Daesh derrotado em Raqqa, a cidade que foi a sua capital

Milícias curdas e árabes não esperaram pela declaração de vitória para celebrar aquele que é importante marco no declínio territorial do grupo jihadista.

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Combatentes curdos celebram a conquista de Raqqa RODI SAID/Reuters

As milícias curdas e árabes que os Estados Unidos uniram para lutar contra o Daesh hastearam nesta terça-feira a sua bandeira no estádio de Raqqa, pondo um fim simbólico a quatro meses de cerco e combates para expulsar os jihadistas daquela que consideravam ser a “capital” do seu autoproclamado califado.

Talal Selo, porta-voz das Forças Democráticas Sírias (SDF), anunciou que os combates já tinham terminado, mas disse que a proclamação de vitória iria esperar pela desactivação dos engenhos armadilhados deixados pelos jihadistas nos locais de combate e pelas operações ainda em curso para localizar eventuais bolsas de resistência. Horas mais tarde, um porta-voz militar norte-americano afirmou que os seus aliados no terreno controlavam já 90% da cidade, mas havia suspeitas de que uma centena de militantes ainda estaria entrincheirada noutros pontos.

Mas os combatentes, sobretudo curdos, não esperaram para festejar a vitória nas ruas – a Reuters conta que a bandeira hasteada no estádio e outras espalhadas pela cidade tinham o emblema das Unidades de Protecção Popular (YPG), a maior das milícias curdas da Síria que integram a coligação apoiada pelos EUA na luta contra o Daesh.

Durante a manhã já não houve ataques da aviação norte-americana, mas ao longo de toda a noite e madrugada as SDF enfrentaram os jihadistas entrincheirados no Hospital Nacional, num combate em que terão morrido dezenas de combatentes. O estádio e o hospital eram as últimas posições em poder do Daesh depois de grande parte dos radicais que ainda restavam na cidade terem partido juntamente com as suas famílias, ao abrigo de um acordo negociado com os líderes tribais locais. Para trás ficaram cerca de 300 combatentes, muitos deles estrangeiros, contra quem as SDF lançaram no domingo um assalto final.

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A reconquista de Raqqa – palco de eufóricas paradas dos combatentes do Daesh após as rápidas investidas que no Verão de 2014 lhes permitiram controlar boa parte do nordeste da Síria e Norte do Iraque – é um importante marco no declínio territorial do movimento jihadista, que durante este ano foi obrigado a abandonar vastas extensões nos dois países.

No Iraque, a união de esforços entre, o Exército iraquiano, combatentes curdos e milícias xiitas permitiu à reconquista de Mossul, aquela que era a maior, mais rica e estratégica cidade sob o controlo dos radicais. Na Síria, além da ofensiva vinda de norte e protagonizada pelas SDF (apoiada pelos aviões norte-americanos) os jihadistas deparam-se com os avanços do Exército sírio (apoiado em terra pelas milícias xiitas e do ar pela aviação russa) na região central do país.

Acossados pelos militares sírios em Deir Ezzor, capital da província com o mesmo nome, aos jihadistas restam agora sobretudo as vilas e aldeias no vale ao longo do rio Eufrates, adianta a Reuters.

Mas a população Raqqa pagou um preço caro pelo fim do terror jihadista com que conviveu nos últimos três anos. Grande parte da cidade foi destruída pelos bombardeamentos aéreos e semanas de combates – a ONG Save the Children avisou nesta terça-feira que muitas das 270 mil pessoas que fugiram aos combates terão de passar meses ou mesmo anos nos campos para deslocados antes de poderem regressar a casa. E a presença curda numa cidade maioritariamente árabe é também um assunto sensível, apesar de as SDF garantirem que, mal as operações terminem, vão entregar o controlo de Raqqa a um conselho civil controlado por partidos locais. 

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