Governo reforça meios aéreos até ao final de Outubro

Primeiro-ministro assume que "concorreu tudo" para que a tragédia fosse pior. Protecção Civil diz ter havido falta de meios aéreos para combater incêndios no domingo.

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António Costa reuniu-se com autarcas dos concelhos afectados pelos incêndios de 15 de Outubro LUSA/PAULO NOVAIS

O primeiro-ministro declarou esta terça-feira em Coimbra que vai haver um reforço de meios aéreos para o combate aos incêndios até ao fim de Outubro. Na conversa com os jornalistas, António Costa admitiu que "concorreu tudo" para que a tragédia destes dois últimos dias fosse pior.

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O primeiro-ministro declarou esta terça-feira em Coimbra que vai haver um reforço de meios aéreos para o combate aos incêndios até ao fim de Outubro. Na conversa com os jornalistas, António Costa admitiu que "concorreu tudo" para que a tragédia destes dois últimos dias fosse pior.

“Ordenei que se pudesse reforçar os meios aéreos, contratar mais cinco meios aéreos a que acrescem os dois do mecanismo europeu de protecção civil”, disse António Costa à saída do centro hospitalar de Coimbra, onde visitou feridos vítimas dos incêndios que tomaram conta do país no último domingo e mataram 37 pessoas. “Pelo menos até ao fim de Outubro, tendo em conta as previsões meteorológicas que dizem que vamos continuar a ter condições adversas.” Não é certo ainda se estes meios de que fala o primeiro-ministro acrescem aos 18 que estão disponíveis nestes dias ou se há uma reformulação dos meios.

A falta de meios aéreos foi sentida durante o combate às mais de 500 ocorrências que deflagraram principalmente no Centro e no Norte do país, de acordo com a Autoridade Nacional da Protecção Civil (ANPC). "Obviamente que neste momento e sobretudo durante o dia 15 de Outubro teria sido benéfico ter mais meios aéreos", reconheceu a adjunta de operações nacional da ANPC, Patrícia Gaspar, numa conferência de imprensa esta terça-feira. "Aquilo que estava ao nosso alcance foi feito", adiantou. "No dia 15 de Outubro, tínhamos 18 meios aéreos. É óbvio que teria feito falta mais meios aéreos, teriam sido uma vantagem importante. Trabalhámos e tentámos gerir o melhor que podíamos com os meios que estavam disponíveis."

Em Coimbra, António Costa explicou que desde o início do mês os meios aéreos de combate aos incêndios diminuíram. “Não há dúvida nenhuma que a partir de 1 de Outubro foram reduzidos meios aéreos que estavam disponíveis”, referiu. Esta mudança faz parte da passagem da fase Charlie para a fase Delta, definida antes do início da época de incêndios mas que pode ser alterada ao longo do ano por decisão governamental.

Contudo, tal como escreveu o PÚBLICO na edição desta terça-feira, além da diminuição que decorre da mudança de fase da época de incêndios, vários dos contratos de meios aéreos terminaram no início do ano, fazendo com que 29 meios aéreos deixassem de poder ser utilizados.

Além dos meios aéreos, Costa admitiu ainda que houve vários factores que ajudaram a que a tragédia fosse pior. Quando questionado sobre se a mudança na estrutura da Autoridade Nacional de Protecção Civil "concorreu" para o que aconteceu, Costa respondeu: "Concorreu tudo. Os relatórios são claros nessa matéria. Mas o que temos são sobetudo problemas estruturais. Em catástrofes desta dimensão, tudo contribui". Esta é uma das questões levantadas pelo estudo do professor Domingos Xavier Viegas, que refere que as nomeações para a ANPC terminaram tarde e deveriam ter em conta a experiência para os cargos de comandantes distritais e nacionais. No início do ano o Governo mudou mais de metade da estrutura operacional na ANPC.

Para António Costa, o trabalho em relação à tragédia de domingo não terminou. “O trabalho não acabou com as chamas apagadas, o trabalho continua”, disse o primeiro-ministro, que vai reunir ainda esta terça-feira com os presidentes das câmaras da Lousã e de Oliveira do Hospital, dois concelhos muito fustigados pelos incêndios.

“Temos de cuidar dos feridos, recuperar os territórios, como temos estado a fazer em Pedrógão Grande”, acrescentou, numa referência ao incêndio de 17 de Junho que matou 65 pessoas. “Vamos fazer um levantamento dos danos e as respostas concretas que temos de dar”, disse. Além do apoio da Segurança Social às populações, António Costa referiu que será preciso desbloquear fundos para ajudar na construção civil e recuperar a agricultura.

O primeiro-ministro lembrou ainda que sábado haverá uma reunião do Conselho de Ministros para se discutir as novas políticas para combate aos incêndios. “Vamos no próximo sábado reunir em Conselho de Ministros onde vamos transformar em medidas o trabalho que foi feito pela comissão técnica [sobre os incêndio de Pedrógão Grande]”, disse, assumindo que “mais do que problemas conjunturais temos um problema estrutural”. Já na declaração ao país, o chefe do Governo garantiu que ia promover uma reforma da protecção civil tal como proposta pelos peritos.

Sobre a razão de estar em Coimbra, Costa disse que, “em particular nestes dias, quis fazer uma visita neste centro Hospitalar de Coimbra onde estão mais de metade dos feridos instalados”, e onde teve “oportunidade de falar com um deles”. O primeiro-ministro sublinhou que este era um momento de dor e não quis deixar de “louvar o trabalho extraordinário das equipas médicas e de enfermagem aqui (e nos outros hospitais)”.