UE aceita dar a May algumas munições contra os eurocépticos

Vinte e Sete aceleraram preparativos internos para segunda fase das negociações. Mas insistem que avanço só será possível se até Dezembro houver progressos sobre "factura do 'Brexit'.

Foto
Theresa May teve uma recepção cordial em Bruxelas Reuters/POOL

Os líderes europeus adiaram para Dezembro a decisão relativa ao início das negociações sobre uma nova parceria com o Reino Unido, mas – num gesto que permite a Theresa May regressar a Londres com um pequeno trunfo no bolso – prometeram acelerar os preparativos para essa segunda fase. Avisam, no entanto, que o desfecho só será positivo se nas próximas semanas houver avanços suficientes sobre o pagamento das contribuições financeiras assumidas no passado por Londres.

Bastaram 90 segundos para que os restantes 27 Estados-membros aprovassem as conclusões sobre o estado das negociações do “Brexit”, um documento onde confirmam que não foram feitos os “progressos suficientes” nas áreas essenciais do divórcio (direitos dos cidadãos, fronteira entre as duas Irlandas e a chamada "'factura do 'Brexit'") para que se possa passar já à segunda fase

Mas mais significativa do que esta constatação (evidente já nas últimas semanas) é o incentivo aos negociadores para que “consolidem a convergência conseguida” nas últimas rondas e, sobretudo, a decisão de avançar com “discussões preparatórias internas” sobre aquilo que pretendem da futura relação com Londres. O objectivo é que se, em Dezembro houver “luz verde”, se comece a negociar o quanto antes um acordo de comércio livre e um período de transição a vigorar nos anos seguintes à saída britânica, em Março de 2019.

Desde o início da cimeira em Bruxelas – onde além do “Brexit” os 28 discutiram a gestão da crise migratória, as relações com a Turquia e os projectos para o futuro da UE – que ficou claro o desejo de oferecer a May algum espaço de manobra face aos eurocépticos que, dentro e fora do Governo, se indignam ao menor sinal de cedência a Bruxelas e estão a aumentar a pressão para que o executivo acelere os planos para uma saída sem acordo.

Um esforço que foi sobretudo visível da parte da chanceler alemã, Angela Merkel, e do Presidente francês, Emmanuel Macron, vistos em Londres como os mais inflexíveis na recusa em alterar o método que foi definido no início das negociações – em que primeiro se negoceiam os termos da saída e só depois o futuro das relações. E às imagens que mostraram ambos a ladear, sorridentes, a primeira-ministra britânica no início da reunião, Merkel juntou palavras de claro incentivo na noite de quinta-feira, dizendo estar convencida que será possível chegar a um “bom resultado” no final deste processo. “Do meu ponto de vista não há absolutamente nenhum sinal de que não seremos bem-sucedidos”, afirmou, fazendo as manchetes da imprensa britânica.

Também o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, considerou algo exagerada a expressão “impasse” usada pelo chefe dos negociadores europeus, Michel Barnier, defendendo uma narrativa “mais positiva” sobre a evolução das negociações.

Mas antes de abandonarem Bruxelas todos os 27, a começar por Macron, sublinharam que a bola está agora no campo de May, de quem esperam ouvir nas próximas semanas que irá pagar as contribuições prometidas para o orçamento europeu, mas também para os projectos de desenvolvimento e os fundos de reformas, por exemplo. As negociações sobre este tema espinhoso “ainda não chegaram a meio”, avisou Macron, que acusou também os eurocépticos de estarem a fazer bluff com a UE ao proporem uma saída sem acordo.

A primeira-ministra britânica, visivelmente agradada com a recepção em Bruxelas, não desmentiu informações de que terá dito aos homólogos que irá mais além do que prometeu no discurso de Florença – quando deixou subentendido que pagará os cerca de 20 mil milhões de euros da contribuição britânica para o orçamento em vigor. Mas, num sinal da enorme pressão a que está sujeita internamente, disse apenas que os negociadores britânicos estão a estudar “linha a linha” as exigências europeias.

“As próximas oito semanas serão as mais desafiadoras para May e as mais decisivas para o ‘Brexit’”, disse à Reuters Mujtaba Rahman. Se até lá o impasse não for quebrado, são todas as negociações que ficam ameaçadas. 

Sugerir correcção
Comentar