O dia em que Bush e Obama criticaram Trump sem dizerem o seu nome

A políticas divisivas e de pendor racista foram alvo do discurso dos dois ex-presidentes dos EUA na mesma noite.

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Os dois antigos líderes discursaram com horas de diferença, em localizações distintas Reuters/JOSHUA ROBERTS

Não é comum presidentes norte-americanos fazerem declarações ou comentários sobre as escolhas políticas de quem lhes segue na Casa Branca. A tradição é mesmo que se mantenham afastados do comentário político. Mas nas últimas 24 horas, Obama e o republicano George W. Bush, ambos, em sítios e momentos diferentes, lançaram-se em comentários. Sem nunca nomear Trump. Mas era óbvio que o actual Presidente é o destinatário de algumas das mensagens.

Quando passou o testemunho a Donald Trump na sucessão da presidência norte-americana, Barack Obama anunciou que se iria afastar temporariamente da vida pública, dando assim espaço ao novo Presidente. Porém, as tentativas de extinção do programa de saúde baptizado como Obamacare, o decreto anti-imigração muçulmana e a saída do Acordo de Paris levaram Obama, a interromper o silêncio e a participar na campanha das eleições intercalares, apoiando candidatos democratas. 

Em Nova Jersey e na Virgínia, Barack Obama, fez um discurso sem nomes nem referências a Trump. Apelou à rejeição de “políticas que causem a divisão” da sociedade norte-americana e que estão a corroer a democracia do país.

O mesmo fez o seu antecessor, George W. Bush, num discurso em Nova Iorque, no instituto que leva o seu nome, sobre nacionalismo, imigração e a interferência russa nas eleições de 2016, com poucas horas de diferença de Obama.

"A intimidação e a discriminação determinam um certo tom nacional na nossa vida pública, autorizam a crueldade e o preconceito, e comprometem a educação moral das crianças. A única forma de transmitir valores cívicos é viver de acordo com eles", afirmou o ex-Presidente Bush.

“Terão reparado que não tenho feito muitos comentários à política nos últimos tempos”, começou Obama, dirigindo-se ao que o Guardian descreve como uma plateia "muito mais diversa" do que aquela que habitualmente acompanha Trump.

“Em vez de as nossas políticas reflectirem os nossos valores, temos políticas a infectar as nossas comunidades”, apontou. “Em vez de procurarmos maneiras de trabalharmos juntos, temos pessoas que estão deliberadamente a aborrecer e a provocar terceiros e a demonizar pessoas que têm ideias diferentes, para destruir a sua base porque isso lhes fornece uma vantagem técnica a curto prazo”, prosseguiu, durante um comício de apoio ao candidato democrata Ralph Northam, em Newark, que está na corrida ao cargo de governador (a eleição é a 7 de Novembro).

“Não podemos ter as mesmas velhas políticas de divisão que existiam há séculos. Pensávamos que algumas das políticas que vemos agora tinham sido deixadas para trás. Estamos a olhar 50 anos para trás. Este é o século XXI e não o século XIX”, destacou Barack Obama.

"A questão que agora se impõe, é, se numa altura em que parecemos tão divididos, zangados e desagradáveis, se podemos transformar esse espírito, se podemos apoiar alguém que queira unir as pessoas", questionou antes de uma breve pausa. "Sim, podemos", respondeu, recuperando o slogan da sua campanha presidencial em 2008 (Yes, we can!), que o auditório aplaudiu com entusiasmo.

Até o republicano Bush fez questão de aludir aos efeitos nefastos de políticas e decisões de Trump, sem nunca se referir ao actual inquilino da Casa Branca.

"A intolerância parece estar a ser incentivada e a nossa política parece mais vulnerável a teorias da conspiração e a totais fabricações. Há sinais de que a intensidade do apoio à democracia em si diminuiu, especialmente entre os jovens. O discurso tem estado a ser degradado por crueldade gratuita. Há momentos em que parece que as forças que nos separam são mais fortes que aquelas que nos unem. O nacionalismo distorcido sob a forma nativismo fez-nos esquecer o dinamismo que a imigração sempre trouxe aos EUA", vincou George W. Bush durante uma conferência sobre "Liberdade, Mercados Livres e Segurança" .

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