Outra vez?

Hoje ninguém confia na capacidade da ministra da Administração Interna de fazer as coisas bem. Olha-se para ela e só se vê fragilidade e incapacidade. Ela é uma emanação da nossa Protecção Civil, do nosso passado pouco clarividente, das nossas incapacidades colectivas, do nosso desnorte.

A ministra da Administração Interna neste momento é uma clara liability para o Governo. Aquela que foi uma quarta ou quinta escolha para o cargo, quando sair, e será necessariamente em breve, deixará apenas duas marcas na sua área de governação, infelizmente bem notórias: o caos e a indisciplina no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, desde passageiros suspeitos fugidos literalmente das mãos dos seus agentes a recusas em aplicar as leis da República; e pelo menos 100 mortes devidas aos fogos – estes talvez inevitáveis -, mas devidas também às diversas causas que os relatórios evidenciam e que nasceram de opções políticas e de decisões administrativas ou da falta delas, seguramente mais evitáveis.

Pode até ser de uma grande injustiça no plano pessoal, mas hoje ninguém confia na sua capacidade de fazer as coisas bem. Olha-se para ela e só se vê fragilidade e incapacidade. Ela é uma emanação da nossa Protecção Civil, do nosso passado pouco clarividente, das nossas incapacidades colectivas, do nosso desnorte. E precisa-se de quem saiba o que fazer e seja capaz de emprestar liderança, confiança e determinação às tarefas e às decisões daqui por diante.

Quem é capaz de invocar as suas férias não gozadas neste ano em pleno combate a incêndios com, outra vez, dezenas de vítimas mortais (tema que no ano passado, aliás, a ministra fez questão de epigrafar devidamente, sabe-se lá porquê, nas revistas cor-de-rosa também durante a época de fogos), está manifestamente numa situação de desespero pessoal. Já nem se trata de uma esperança do assumir de qualquer responsabilidade política. É só misericórdia e pena. E o primeiro-ministro deveria resolver isso rapidamente. Alguém no seu perfeito juízo acha que em tempo de paz um responsável com 100 mortos nestas circunstâncias na sua área de governação, num Estado de direito democrático, pode continuar em funções, após as conclusões que já se conhecem das investigações? E o mesmo se aplica à cadeia subsequente de responsáveis.

Seria bom também que se compreendesse qual o fundamento de algumas opções. Num fim-de-semana de condições meteorológicas especialmente adversas, conhecidas com grande antecipação, como é possível nada fazer perante a diminuição dos meios de vigilância e combate disponíveis? Como é possível não preparar devidamente as populações para o que se avizinhava? Um Estado, note-se, que gasta milhões anualmente com um serviço público de televisão e de rádio e que adora vangloriar-se de todos os seus gadgets tecnológicos. Conseguiu-se mais 54 mil hectares ardidos e subir à centena o número de vítimas mortais.

Mas os políticos que assumiram funções nos dois Governos anteriores, do PSD e do CDS, têm de ter um especial cuidado quando falam neste tema. Porventura acharão que não têm responsabilidades no que diz respeito ao abandono e má gestão da floresta, à actual incapacidade dos proprietários cuidarem do que é seu, à política de prevenção e de fiscalização abastardada que promoveram, à falta de um cadastro pleno e actualizado, ao facilitismo de autarcas e autarquias?

Há muitas responsabilidades a serem partilhadas por muita gente. Mas agora também é preciso escolher o que fazer e quem é capaz de levantar o país e não simplesmente o apoucar. Destes últimos há sempre em abundância, infelizmente. Os outros são sempre menos.

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