“Sabia o suficiente para fazer mais do que fiz”, admite Tarantino sobre Weinstein

Ainda que pensasse que eram casos isolados, Tarantino admite que se sente envergonhado por não ter denunciado o influente produtor de Hollywood, de quem era muito próximo.

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“Tudo o que eu disser agora vai parecer uma desculpa esfarrapada”, admitiu o realizador REUTERS/Luke MacGregor

"Eu sabia o suficiente para fazer mais do que fiz”, admitiu nesta quinta-feira o cineasta Quentin Tarantino sobre o seu amigo de longa data Harvey Weinstein, que viu a sua carreira e vida pública desmoronar após as repetidas e crescentes acusações de assédio sexual e violação de que foi alvo nas últimas semanas. Tarantino referiu que sabia há décadas de algumas das atitudes do influente produtor de Hollywood e confessa que se sente envergonhado por não ter feito algo mais cedo.

“Eu sabia que ele tinha feito algumas destas coisas”, diz Tarantino numa entrevista ao New York Times, admitindo que tinha noção de que eram mais do que “simples rumores” e que deveria ter tomado uma posição firme. “Quem me dera ter sido mais responsável em relação àquilo que ouvi”, resumiu. O realizador de Pulp Fiction ou Cães Danados disse que a actriz Mira Sorvino, com quem teve uma relação amorosa, lhe contou das investidas indesejadas de Weinstein – Tarantino também sabia de pelo menos dois outros casos.

“Tudo o que eu disser agora vai parecer uma desculpa esfarrapada”, reconhece o cineasta, justificando que pensava que se tratava de casos isolados.

"Toda a gente próxima do Harvey já tinha ouvido de pelo menos um ou dois destes incidentes”, afirma Quentin Tarantino, admitindo, porém, que ficou chocado com a gravidade de algumas das acusações, sobretudo as de violação. Apesar da relação próxima com o produtor, Tarantino condenou as suas atitudes e admitiu ainda que deve haver uma mudança no tratamento dado às mulheres na indústria cinematográfica de Hollywood.

Tarantino, um dos nomes mais associados a Harvey Weinstein, já tinha partilhado na semana passada uma mensagem através da conta de Twitter da actriz e realizadora Amber Tamblyn, em que admitia estar “de coração partido” sobre o que se veio a saber sobre o seu amigo há mais de 25 anos: “Preciso de mais uns dias para processar a minha dor, emoções, raiva e memória e depois falarei publicamente sobre isso”. E falou.

Depois das crescentes acusações de violação e assédio sexual, Harvey Weinstein caiu em desgraça. O seu irmão e sócio, Bob Weinstein, disse que esperava que o seu irmão “doente e depravado” tenha “a justiça que merece”. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, responsável pela atribuição dos Óscares, decidiu expulsar o produtor, numa decisão sem precedentes na academia. Weinstein desmentiu algumas acusações e disse estar arrependido de alguns dos seus comportamentos, mas as suas séries para a Apple e para a Amazon foram canceladas e acabou também por ser despedido da produtora que fundou com o irmão; as autoridades estão a investigar as acusações de que é alvo.

O desmoronamento da carreira de Weinstein começou a 5 de Outubro, quando o New York Times lançou a primeira parte de uma investigação sobre as acusações de assédio sexual contra o produtor. Dias depois, a revista New Yorker acrescentou novas informações e dezenas de actrizes e figuras públicas mostraram a cara e acusaram Weinstein de assédio, agressão sexual e violação. Nomes como Ashley Judd, Asia Argento, Gwyneth Paltrow e Angelina Jolie deram o seu testemunho sobre as investidas do produtor e distribuidor da Miramax e da Weinstein Company.

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