Lupita Nyong’o escreve carta onde revela como foi assediada por Weinstein

A actriz queniana conta que se sentiu sozinha quando tudo aconteceu e confessa ter-se sentido culpada.

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Reuters/DYLAN MARTINEZ

Chegou a vez de Lupita Nyong’o contar a sua história. Desta vez, o assédio e as agressões sexuais também envolvem Harvey Weinstein, o produtor cinematográfico. A actriz de origem queniana, numa longa carta ao New York Times, conta que tinha arquivado o caso na sua mente, mas que arrepende-se de o ter feito. “Juntei-me à conspiração do silêncio, o que permitiu que este predador continuasse a fazê-lo por tantos anos.”

A actriz queniana confessa que agora que o assunto se tornou público, não tem conseguido evitar que as memórias surjam novamente. Conta que sentiu raiva ao perceber que toda aquela experiência não tinha acontecido só com ela e “por fazer parte de um padrão sinistro de comportamento”.

Lupita conheceu Harvey Weinstein em 2011, numa cerimónia em Berlim, e Weinstein foi-lhe apresentado como "o produtor mais poderoso de Hollywood". Então, ainda estudava na Yale School of Drama, estava no início de carreira. Neste primeiro encontro, Lupita achou Weinstein uma pessoa directa e autoritária, mas charmosa. “Ele não me deixou muito à vontade, mas também não me alarmou."

Depois disso, a actriz foi convidada para ver um filme em casa do produtor, juntamente com a família daquele. Antes disso, tinham um almoço combinado e Weinstein insistiu que bebesse vodka, quando Lupita queria apenas um sumo. Acabou por beber água, apesar das insistências de Weinstein. “Neste segundo encontro senti que ele era agressivo e impróprio”, confessa.

Quando chegou a casa do produtor, a actriz foi apresentada à família e aos empregados. Quinze minutos depois, Weinstein disse-lhe que queria mostrar-lhe uma coisa e ele foi autoritário como se estivesse a falar com um dos filhos, relembra. “Pela primeira vez, desde que o conheci, senti-me insegura. Entrei em pânico”, diz, ao lembrar-se que Harvey a levou até ao seu quarto para fazer-lhe uma massagem. “No início, achei que ele estava a brincar”. Mas não, por isso, a jovem propôs-lhe ser ela a fazer a massagem, de maneira a tomar o controlo da situação, mas pouco depois, Weinstein disse-lhe que queria tirar as calças. Apesar da insistência de Lupita para que não o fizesse, o homem acabou por fazê-lo. “Eu dirigi-me para a porta do quarto e disse-lhe que se não fôssemos assistir ao filme, eu deveria voltar para a escola" onde então estudava.

Hoje, a actriz avalia que todas as pessoas que estavam em casa se encontravam a ver o filme numa sala à prova de som, propositadamente. Depois do incidente, relembra: “Não sabia como proceder sem comprometer o meu futuro. Mas eu sabia que não aceitaria mais visitas a espaços privados com Harvey Weinstein.”

Lupita decidiu convidar o produtor para a ver numa exibição na escola, mas ele não compareceu. Contudo, convidou-a para um outro evento e a actriz aceitou e voltou a receber um convite despropositado: "Vamos directos ao ponto. Tenho um quarto privado lá em cima, onde podemos comer o resto da nossa refeição” Depois da queniana insistir em ficar no restaurante, Weinsteinacrescentou que se ela queria ser actriz, tinha de estar disposta a fazer esse tipo de coisas”, contando-lhe que já tinha estado com as "actrizes x e y".

A actriz recusou-se e acabou por sair do restaurante cheia de medo não só de Weinstein mas também do futuro da sua carreira, conta. Antes de se despedir, o produtor disse-lhe: "Tu vais ficar bem." Lupita ficou sem perceber se se tratava de uma ameaça ou se estava a dar-lhe confiança.

Os dois voltaram a encontrar-se em 2013, na estreia de 12 anos escravo, o filme que deu um Óscar à jovem actriz. Nessa altura, Weinstein felicitou-a, pediu-lhe desculpa e prometeu respeitá-la e seguir em frente. Lupita prometeu a si mesma nunca trabalhar com ele.

Na sua carta, a actriz explica que só está a partilhar tudo isto agora – depois de ser conhecido o escândalo – por não saber que fazia parte de uma comunidade crescente de mulheres que estavam a lidar secretamente com o assédio de Harvey Weinstein. “O que realmente me importa agora é combater a vergonha que passamos e que nos mantém isoladas e permite que o mal continue a ser feito.”

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