Associação de vítimas de Pedrógão pede “perdão” por ter sido branda de mais

Grupo formado após o incêndio de Pedrógão, a 17 de Junho, exige “governação eficiente e previdente”.

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Paulo Pimenta

A Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG) exigiu esta segunda-feira uma "governação eficiente e previdente" e pediu desculpa às vítimas dos fogos de domingo por ter sido branda de mais e ter sido incapaz de impedir novas desgraças.

"Precisamos de uma governação eficiente e previdente! Precisamos de Estado!", lê-se numa nota de imprensa enviada à agência Lusa.

A associação diz que os fogos de domingo, que já mataram pelo menos 31 pessoas, fizeram reviver os acontecimentos de 17 de Junho quando, num incêndio com início em Pedrógão Grande, morreram 64 pessoas. A associação pede “perdão às vítimas e familiares das vítimas mortais e feridos! Perdão, por termos sido demasiados brandos, perdão por não termos feito nada mudar ou fazer mudar para que se precavesse novas desgraças sobretudo no que à proteção e socorro dizem respeito desde Pedrógão Grande. Por Portugal continuar a arder, ardendo montes, aldeias, vilas e agora até cidades, apesar dos avisos, das nossas convicções e preocupações reiteradamente feitas às estruturas governativas locais e nacionais".

A associação liderada por Nádia Piazza diz ainda que "basta de descanso" e que é "preciso pulso forte mesmo que venha tarde, tarde demais". E acrescenta, "mas antes existir esse murro na mesa do que aguardarmos pela próxima catástrofe resignados. A história dita que a resignação dos governantes é o primeiro passo para a revolta popular. Não é isso que precisamos", sublinha.
 

Criada após o incêndio de junho em Pedrógão Grande, a associação diz ainda estar em choque e que Portugal vive um "estado de terror". "Já o tínhamos dito! Mas fomos brandos e por isso pedimos perdão. Perdão pela nossa educação e respeito pelas instituições. Perdão pelo nosso respeito pela Democracia e Estado de Direito. Perdão pela nossa incapacidade de fazer tremer as instituições, chamando-as para a razão e mudança imediata. Perdão por não ter, a seguir ao 17 de junho, alterado todo um estado de coisas - o quadro de responsáveis à frente das instituições e respectivos responsáveis políticos de forma a dar um novo fôlego, o mesmo fôlego que nos fez e faz falta agora".

Aquela estrutura pede ainda perdão por não ter sensibilizado as "pessoas para a necessidade de terem cuidado com as suas ações potencialmente perigosas". "Por não termos vindo às rádios e televisões com uma campanha maciça de informação e sensibilização. Por termos subestimado o Outono como subestimaram a Primavera. Por isso tudo, perdão!".

Totalmente disponível para ajudar as novas vítimas dos incêndios em Portugal, a associação recorda ter denunciado todas as falhas agora patentes no relatório da comissão técnica independente (CTI) e que reclamou "acções no terreno, acções de prevenção e autoprotecção".

"E volvidos quatro meses fomos novamente assolados pela tragédia agora a uma escala nacional! Não se podem encarar os incêndios - as catástrofes - com a naturalidade que nos fazem crer. Já perdemos tempo demais desde o dia 17 de Junho. E um documento como o relatório do CTI não pode ser menos importante que qualquer agenda política. E agora vamos ao relatório do Centro de Estudos dos Incêndios Florestais... Entretanto morrem mais 31 portugueses!", lê-se no comunicado.

A associação conclui e diz que se "aguarda um Inverno incerto", acrescentando: "E o risco continuará a ser subvalorizado como até aqui. Primeiro porque é primavera, depois porque é Outono, e se retiram postos de vigia e não se acionam meios de fiscalização e alerta às populações."

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