Sabe ler os rótulos dos alimentos? 40% dos portugueses não conseguem

Consumidores querem rótulos simples de ler, com cores na frente das embalagens. Estudo pioneiro permite perceber que é muito difícil para os cidadãos interpretar os rótulos. É preciso mudar o sistema, defende especialista da DGS

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A maioria dos portugueses garante que consulta os rótulos dos produtos alimentares e acredita piamente que este cuidado é muito importante no momento da compra. Mas 40% dos inquiridos num estudo pioneiro que hoje vai ser divulgado não compreendem, de facto, a informação nutricional básica que consta nestes rótulos, o que lhes permitiria fazer escolhas alimentares mais saudáveis. O estudo vai ser apresentado no Porto, no  âmbito do Dia Mundial da Alimentação.

Primeiro, vamos olhar para os resultados do inquérito intitulado Atitudes dos Consumidores Face à Rotulagem Alimentar, feito pelo Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM) com a chancela da Organização Mundial de Saúde (OMS): a maior parte dos inquiridos (a amostra é de 1127 consumidores maiores de 18 anos) afirma que lê os rótulos, 42% de forma regular e 17% sempre; apenas 11% admitem que nunca ou quase nunca se dão a esse trabalho, alegando que não precisam porque compram sempre o mesmo tipo de produtos.

Mas, se dois terços dos inquiridos asseguram entender quase toda ou mesmo toda a informação, quando isso é sujeito a avaliação verifica-se que este “elevado nível de compreensão não é real”, concluem os investigadores – que quiseram perceber, através de focus groups (entrevistas com pequenos grupos de consumidores), o efectivo grau de percepção dos consumidores. A conclusão é desanimadora: 40% não conseguiam descodificar a informação nutricional básica. Assim, se os resultados do inquérito dão uma imagem positiva, as suas conclusões têm de ser relativizadas quando comparadas com as obtidas nestes focus groups, sublinham.

“Apenas os consumidores mais preocupados e informados sobre as questões nutricionais referem usar a rotulagem nas suas escolhas alimentares, nomeadamente quando compram produtos pela primeira vez”, concluem os autores do trabalho, que foi realizado a pedido da Direcção-Geral da Saúde (DGS) e teve a colaboração de uma investigadora da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto.

Os resultados não causam grande surpresa aos especialistas. “Da forma que os rótulos estão concebidos, é muito difícil contabilizar no momento da compra a quantidade de sal e outros nutrientes, por exemplo. Este estudo prova que não estamos a conseguir ler os rótulos e que temos que mudar o sistema”, defende o director do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da DGS, Pedro Graça. 

Uma indicação que pode ajudar o consumidor em apuros a movimentar-se nesta selva de números e de informações: o blogue Nutrimento, deste programa da DGS (www.nutrimento.pt), disponibiliza um descodificador de rótulos que o pode auxiliar. Também a associação para a defesa do consumidor Deco pôs recentemente à disposição dos interessados um cartão com cores que ajuda a fazer comparações.

Cores na frente da embalagem

Voltando ao estudo: são os próprios inquiridos que defendem a utilização de cores na frente das embalagens e a harmonização dos formatos para facilitar leituras e possibilitar comparações. Quanto às deficiências identificadas pelos consumidores, que dizem consultar os rótulos no momento da compra sobretudo para perceber qual é o prazo de validade do produto, estas prendem-se com o formato e a falta de informação nutricional na frente da embalagem.

Mas os inquiridos especificaram quais são os principais problemas que dificultam a sua consulta no momento da compra: “Letra demasiado pequena, excesso de informação ou informação demasiado técnica e complexa, e a falta de harmonização e estandardização entre produtos e marcas”.

Ao formato dos rótulos, os investigadores acrescentaram ainda outra importante barreira à falta de compreensão evidenciada no estudo: a baixa literacia da população portuguesa. São as mulheres, os consumidores com qualificações e habilitações mais elevadas e os mais preocupados com as questões nutricionais os que com maior frequência lêem os rótulos. E quem compra os alimentos para o agregado familiar tende a dar mais importância à consulta dos rótulos quando está a adquirir alimentos para crianças, cereais de pequeno-almoço e refeições pré-embaladas, revela ainda o estudo.

O que se percebeu também foi que a maior parte dos inquiridos desconhece os limites diários recomendados do consumo de sal e de açúcar. Quanto ao consumo máximo de sal diário, 25% dos inquiridos não têm qualquer ideia do que é recomendado e curiosamente a maioria (56%) até acredita que é inferior ao defendido pela OMS. Relativamente ao limite diário de açúcar para um adulto, apenas 6% dos inquiridos sabia com rigor qual é. Os limites diários de açúcar para um adulto são de 50 gramas e o máximo de sal diário são 5 gramas.

É preciso, pois, simplificar a legibilidade dos rótulos dos produtos. “A complexificação do processo alimentar não está a ser acompanhada por uma descomplexificação do processo informativo”, lamenta Pedro Graça, que acredita que a apresentação deste estudo pode ajudar a que se avance para um modelo mais simples, eventualmente com cores e harmonizado – porque os produtores e distribuidores em Portugal têm sistemas de rotulagem diversos, dificultando comparações e leituras.

 

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