Quer ajudar e não sabe como? A Constança ajuda e o Mário mostra onde

Por estes dias, Constança tem sido responsável pela recolha de alimentos e bens pessoais para as vítimas. Já Mário continua um projecto que lançou depois de Pedrógão Grande e mostra onde são os pontos de recolha no país.

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Várias coorporações de bombeiros estão a aceitar donativos LUSA/PAULO CUNHA

Este domingo, já depois de Pedrógão Grande, o pesadelo repetiu-se e a violência dos incêndios voltou a causar vítimas. O balanço mais recente da Protecção Civil conta 43 mortos, mas é expectável que o número continue a aumentar. Os pedidos de ajuda chegam, principalmente, pela voz de corporações de bombeiros, não só no momento de resposta e combate às chamas, mas também nos dias que se seguem à tragédia, sendo os bombeiros que muitas vezes assumem a responsabilidade da distribuição dos bens recolhidos para as populações afectadas. A dúvida é, muitas vezes, perceber como, quem e onde ajudar. A pensar nisso, Mário Santos criou um site que divulga quais os pontos de recolha de bens activos no país.

Com apenas 20 anos, o estudante de engenharia informática decidiu criar o site Longe Mas Juntos para que qualquer pessoa possa consultar quais as corporações de bombeiros que estavam a recolher donativos. “A ideia surgiu na altura dos incêndios de Pedrógão Grande”, conta Mário Santos, natural de Ourém. Não conhecia ninguém, mas foi movido pela onda de solidariedade que de Norte a Sul do país uniu esforços para ajudar as vítimas de um dos mais devastadores incêndios florestais, a nível de perdas humanas, de que há memória. Às 64 vítimas mortais e dezenas de feridos, juntou-se um cenário de devastação de habitações, bens alimentares, edifícios e bens pessoais. A ajuda era urgente e por isso, a resposta multiplicou-se ao longo de todo o país, mas muitos não sabiam aonde se dirigir. Para resolver esse problema, Mário começou a recolher informação sobre os quartéis de bombeiros que estavam a pedir ajuda.

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Imagem recolhida no site Longe Mas Juntos

A ideia funciona de forma simples: quem souber de locais onde estão a ser recolhidos donativos submete a informação no site e aguarda que seja validade e divulgada. Desta forma, todos podem consultar a sua zona de residência e perceber onde se podem dirigir.

Aquilo que cada um pode doar aparece especificado em cada marcador no mapa, em relação ao quartel em questão, mas existe uma lista generalizada de bens como água, sumos, bolachas ou barras energéticas como sugestão. Tudo em pequenas embalagens, para facilitar a distribuição. Depois os enlatados, massas, arroz e produtos não perecíveis.

“Tento sempre confirmar em várias fontes as informações que submetem. Vejo nas páginas de Facebook dos bombeiros em questão, confirmo as coordenadas e a veracidade dos dados que inserem”, explica.

Esta quinta-feira, por exemplo, era a zona do Centro do país que mais pedidos concentrava, divididos entre corporações de bombeiros e pontos de recolha determinados pelas autarquias, como centros de saúde, centros paroquiais e pavilhões desportivos, por exemplo. “A opção de adicionar pontos para além das corporações de bombeiros foi uma coisa que só criei esta semana, depois dos incêndios do último fim-de-semana”, detalha. “Percebi que desta vez, como as ocorrências foram em vários pontos do país, que existiam mais pontos de recolha para além de bombeiros”.

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Imagem recolhida do site Longe Mas Juntos

É Mário quem acaba por introduzir a maior parte da informação disponível, uma tarefa que iniciou sozinho, mas que divide agora com a namorada. E os resultados? “Se puser alguém a ir a um sítio entregar um quilo de arroz já valeu a pena”, responde.

E são muitos os sacos de arroz que Constança Castello-Branco, de 24 anos, tem recolhido. Em Lisboa, quando começou a perceber a dimensão dos incêndios no último domingo e depois de confirmar que familiares e amigos nas zonas afectadas pelas chamas estavam em segurança Constança, carinhosamente tratada como Coca entre os amigos, decidiu recolher alguns bens para entregar na corporação de bombeiros de Algés, em Oeiras.

Falámos com Constança já ao final do dia, num dos momentos livres que tem entre recolhas. “O meu dia-a-dia agora depois do trabalho até à 1h é organizar as recolhas”, conta em conversa com o PÚBLICO. É que, se for preciso, Constança disponibiliza-se para se deslocar a casa de amigos e interessados em fazer donativos e vai buscá-los. “Tento coordenar o trajecto com mais do que uma casa e aproveito a mesma viagem”, conta. “Muitas vezes as pessoas têm tendência a conformar-se e a não sair do sofá. Ou fica na rota delas ou infelizmente não dão.”

Quem quiser ajudar pode fazê-lo entregando os “donativos alimentares no Palácio Flor da Murta, em Paço de Arcos, até ao final da semana das 10h às 18h”, uma solução que Constança encontrou face ao volume de recolhas que a iniciativa começou a conquistar.

Constança reconhece que “às vezes as pessoas perdem a confiança”, especialmente, depois dos problemas com a distribuição dos fundos recolhidos para Pedrógão Grande e sublinha que foi isso que a levou a escolher os bombeiros de Algés que irão às zonas afectadas já este fim-de-semana, mas estarão a aceitar donativos, pelo menos, até ao final do mês.

A iniciativa está também a ser divulgada pelo humorista Diogo Faro, autor da página Sensivelmente Idiota.

“Tenho recebido mais águas, muitas barras de cereais – que são bastantes práticas, feijão, lentilhas”, enuncia Constança. “Continuam a fazer muita falta roupa e produtos de higiene”, prossegue. “Importa destacar que, nesta altura do ano, é importante também que existam casacos para crianças e bebés. Há muitas famílias numerosas afectadas, que têm desde o recém-nascido ao avô. Faltam ainda kits de primeiros socorros, soro fisiológico e compressas.” Roupa de cama, roupa de banho ou calçado também figuram na lista.

Constança considera que estes dois eventos foram “tragédias muito grandes” e funcionaram como “um abre-olhos para muita gente em relação aos cortes no combate aos incêndios, até mesmo no equipamento aos bombeiros”. “Mas se há coisa que me deixa feliz é perceber que há muita gente disposta a ajudar”, conclui.

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