A Europa dos contos, mitos e lendas vai passar por todas as bibliotecas dos Açores

O projecto “Conta-me outros contos” estende-se até 2018 e quer promover a cidadania europeia junto dos mais novos. O actor e contador de histórias Valter Peres vai percorrer as nove ilhas para divulgar a tradição oral dos países da União Europeia.

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O lobo é uma presença marcante em muitos contos europeus Diogo Batista

Nos últimos tempos, Valter Peres andou a coleccionar contos de todos os países da União Europeia. Numa espécie de odisseia, que começou na passada quinta-feira, o actor e contador de histórias vai dar a volta às nove ilhas dos Açores, percorrer todas as bibliotecas do arquipélago e outros lugares de interesse para contar alguns dos contos que reuniu a alunos do 2º e 3º ano do primeiro ciclo do ensino básico.

O projecto “Conta-me outros contos” é uma das iniciativas do programa "Cidadania Europeia - A Europa para os Açorianos", dinamizado pelo Governo Regional. Segundo o secretário regional adjunto da Presidência para as Relações Externas, Rui Bettencourt, um dos objectivos primordiais da iniciativa passa por “debater as questões europeias”, ampliar o conhecimento sobre a União Europeia e promover a cidadania europeia, neste caso, junto dos mais novos.

Mas nem sempre os auditórios vão estar reservados aos mais pequenos. Em alguns casos, em sessões intergeracionais, os imaginários recolhidos pelo actor natural da ilha Terceira, vão transportar os mais velhos para os confins da Europa. Guarda no baú “cerca de 70 contos” recolhidos, mas muito dificilmente se vão ouvir histórias de todos os países, até porque caberá ao público seleccionar os Estados-membros dos quais quer ouvir histórias.

"Naturalmente, reconhece Valter Peres, que o processo de recolha foi “um grande desafio”. Algo natural, já que é da opinião que o que vai levar para as sessões são espelho de um continente diverso, com uma larga tradição oral ainda para descobrir. Muitos dos contos, mitos e lendas que o contador de histórias compilou para esta iniciativa ainda não foram contados cá e vão ter agora uma oportunidade de serem ouvidos.

Uma palete de bandeiras

Desde países com um reportório extenso de tradição oral até aqueles de que ainda pouco se sabe, há imaginários diversos e para todos os gostos para serem ouvidos. “Há países onde há uma tradição de florestas, outros onde as histórias envolvem ovelhas ou raposas, e depois há aqueles com vampiros e com dragões. A Europa tem mudado muito e há países que se juntaram há pouco tempo”, explica o contador de histórias.

Na opinião do actor, o que se avizinha é um “projecto de relação cultural fantástico”, bem como uma exelente oportunidade para aproximar a cultura europeia do arquipélago. "Os contos estão associados a pontes, rios e outros locais de determinada cidade. Essa é uma das coisas que mais gosto: levar a cultura e transportar as crianças para esses rios e pontes longínquas", explica. 

É esta "palete de bandeiras" e diversidade que vai tentar levar aos mais pequenos, numa iniciativa que se estende até 2018 – ainda no decorrer deste ano vão ser percorridas as bibliotecas das ilhas do Pico, Terceira, São Miguel e Santa Maria, ficando São Jorge, Faial, Graciosa, Flores e Corvo para o próximo ano. A Biblioteca Municipal da Madalena, na ilha do Pico, foi o palco da primeira etapa da iniciativa.

Já com muitos anos de palco e de histórias contadas, o açor, quando olha para o arquipélago, geograficamente longe dos países cujas histórias vão ser ouvidas, não vê uma população desconectada com a Europa. Os açoreanos “nunca tiveram problemas com o mundo e com outros mundos”, considera. O carácter insular da região só faz com que “quando acontece a ligação, aconteça com força”.

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