Maria Bethânia nos coliseus: “Não parei para olhar para trás”

Maria Bethânia apresenta em Portugal um “show de rua” feliz nascido na Bahia. Sábado e domingo no coliseu de Lisboa, dia 25 no do Porto, sempre às 21h30.

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Maria Bethânia numa das suas apresentações em Portugal PEDRO CUNHA

Dois anos após a memorável apresentação do seu espectáculo Abraçar e Agradecer nos coliseus de Lisboa e Porto, Maria Bethânia está de regresso às mesmas salas com um novo espectáculo, nascido desse. Sábado e domingo em Lisboa, dia 25 no Porto, sempre às 21h30. Ao PÚBLICO, a cantora explica como nasceu aquele que é apresentado pela promoção como Grandes Sucessos:

“Quando eu fiz 50 anos de carreira, convidaram-me para fazer em Santo Amaro da Purificação [da Bahia], na praça pública, para o povo, de graça, o meu espectáculo Abraçar e Agradecer. Como ele é muito teatral, com cenografia muito grande e iluminação muito especial, eu não podia fazer aquele espectáculo. Porque dependia de tudo isso e ali só havia um palanque e um microfone. Então disse que fazia com todo o prazer um espectáculo na rua, para o meu povo, mas com canções que as pessoas conhecem e que gostem de cantar por estarem na rua.” Isso levou-a a repensar o conceito: “Fiz uma edição de momentos desses 50 anos e momentos claramente escolhidos pelo público como sucessos e que não estavam no show dos 50 anos. Fiz e foi muito feliz. E as pessoas gostaram, de tal modo que comecei a ser convidada a fazer em cada cidade do Brasil. Fiz em várias cidades, continuo fazendo e vou fazer até Abril do ano que vem.”

No espectáculo, às canções seleccionadas de Abraçar e Agradecer juntou Bethânia outras como Fera ferida, Olhos nos olhos, Explode coração ou Negue. Além de algumas homenagens, como Frevo n.º 2, celebrando Naná Vasconcelos (1944-2016).“Tem dois momentos de homenagem: um a músicos e a poetas, outro à cidade onde eu estou e às suas expressões artísticas. Porque, como artista, gosto de falar dos que trabalham na mesma área que eu, gosto de reverenciar, homenagear. Isso muda em cada lugar, obviamente.” Sendo distinto do anterior, reflecte também o que ela pensa. “Também me expresso com a minha opinião: sobre religião, política, a situação do Brasil, a nossa vida. É óbvio que são grandes sucessos, mas tem a minha opinião, a minha assinatura.” Além disso, segue como todos os seus espectáculos uma linha dramatúrgica, sem a qual ela não vive. “Chamo show de rua porque as pessoas cantam, são as cantigas que elas escolheram. Mas tem uma linha dramática para eu conseguir realizar o espectáculo, porque eu não sei fazer recital. Eu sou uma intérprete, muito mais que uma cantora, e preciso dessa linha que me conduza.”

No final, há duas canções que interligadas de certo modo reflectem a sua vida. Uma é Começaria tudo outra vez (de Gonzaguinha), outra é Je ne regrette rien [não me arrependo de nada],de Piaf. “Eu assinaria as duas”, diz Maria Bethânia rindo. “Me traduzem muito nitidamente, eu acho.”

Um novo disco em 2018

Tal como já dissera a propósito de Abraçar e Agradecer, Bethânia não cultiva retrospectivas. O seu fito é sempre o amanhã. “Nestes meus 50 anos de carreira, eu não parei para olhar para trás. Queria falar do que é que uma pessoa que faz 50 anos de carreira pensa hoje, do que é que ela sente hoje. Mesmo nesse show de sucessos há novidades, eu não canto da mesma maneira que lá atrás cantei. Eu tenho hoje novas intenções, novos motivos para que essa música esteja ali hoje.”

O seu trabalho mais recente é um single, Era pra ser, da autoria de Adriana Calcanhotto e tema da novela A Lei do Amor, da Rede Globo, gravado com Moreno Veloso e Pedro Sá. Prenúncio de novo disco, já em preparação. “Estamos trabalhando, as duas. A Adriana está em Nova Iorque e acaba de me mandar duas canções novas, para eu trabalhar. Mas estou também a trabalhar com Chico César e com outros autores da geração mais nova. Já estou levantando o repertório mas só vou entrar em estúdio no ano que vem. Haverá em 2018 um disco novo e um show do disco.”

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