E na rua gritou-se "Acorda Portugal!"

Em frente ao Palácio de Belém, os manifestantes pediram a demissão do Governo, de António Costa a Constança Urbano de Sousa.

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Manifestação em Belém Nuno Ferreira Santos
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Havia a ironia da chuva a cair, depois de tantos incêndios. Volta e meia, as velas apagavam-se. Havia vozes que furavam os intervalos de silêncio na manifestação e que gritavam pelos avós que morreram nas chamas. Havia quem erguesse fotografias, retratos de pais que não conseguiram escapar ao fogo que nestes meses assolou Portugal.

Nesta terça-feira, foram centenas os que saíram à rua, em frente ao Palácio de Belém, para mostrar indignação com a forma como o Governo tem gerido o drama dos incêndios. A polícia não avançava números oficiais, mas à medida que o tempo ia passando, havia cada vez mais chuva e mais pessoas de cartazes na mão. Lia-se: “Vai de férias, MAI”, “Quando o Estado é incapaz de proteger a vida dos cidadãos serve para quê?”, “Sra. ministra, as vítimas dos incêndios também não vão ter férias”. Cantou-se o hino, fez-se um minuto de silêncio pelas vítimas. Gritou-se “não esquecemos”, "acorda Portugal", “vergonha”, “tristeza”, “Costa para a rua”, "demissão". No início, admitia-se que estivessem em Belém mais de 200 pessoas, uma hora depois já se apontava para 600 a mil pessoas. Nos próximos dias estão marcadas mais manifestações e noutros pontos do país.

Este protesto em Belém juntou dois grupos com organizações diferentes, embora ambos tivessem sido criados no Facebook. Um dizia-se apartidário, outro era organizado por apoiantes próximos do ex-ministro social-democrata Passos Coelho. Querem dar voz à indignação. Em Espanha, os incêndios também levaram milhares à rua em protesto.

Um dos organizadores, da manifestação “civil e apartidária”, Nuno Pereira da Cruz, garante que o objectivo “não é pedir a demissão de ninguém, mas demonstrar indignação por terem morrido mais de cem pessoas” nestes quatro meses, com os fogos. Diz estar “chocado” porque a “desgraça” voltou a acontecer depois do incêndio de Pedrógão Grande. E não gostou de ouvir as palavras que o primeiro-ministro dirigiu ao país na segunda-feira, não lhe pareceu que tivesse assumido as devidas responsabilidades. “Temos de sair à rua”, pensou.

Já Paulo Gorjão, apoiante próximo de Passos Coelho e organizador do outro protesto, defende que “a ministra tem de ir à sua vida”. Entende que está “descredibilizada” e que o que está a acontecer é “inadmissível”.

Nelson Silva concorda: para este piloto de aviões de 42 anos, a ministra não tem condições para continuar no cargo. “Em último caso, o próprio António Costa devia dar a cara e assumir a responsabilidade”, diz. Para Luísa Ferreira, 54 anos, podia cair “o Governo inteiro”.

Também houve quem levasse histórias de perdas para aquele jardim. Dois irmãos com fotografias dos pais e dos avós que morreram em Pedrógão Grande, serenos na sua dor, pediam a demissão da ministra e defendiam que os relatórios entretanto conhecidos fossem tidos em conta e tomadas medidas. Um neto de 27 anos, que também perdeu os avós numa aldeia de Santa Comba Dão no domingo, garantia que ia fazer tudo o que estivesse ao seu alcance, “levar isto até às últimas consequências” para não deixar passar em branco a tragédia. Não se percebe bem se essas últimas consequências se ficam pelo pedido de demissões de governantes, mas percebe-se bem que a revolta lhe tomou conta da voz.

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