UE estende a mão a Theresa May – mas mesmo só um pouco

May vai apresentar “a sua visão sobre o actual estado” das negociações no jantar da cimeira. Vinte e Sete prometem estar prontos a negociar o futuro, mas apenas em Dezembro.

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May foi esta semana a Bruxelas para um jantar de última hora com Juncker FRANCOIS LENOIR/Reuters

Theresa May precisa de ceder, Theresa May não pode ceder. É presa nesta contradição que a primeira-ministra britânica vai fazer em Bruxelas uma derradeira tentativa para convencer os parceiros europeus a acelerarem as negociações do “Brexit”. Porém, os restantes 27 estão disponíveis para pouco mais do que um gesto de boa vontade, prometendo que vão estar preparados para começar a discutir o futuro das relações bilaterais, quando o Reino Unido tiver assumido os compromissos (sobretudo financeiros) que lhe exigem.

Depois de várias reuniões em que foi colocado à margem da agenda, o “Brexit” vai dominar a cimeira desta quinta-feira e sexta-feira em Bruxelas, mas não pelas razões que os dois lados esperavam – após quatro meses de negociações, a UE diz que não foram feitos os “progressos suficientes” sobre os termos da saída britânica para que se possa começar a falar do futuro.

E ninguém espera que as palavras de May, ao jantar desta quinta-feira, sejam suficientes para alterar o veredicto, tal como não foram os telefonemas dos últimos dias com a chanceler alemã, Angela Merkel, e o Presidente francês, Emmanuel Macron, ou a reunião de última hora com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

Segundo o rascunho da declaração que será aprovada na sexta-feira, já com a líder britânica ausente da sala, os 27 comprometem-se apenas a começar “discussões preparatórias internas” – e apenas internas – sobre que aquilo que pretendem de um acordo comercial com o Reino Unido e de um eventual período de transição.

Esses tabalhos terão como prazo a cimeira de Dezembro, quando a UE fizer uma nova avaliação dos progressos que forem feitos até lá. “O Conselho Europeu desta semana será um passo em direcção ao próximo encontro”, disse Michel Barnier, o chefe dos negociadores europeus, o mesmo que na semana passada anunciou que as duas partes tinham chegado a um “impasse” na discussão sobre as contribuições britânicas ainda devidas aos cofres europeus.

“Todo este disparate sobre ‘progressos suficientes’ não é mais do que uma cortina de fumo para esconder a tentativa descarada de nos forçar a aceitar uma grande quantia a troco de nada”, escreveu o ex-ministro conservador Ian Duncan Smith, um dos pesos-pesados da ala mais eurocéptica do partido que nas últimas semanas tem pressionado o Governo a acelerar os planos para uma eventual saída sem acordo da UE, mostrando que o país fala a sério quando diz não aceitará um mau acordo.

Londres insiste que a primeira-ministra não pode ir mais longe do que foi no discurso do mês passado em Florença – uma intervenção que Bruxelas reconhece ter ajudado a melhorar o clima das negociações – sem que Bruxelas aceite, em contrapartida, começar a discutir um acordo comercial. E, se isso não acontecer, avisa, o colapso das negociações torna-se mais provável.

“Ela precisa de mais margem de manobra e eles têm de ajudar a criá-la”, disse ao site Politico uma fonte de Downing Street. Os europeus respondem que em causa estão compromissos assumidos no passado e não o preço de um acordo comercial. “Queremos o nosso dinheiro de volta, como disse a senhora Thatcher há 30 anos”, afirmou o presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, classificando de “ninharia” os 20 mil milhões que May já assumiu que irá pagar.

Pior do que isso, mesmo os países que lhe são mais próximos dizem que Londres não se tem revelado até agora um parceiro fiável. “Tem sido muito difícil para nós europeus perceber exactamente aquilo que o Reino Unido quer da nova relação com a UE”, disse à BBC o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar. Dúvidas que May está obrigada a desfazer já esta quinta-feira.

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