"As chamas passavam por cima das casas"

Dois homens ficaram encurralados num armazém e foram apanhados pelas chamas em Vale Maior, em Penacova, Coimbra.

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As chamas chegaram a Vale Maior, uma aldeia dos arredores de Penacova, distrito de Coimbra, entre as 17h e as 18h da tarde de domingo. "Aquilo foi rápido", resume uma moradora que prefere não dar o nome.

Foi ali, num armazém numa das fronteiras entre a aldeia e a floresta, que morreram duas pessoas, duas das primeiras vítimas mortais confirmadas pela Autoridade Nacional da Protecção Civil na contagem que chegaria aos 31, já ao início da tarde desta segunda-feira.

Amélia Silva explica que os dois homens, irmãos, estavam a tentar "salvar as coisas deles" e que estavam a ajudar o pai a colocar bens a salvo. Amélia diz que, por causa da casa da avó - à qual se deslocou - estava perto do local no momento em que chegaram as chamas. "Quando começou não havia água" para enfrentar o que descreve como "um mar de fogo e um autêntico inferno".

"As chamas passavam por cima das casas." Amélia diz que veio a "rastejar" para escapar às chamas e conseguir respirar. "Vi-os quando estávamos com as mangueiras esticadas, mas depois aquilo foi tão de repente que cada um fugiu para seu lado", recorda.

"Não havia bombeiros"

Outro morador, que não quis ser identificado e vive nas imediações do local, conta que ainda "se tentou ir lá, mas não havia bombeiros". Para além de lenha, o terreno inclinado onde está o armazém teria colmeias, mel e cera.

As duas vítimas estariam no armazém e, quando tentaram sair, as chamas cortaram o caminho, onde agora se observam chapas retorcida, madeira carbonizada e mel caramelizado. No local, o que resta indicia a violência das chamas: além do telhado de metal que foi projectado, as paredes de tijolo do armazém racharam com as altas temperaturas. 

"O que você está a ver, aconteceu em 2010", diz o morador enquanto aponta para as encostas negras que rodeiam a aldeia. Mas o incêndio de então não causou vítimas.
Na estrada principal que atravessa Vale Maior, um grupo de moradores junta-se para falar sobre tudo o que se perdeu na noite que passou. Mas o "inferno", como todos lhe chamam, não andou só por ali. As aldeias que se encontram no seguimento do caminho também são assunto.

Cabos, postes, árvores e ramos queimados

Pelo meio da estrada encontram-se cabos, postes, árvores e ramos queimados, elementos que vão contribuindo para uma paisagem desoladora. Chegados a Vale do Conde, logo a seguir a Vale Maior, encontra-se casas, carros e máquinas agrícolas destruídos. Quando o fogo chegou à aldeia, conta Natália Marcelo, de 80 anos, as fagulhas provocaram vários focos de incêndio. Era uma "nuvem que vinha e trazia lume". Nos 80 anos em que viu muitos incêndios este foi diferente, sublinha a octagenária enquanto aponta para um monte de canas retorcidas: são o resultado da "força do fogo". 

O incêndio que fez duas vítimas em Penacova começou neste sábado na Lousã e alastrou-se depois também a Vila Nova de Poiares. Ao início da tarde desta segunda-feira tinha sido dado como circunscrito, mas com reactivações. À agência Lusa, a vereadora da Câmara de Penacova, Fernanda Veiga, disse que o fogo destruiu algumas casas de habitação permanente, fábricas e armazéns.

Além de cultivos, ferramentas e máquinas agrícolas, gado e viaturas, em Vale do Conde, de primeira habitação, só ardeu parte da casa do filho de Natália. O resto eram casas que não estavam ocupadas. Mas a octagenária ainda não consegue fazer um balanço do que perdeu. Emocionada, Natália Marcelo ajeita a máscara respiratória. "Estamos cá. Mas olhe que é duro."

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