: águas termais e a Belle Époque 

Continuando a contornar o lago, vai dar entrada no Valais, o cantão suíço com o maior número de picos de montanha com mais de 4000 metros de altitude, 47 para sermos precisos.

Quanto à fronteira com França — um pequeno guichet no meio da estrada —, mal se dá por ela, a não ser que a polícia aduaneira esteja a fazer algum controlo. Geralmente procuram bebidas alcoólicas, carne, leite e seus derivados, que não podem passar de um litro/quilo por pessoa. É que quem vive na Suíça junto à raia aproveita para ir a França às compras porque, sem qualquer exagero, o cabaz alimentar chega a ser três vezes mais barato.

A primeira grande paragem em França é em Evian-les-Bains, uma estância termal que dá nome a uma das águas mais conhecidas a nível internacional e que teve a sua época áurea em meados do século XIX. A exclusividade era tal que até 1964 esta água era vendida somente em farmácias.

A fonte mais afamada é a Cachat e as suas águas parecem ter grande eficácia para resolver problemas urinários, como foi revelado pelo conde de Brion em 1790. Tais propriedades eram demasiado “milagrosas” para serem desprezadas, de forma que, em 1826, François Fauconnet, homem de negócios de Genebra, funda a primeira sociedade de exploração das águas minerais e faz nascer um estabelecimento termal.

Não é exagero dizer que a água moldou a arquitectura da cidade que se deslumbrou com o estilo art nouveau. Testemunhas desse tempo são o funicular que transportava curistas desde os hotéis situados nas alturas de Evian até à buvete e ao estabelecimento termal, na zona baixa. É aqui que se situa também o palácio Lumière, um espaço cultural com 800 m2 que acolhe hoje em dia exposições de pintura que parecem saídas do Museu de Orsay, de Paris.   Quanto à familiaridade do nome, não é pura coincidência. Os Lumière construíram em Evian uma villa para férias que actualmente acolhe serviços da câmara municipal. É possível visitar durante a semana o hall e o salão de casamentos, por exemplo, tempo muito bem empregue.

Foto
Denis Balibouse/Reuters

O casino (em estilo neo-bizantino) e o teatro concebido por Louis Clerc — aluno de Charles Garnier, o responsável pela ópera de Paris — são outros testemunhos de uma clientela aristocrática.

Se precisar relaxar, experimente as termas que foram renovadas em 2012. Já que se fala no elemento líquido, de Maio a Setembro poderá visitar os Jardins de Água situados na entrada oeste de Evian numa propriedade ribeirinha. A singularidade deste jardim com 3,5 hectares é que apresenta um itinerário com diferentes ecossistemas ligados à água: lagoas, delta, prados húmidos e pântanos. O objectivo é mostrar a riqueza mas também a fragilidade das zonas húmidas.

O poder de atracção das flores

A última paragem é em Yvoire. Este pequeno povoado já foi muita coisa ao longo dos seus mais de 700 anos, inclusivamente um reduto de piratas do lago e um núcleo de pescadores, mas hoje poderemos defini-lo como uma aldeia medieval relativamente bem recuperada que despertou do sono da História para o turismo devido ao cheiro e beleza das suas flores.

Os prémios nos concursos de floração chegaram na década de 50 do século passado e não têm parado. A povoação está classificada como Grande Prémio Nacional de Floricultura e é membro da prestigiada Associação das Mais Belas Vilas de França. A par das ruas e fachadas floridas, as lojas de artesanato, os cafés, os restaurantes e os hotéis também foram atraindo os visitantes.

O castelo, propriedade privada, não pode ser visitado, mas o mesmo não se pode dizer do Jardim dos Cinco Sentidos, que ocupa a antiga horta do forte. Distribuído por nove áreas temáticas, quatro delas labirínticas, foi inspirado nos cânones da Idade Média, quando a única medicina conhecida era a das plantas.

E é com o cheiro das flores que termina este passeio, não sem antes passar uma vez mais a fronteira para a Suíça, através do cantão de Genebra.

Das vinhas às termas, do desporto olímpico à política internacional, das cidades cosmopolitas às aldeias medievais, passando pelos festivais de cinema e música… deste lago avista-se o mundo.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários