Motor de busca para profissionais de saúde ganha prémio de inovação europeu

Disqover é utilizado por médicos e investigadores para descobrir tratamentos e investigações emergentes.

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Hans Constandt criou o Disqover para simplificar a investigação de informação médica EIT EU
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O objectivo do Disqover é é simplificar a investigação médica Reuters/CHINA STRINGER NETWORK

A missão de Hans Constandt – um empresário belga que está entre os vencedores dos prémios deste ano do Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia (EIT) – é criar um motor de busca capaz de organizar toda a informação disponível, de forma interconectada, organizada em gráficos precisos, e de dar respostas sobre o contexto exacto em que uma palavra-chave ou pergunta foi inserida. 

“Ter muita informação disponível em formato aberto não serve de nada, se as pessoas não a conseguirem encontrar e utilizar”, diz Constandt ao PÚBLICO, durante o fórum de inovação da EIT, em Budapeste, na Hungria.

Desde 2013 que a Ontoforce – a empresa de integração e visualização de dados de Constandt – utiliza o conceito para a área da saúde com o Disqover. “Quando descobri que o meu filho de seis anos tinha um problema de aprendizagem, não encontrei informação disponível e organizada”, explica Constandt. Nem o passado como estudante de medicina (não acabou o curso), nem o trabalho como cientista de dados, o ajudaram a navegar pela informação disponível. Por exemplo, grande parte do conteúdo utilizava terminologia diferente para coisas semelhantes (sem explicar que eram sinónimos). Para resolver o problema, Constandt fez uma pausa do emprego e decidiu dedicar-se a tempo inteiro à criação de uma ferramenta que convertesse informação, estudos e testes médicos em dados interconectados entre si.

Hoje, o Disqover é utilizado por médicos e investigadores de empresas de farmacêutica e biotecnologia para descobrir tratamentos e investigações emergentes. A informação é agregada de fontes privadas e públicas. Ao pesquisar sobre aspirina, por exemplo, a plataforma dá acesso a um mapa onde se pode pesquisar estudos por região geográfica e, em dois cliques, é possível ter acesso a 98 estudos de Portugal. É possível ver os vários institutos a realizar estudos clínicos sobre o tema, as empresas que os financiam, os médicos de cada instituto e outros projectos em que estejam a trabalhar. O objectivo é simplificar a investigação médica.

“Queremos mostrar que podemos promover a descoberta de novos medicamentos em 30% a 40% só porque organizamos melhor a informação. E que podemos fazer o mesmo para outras indústrias”, avança Constandt.

A interface baseia-se em jogos para crianças, sendo criada pela Little Miss Robot, a equipa de design belga que desenha as aplicações dos jogos preferidos dos filhos de Constandt. Grande parte do sistema, porém, assenta no trabalho da Ontoforce para estruturar informação que está num formato difícil de ler em dados estruturados.

“O nosso modelo de negócio, por exemplo é oferecer, em formato aberto, informação aberta com mais de um ano, mas depois se alguém quiser algo mais recente, ‘mais fresco’, paga-se.” Ao dar acesso a uma percentagem de utilizadores que quer acesso a informação específica, a Disqover recebe uma percentagem do dinheiro. No futuro, Constandt vê as pessoas a terem o controlo dos seus próprios dados, incluindo os de saúde, e até poderem escolher inserir a informação registada através de wearables (aparelhos como relógios inteligentes) para que médicos de todo o mundo possam ter acesso.

“Sou muito fã de criar dados sob pseudónimos. São anónimos para quem os encontrar, mas contrariamente à informação completamente anonimizada, há uma espécie de chave que permite ao médico ou à indústria farmacêutica contactar a pessoa, sem saber quem é, e esta pode decidir se quer ser entrevistada e revelar a sua identidade”, diz Constandt.

“As pessoas estão mais disponíveis para partilharem os seus dados médicos se tiverem controlo”, diz Constandt. Segundo dados do Eurobarómetro de 2017, sete em 10 inquiridos (70%) estavam disponíveis a dar informação de saúde e bem-estar a outros, em particular (65%) aos seus médicos ou profissionais de saúde. “A segurança é uma preocupação, claro. Por enquanto apenas trabalhamos com informação em código aberto, mas no futuro se envolvermos outros dados a chave é ser transparente, ter auditores, e criar parcerias com as pessoas certas", diz Constandt.

O empresário quer levar o modelo para fora da área da saúde. Depois dos 50 mil euros ganhos no prémio de inovação do Instituto Europeu para a Ciência e Tecnologia, Constandt está a olhar para os Estados Unidos. "São mais rápidos a tomar decisões, arriscam mais. Na Bélgica e na Europa é mais difícil encontrar pessoas disponíveis a arriscar."

O PÚBLICO viajou a convite da Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia

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