Investigação ao furto de Tancos vira-se para zona onde vivem militares

Depois da descoberta do material de guerra, o raio de acção da investigação da PJ Militar fica mais reduzido.

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LUSA/PAULO NOVAIS

O material de guerra desaparecido em Junho foi recuperado pela Polícia Judiciária Militar (PJM) na Chamusca, numa zona perto de Tancos e dos Paióis de Santa Margarida, no distrito de Santarém, onde vivem muitos militares. É nessa zona que, a partir de agora, vão concentrar-se as atenções dos investigadores da PJM, que nos primeiros meses percorreu vários pontos do país, para realizar inquirições a militares e civis que prestaram serviço ou ainda prestam na base de Tancos.

Segundo fonte militar, a prioridade dada agora a esta linha de investigação num raio de algumas dezenas de quilómetros na zona de Chamusca, a cerca de 20 quilómetros de Tancos, tem uma explicação: quem colocou no terreno (onde depois foram encontradas) caixas de grande dimensão que continham lança granadas, granadas e explosivos, potencialmente letais, não terá percorrido uma longa distância. Fazê-lo seria correr demasiados riscos, acrescenta a mesma fonte.

O material terá sido ali colocado poucos dias antes de ser descoberto, numa operação que teve a colaboração do Núcleo de Investigação Criminal da GNR, por estar em curso nesta região uma investigação conjunta com a PJM.

Vestígios recolhidos estão a ser analisados

Os vestígios recolhidos estão a ser analisados e o Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) e a Polícia Judiciária (PJ) - a quem o Ministério Público (MP) delegou a competência da investigação com a colaboração da PJM -,  serão informados em termos processuais nos próximos dias. Uma reunião entre responsáveis das três entidades realizou-se na quarta-feira à tarde para que essa informação pudesse ser transmitida antes de estarem concluídos os exames laboratoriais.

Segundo notícias publicadas nesta terça-feira, MP e PJ teriam manifestado, de forma informal, desagrado pelo facto de a PJM não os ter informado previamente das diligências que levaram à descoberta do material já de madrugada, pouco tempo depois de uma denúncia anónima por telefone; e também porque o local (onde foi encontrado o material) foi inspeccionado por especialistas da PJM e do Exército.

O PÚBLICO tentou saber junto da Procuradoria-Geral da República (PGR) se a operação teria comprometido a transparência do processo, do ponto de vista do DCIAP, mas sobre isso não recebeu resposta. O gabinete de imprensa da PGR apenas voltou a confirmar que o material foi recuperado e o inquérito prossegue, em segredo de justiça e ainda sem terem sido constituídos arguidos. Também a PJ foi questionada sobre a operação da PJM mas não respondeu.

Pelo seu lado, o porta-voz da PJM, major Vasco Brazão, garantiu: “Os procedimentos foram os correctos para a situação. Os técnicos do Laboratório da Polícia Judiciária Militar têm a competência quer legal quer técnica para fazer a inspecção ao local do crime e a recolha de todos os vestígios no mesmo. A remoção [deste material] obrigaria sempre à intervenção de uma equipa especializada e neste caso foi contactada a equipa do Regimento de Engenharia do Exército [para desactivação de explosivos] que efectuou em segurança o transporte do material para o local designado pelo Exército” – o campo militar de Santa Margarida, no distrito de Santarém.

Foi recebida uma denúncia anónima através do contacto do piquete da PJM mas que apenas referia “granadas” e não estabelecia ligação ao material de guerra desaparecido de Tancos. Depois disso, quando as caixas foram transportadas para dentro de um paiol e a segurança estava devidamente acautelada, foi possível abri-las e identificar o material como sendo o de Tancos. Ao início da manhã, MP e PJ foram informados.

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